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'Deus, Pátria, Família': de onde veio o lema fascista usado por Bolsonaro?

Jair Bolsonaro (PL) encerrou o debate com lema do Integralismo, movimento de extrema direita Imagem: Reprodução/Youtube

Gabriel Dias

Colaboração para o UOL

29/08/2022 16h08

O candidato à reeleição para a Presidência da República, Jair Bolsonaro (PL), voltou a usar o slogan "Deus, Pátria, Família", criado pelo fascismo, em suas considerações finais no primeiro debate entre presidenciáveis promovido por UOL, Band, Folha de S. Paulo e TV Cultura na noite deste domingo (28).

A frase é uma versão ampliada do slogan do movimento fascista Ação Integralista Brasileira (AIB), criado na década de 1930.

O lema já foi utilizado outras vezes pelo chefe do Executivo, mas com a inclusão da palavra "liberdade" —que desta vez não foi dita.

O lema do Integralismo "Deus, pátria e família" serve como ponto de partida para se entender as propostas do movimento que ficou conhecido como o fascismo brasileiro.

Deus

A palavra "Deus" indica a influência religiosa cristã dos integralistas, estando a figura divina em primeiro lugar e ocupando o topo da estrutura hierárquica social, como era entendido pelos integralistas, já que era Deus "que dirigia o destino dos povos".

Pátria

A pátria era definida pelos integralistas como "nosso lar". A pretensão era apresentar uma unidade da população brasileira dentro do território, principalmente como uma contraposição à divisão da sociedade em classes. Os integralistas pretendiam alcançar essa unidade através da constituição de um Estado integral, que harmonizasse os diferentes interesses existentes no seio da sociedade.

Família

Por fim, temos a família como a menor unidade de organização social dentro da proposta integralista. A família seria o "início e fim de tudo", a garantia da manutenção da tradição, veiculada por meio dessa forma de organização social.

O que é Integralismo?

O integralismo foi um partido e movimento político surgido no Brasil na década de 1930, influenciado pelos ideais e práticas fascistas que se desenvolveram na Europa após o fim da Primeira Guerra Mundial.

O movimento de extrema-direita foi fundado com o nome de Ação Integralista Brasileira (AIB), em 1932, quando o jornalista Plínio Salgado lançou o Manifesto de Outubro.

Até os dias atuais, é invocada a liderança de Plínio Salgado nas tendências integralistas que existem, como a Frente Integralista Brasileira (FIB) e o Movimento Integralista e Linearista Brasileiro (MIL-B).

O Integralismo pode ser caracterizado como um movimento nacionalista, autoritário, tradicionalista e fundado em preceitos religiosos, cabendo ao Estado manter a unificação integral da sociedade por meio da coerção.

O integralismo brasileiro, definido por Plínio Salgado, possuía os seguintes ideais:

  • cristianismo (católico);
  • unidade nacional;
  • corporativismo;
  • combate ao liberalismo e ao socialismo.

Os integralistas brasileiros usavam símbolos e rituais que os aproximavam dos similares europeus, como o uso do verde na indumentária, a letra grega sigma no logotipo do movimento e a saudação anauê.

Os integralistas cumprimentavam-se com a saudação "anauê", de origem tupi, que significa "você é meu irmão".

Realizavam a saudação de origem romana com o braço direito estendido também utilizado pelos nazistas e fascistas italianos.

Não é a primeira vez que Bolsonaro, ou pessoas de seu círculo de confiança, utilizam símbolos e expressões que os conectam com o integralismo, o fascismo ou o nazismo.

Movimento clandestino

Após o golpe de Estado e a instituição do Estado Novo por Getúlio Vargas, em 1937, os integralistas, assim como outros movimentos políticos brasileiros, tornaram-se clandestinos.

O grupo chegou a arquitetar um levante armado contra o governo Vargas em 11 de maio de 1938, mas fracassou, e seus integrantes foram presos. Esse evento ficou conhecido como o Levante Integralista de 1938 (ou Intentona Integralista).

Plínio Salgado foi exilado e permaneceu em Portugal até 1946. A prisão de Plínio enfraqueceu o movimento que, desde então, mantém-se com menor força e número de militantes.

Em seu retorno para o Brasil, Plínio criou o Partido da Representação Popular (PRP), sendo eleito, em 1958, deputado federal pelo estado do Paraná.

Durante o período da ditadura militar iniciada em 1964, Plínio se associou à ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Desde então, o movimento integralista perdeu força, mas permanece de forma residual até os dias de hoje.

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