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Ex-bolsonarista e aluna de Tebet: Quem é Soraya, que disse 'virar onça'

A senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) - Divulgação
A senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) Imagem: Divulgação

Do UOL, no Rio

29/08/2022 14h43

A senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS) ganhou destaque no debate Band/UOL na noite de ontem ao criticar o machismo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Se hoje está em lado oposto ao de Bolsonaro, há quatro anos Soraya acumulou 373.712 votos com o mote "A senadora do Bolsonaro" em Mato Grosso do Sul. Após a repercussão do debate, o colega de Casa e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), classificou Soraya como "traidora".

Em resposta, a senadora respondeu que se decepcionou com Bolsonaro e com Flávio e afirmou que o senador "ligou aos berros exigindo a retirada da minha assinatura na CPI da Lava Toga". Por fim, Soraya devolveu a alcunha ao 01: "Jamais me curvarei a vocês, TRAIDORES DA PÁTRIA!".

O afastamento de Bolsonaro e Soraya começou durante a CPI da Covid. Na ocasião, a senadora se posicionou de forma incisiva contra os tratamentos ineficazes da doença, na contramão do que outros governistas defendiam nas sessões.

Apesar de Soraya ainda constar como vice-líder do governo no site do Senado, a função já não é exercida na prática devido a essas rusgas.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 18, Soraya não pontuou, juntamente com Leonardo Péricles (UP), Felipe D'Ávila (Novo), Eymael (DC), Roberto Jefferson (PTB) e Sofia Manzano (PCB).

Soraya comanda rede de motéis com marido

A candidata à Presidência de 49 anos fez uma dobradinha com a também candidata e sua ex-professora, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), principalmente nas pautas relacionadas a direitos das mulheres.

Soraya se elegeu na onda bolsonarista após ganhar destaque por críticas à ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Ela foi aluna de Tebet no curso de direito em uma universidade privada em Campo Grande. Ontem, no debate, Tebet lembrou dos tempos de sala de aula quando Soraya a questionou sobre educação.

"Dei aula, 12 anos, de direito administrativo, de como é que se administra um estado e um país, e tive o privilégio de tê-la como uma excelente aluna", disse Tebet.

Formada em direito, Soraya é casada com Carlos César de Lima Batista, tesoureiro do União Brasil em MS. O casal tem uma filha, também advogada. A família comanda uma rede de motéis em Campo Grande. No ano passado, Soraya citou no Senado o empreendimento familiar e o fato de empregar ex-presidiárias.

"Elas, como camareiras, fazem um trabalho maravilhoso, e é uma grande ideia que pode ser reproduzida por todo o nosso país", disse.

Senadora chama Bolsonaro de 'tchutchuca'

Soraya foi a primeira presidenciável a sair em defesa da jornalista Vera Magalhães após Bolsonaro atacá-la de forma machista.

Quando homens são tchutchuca com outros homens mas vêm para cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Aí eu fico brava, sim. E digo mais para você: lá no meu estado, tem mulher que vira onça, e eu sou uma delas."

A referência à onça é uma alusão à novela Pantanal, exibida pela TV Globo, em que uma lenda gira em torno da personagem principal, Juma Marruá —que, quando atacada, vira onça.

Usuários do Twitter pedem: 'Entrega, Soraya!'. Em outros momentos, Soraya retomou o assunto que a fez se afastar do presidente: a condução da pandemia da covid-19.

"Bom, não posso deixar aqui de colocar também que eu já estou vacinada contra a mentira, e não virei jacaré até hoje, graças a Deus. Mas o povo brasileiro não está vacinado contra mentira", disse, antes de explicar a atuação do Congresso Nacional para o Auxílio Brasil ter o valor de R$ 600.

Ainda na mesma resposta, Soraya indicou que pode precisar de segurança reforçada.

Eu não tenho tempo para brigar. Então não vou me misturar com briga e confusão. É lógico que eu fico brava porque eu sou gente como todo mundo que está me ouvindo. Não sou atriz e não estou aqui para disfarçar, mas vocês podem ter certeza de que, do jeito que está, eu vou começar a entregar, e é muita coisa aqui. Reforcem a minha segurança, delegado."

Nas redes sociais, Soraya ganhou destaque e na manhã de hoje a expressão "Entrega, Soraya!" estava com mais de 4.000 menções. O movimento foi puxado por perfis antibolsonaristas que argumentam que a senadora pode saber segredos de seu ex-aliado.

Senadora põe em dúvida relatos de vítimas de estupro

Com mandato vigente até 2027, Soraya destacou em sua primeira fala no debate que não dependia da política. "Eu não sou do mundo político, eu não dependo do mundo político. Estou política porque eu tenho uma proposta." Ao longo do debate, ela reiterou ser liberal e atuar em defesa das mulheres.

Em resposta à colunista do UOL Thaís Oyama, a senadora colocou em dúvida denúncias de vítimas de violência sexual ao questionar se "uma mulher não pode mentir" em um caso de estupro. A pergunta de Oyama se referia a afirmação similar de Soraya na Jovem Pan sobre a denúncia de estupro contra o jogador Neymar.

Em sua resposta, a candidata afirmou ser a favor da paridade entre gêneros.

"Mas eu quero dizer para vocês o seguinte: eu sou pela paridade. Tanto foi que eu escolhi para ser meu vice um homem. Não quero mais do que nós mulheres merecemos. Mas queremos o nosso lugar, no nosso espaço de poder, que nós merecemos e que nós temos a capacidade."

Lula critica candidato a vice, ex-secretário de Bolsonaro. O vice de Soraya é Marcos Cintra, ex-secretário da Receita Federal no governo Bolsonaro e defensor de um "imposto único federal". Ao citar a proposta, foi refutada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"A candidata Soraya, se ela tivesse acompanhado a política desse país, ela perceberia que o seu vice já fez essa proposta 30 anos atrás e não foi sequer levada em conta pelos eleitores", disse Lula.

Nas considerações finais, Soraya relembrou Cintra. "[Cintra é] um homem de exatas, e eu de humanas, o perfeito equilíbrio para que a gente consiga levar esse país adiante. Temos um projeto estruturante, um projeto real, que pode ser aplicado imediatamente. E, com ele, nós iremos, sim, com um imposto só, diminuir o preço dos alimentos, trazer mais dignidade para todas as pessoas."