Por que as pesquisas eleitorais em SP mostram resultados tão diferentes
As pesquisas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo divulgadas por quatro institutos de pesquisa mostram resultados diferentes. Segundo os institutos consultados pelo UOL, os resultados dependem, principalmente, da metodologia.
O que aconteceu
Quatro pesquisas foram divulgadas nos últimos dias. Duas apontam Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) empatados na liderança, uma traz o psolista isolado em primeiro lugar, e outra indica empate triplo entre os dois candidatos e José Luiz Datena (PSDB).
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Há empate técnico no Datafolha divulgado na quinta (8). Nunes tem 23%, e Boulos, 22%. Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, os dois estão tecnicamente empatados. Pablo Marçal (PRTB) e Datena (PSDB) aparecem na terceira colocação, com 14% cada.
Também na quinta, a Paraná Pesquisa mostrou Nunes e Boulos tecnicamente empatados. Boulos aparece com 25,1%, contra 23,2% de Nunes. Datena (15,9%) e Marçal (12,5%) aparecem na sequência.
No mesmo dia, a AtlasIntel divulgou sua pesquisa com Boulos isolado na liderança. Ele aparece com 32,7% das intenções, quase oito pontos de vantagem para Nunes, com 24,9%. Marçal (11,4%), Tabata (11,2%) e Datena (9,4%) estão tecnicamente empatados, já que a margem de erro é de dois pontos percentuais.
No dia 30 de julho, a Quaest indicou empate triplo. O prefeito tem 20% das intenções de voto, enquanto Datena e Boulos têm 19% cada. A margem de erro é de 3,1 pontos percentuais.
Por que há diferença?
Dos quatro institutos de pesquisa, apenas a AtlasIntel faz a consulta pela internet. CEO do instituto, Andrei Roman defende o método online afirmando que ele elimina "o impacto psicológico do contato do entrevistador com o entrevistado" na metodologia presencial, utilizada pelos outros institutos.
O eleitor abordado na rua pode estar desligado da eleição ou nem gostar de política, diz o CEO. "Sua opção de voto não está cristalizada, mas, quando lhe apresentam uma lista de candidatos, esperam que ele escolha", afirma. "Ele provavelmente vai apontar alguém que já ouviu falar ou tem pouca rejeição, só para entregar uma resposta ao entrevistador."
Roman também defende o uso do Censo do IBGE pelos institutos. Ele diz que a Atlas coleta os dados dos votantes no site e "calibra" as amostras de acordo com o perfil demográfico do município informado pelo censo, separando os resultados conforme o perfil socioeconômico.
O Datafolha defende três razões para apostar na abordagem presencial:
- Maior chance de atingir todos os segmentos do eleitorado. "Chegamos a cidades de pequeno, médio e grande porte e entrevistamos quem está no topo e na base da pirâmide social", diz a diretora do instituto, Luciana Chong.
- Possibilidade de atingir pessoas sem intimidade com a internet. "O acesso a internet é quase universal, mas o letramento digital ainda não atinge todos os segmentos", afirma Chong.
- Gravação e checagem das entrevistas. "No online, não há checagem dos dados", diz ela, que questiona a tese de pressão psicológica em entrevistas presenciais: "Nunca vi nenhum estudo científico que comprove essa tese."
O Datafolha utiliza variáveis de gênero e idade com bases em dados da Justiça Eleitoral. "Infelizmente, ainda não temos disponíveis todos os dados do último censo", afirma. "Escolaridade, renda, cor e religião são resultados da pesquisa que vamos acompanhando a cada rodada."
A Quaest, que aborda o eleitor em sua casa, também considera aspectos políticos e socioeconômicos. "As metodologias são muito diferentes", mesmo entre os institutos que entrevistam presencialmente, diz Felipe Nunes, cientista político e CEO da Quaest. O Datafolha, por exemplo, aborda o eleitor nas ruas.
"Não adianta querer encontrar resultados parecidos para metodologias diferentes", afirma. "A Quaest inclui amostra de eleições anteriores, incorpora escolaridade, e é um dos poucos que fazem cota por renda", pontua Nunes.
A pesquisa da Quaest foi a única a apontar Datena empatado tecnicamente com Boulos e Nunes. "Ele é o único com 97% de conhecimento pela população. Nunes e Boulos têm cerca de 80%, os outros nem isso. Na pergunta espontânea que a Quaest apresenta, 70% dos eleitores ainda não escolheram o candidato, mas quando mostramos uma lista de nomes eles reconhecem o Datena e seu alto potencial de voto", explica.
Entre as pesquisas presenciais, a diferença não é tanta, defende a Paraná Pesquisa. O CEO do instituto, Murilo Hidalgo, afirma que, "se pegar a Quaest e considerar a margem de erro, não está muito diferente da nossa". "Mesmo entre os institutos com metodologia semelhante, alguns dados de coleta e de treinamento dos entrevistadores podem mudar."
Ele diz ser importante o momento em que a pesquisa acontece. "O Datena está crescendo porque agora, sim, ele é candidato. O Marçal cresceu quando saiu, mas estabilizou agora."
O objetivo das sondagens "é maior do que acertar o resultado da eleição", diz a diretora do Datafolha. "As pesquisas democratizam a informação, que poderia ser exclusiva de partidos, candidatos e empresas", afirma Chong. "Trouxemos informações que não seriam conhecidas sem as pesquisas: a polarização entre Lula e Bolsonaro que se manteve do início ao fim [em 2022], a inviabilidade da terceira via, o percentual de eleitores que ainda poderiam mudar de opinião na véspera da eleição."
Metodologia importa
As nuances das sondagens podem alterar os resultados, diz Neale El-Dash, estatístico especializado em pesquisa eleitoral. "A Atlas é online, e essa é uma diferença grande para as outras. Mas as metodologias presenciais não são iguais. O Datafolha faz na rua, não é domiciliar, como a Quaest", diz El-Dash. "Depende do treinamento dos entrevistadores, do questionário, dos diferentes cenários apresentados, de quais candidatos foram considerados. Então têm várias coisas que podem explicar essas diferenças."
O pesquisador diz que a "pressão psicológica" das sondagens presenciais é hipótese. "Ainda não tem evidência empírica. Só tem a Atas justificando essa diferença grande no resultado dela para o resto do mercado", diz.
As pesquisas devem retratar melhor a intenção do eleitor quando a campanha ganhar as ruas. "As pessoas vão formando opinião conforme a eleição se aproxima", diz. "A tendência é o percentual de votos não válidos migrar para os candidatos."
O cientista político Sergio Praça, da FGV, acredita que as pesquisas vão convergir quando a campanha engrenar. "A eleição ainda não começou em São Paulo. Ela começa, de fato, nesta segunda-feira (12)."
O que dizem os institutos
Pesquisa eleitoral sempre será a fotografia de um momento.
Murilo Hidalco, da Paraná Pesquisas
Os eleitores são expostos a notícias (verdadeiras e falsas) a todo momento, e qualquer fato novo relevante pode mudar a opinião do eleitorado. Por isso fazemos em até três dias para evitar contaminação.
Luciana Chong, do Datafolha
A Quaest trabalha da forma mais científica possível. As diferenças de resultados existem, são claras, e acho que são fruto de escolhas metodológicas dos institutos.
Felipe Nunes, da Quaest
Se o eleitor apoia alguém muito radical, ele pode dizer que votará em outra pessoa. Na consulta anônima pela internet, ele pode ser mais honesto.
Andrei Roman, da AtlasIntel