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OPINIÃO

Kotscho: Ninguém sabe como parar Pablo Marçal, o candidato-bomba

Pablo Marçal faz foto com apoiadores em campanha em Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo Imagem: 16.ago.2024-Anna Satie/UOL

Ricardo Kotscho

Colunista convidado, em São Paulo

23/08/2024 12h38

Pablo Marçal já conseguiu o que queria: para o bem ou para o mal, só se falou dele esta semana na campanha eleitoral em São Paulo.

O coach, influenciador, empresário do ramo de engana- trouxa, que já tentou ser candidato a presidente em 2022 e é dono de um patrimônio declarado de mais de R$ 150 milhões, bagunçou o coreto de tal forma que ninguém, da esquerda à extrema direita, sabe o que fazer com ele para pará-lo.

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Diante do novo Datafolha desta quinta-feira, em que aparece com 21%, em empate técnico com Guilherme Boulos (23%) e à frente do prefeito Ricardo Nunes (19%), ele mesmo diz que "a piada virou pesadelo", o que é verdade, embora sua campanha seja feita à base de mentiras disparadas nas suas redes antissociais em meio a ofensas e agressões, atirando para todo lado.

De fato, em poucas semanas, e três debates depois, Marçal pulou de 7% para 14% e agora chegou a 21% no Datafolha, mostrando que pode chegar ao segundo turno, uma grande ameaça à maior cidade do país. Sem ter apresentado até agora nenhuma proposta concreta ou plano do que pretende fazer se for eleito, ele se limita a detonar os adversários e o "sistema", e assim chegou à capa da Veja com a manchete "A política da lacração".

Como um touro solto na arena de rodeios em Barretos, ele dá um baile nos peões da política e da Justiça, bagunçando não só a atual campanha eleitoral, mas também os planos do bolsonarismo para 2026, porque ele não quer ser só prefeito. Quer ser presidente da República, como o inelegível Jair e os filhos já perceberam.

Como bem constatou no UOL News meu colega José Roberto Toledo, um estudioso analista de pesquisas, Marçal nem precisa vencer esta eleição, pois vai ganhar de qualquer jeito. Se a sua candidatura for cassada, como já pediu o Ministério Público Eleitoral, ele sai da corrida municipal no papel de vítima do "sistema", um mártir da velha política, já de olho em 2026.

Com uma extensa capivara na polícia, que já o levou a ser condenado a quatro anos de prisão em Goiás (escapou das grades por prescrição da pena) quando dava golpes cibernéticos em aposentados, e acossado agora pela Justiça Eleitoral por abuso do poder econômico da sua fábrica de fake news, viu nos últimos dias os dirigentes do PRTB, um partido de aluguel, sem representação no Congresso, serem investigados por suas ligações com o PCC e o Novo Cangaço.

Pablo Marçal repete em tudo a trajetória de Jair Bolsonaro na campanha presidencial de 2018, figura folclórica em quem ninguém botava fé no início, um azarão a bordo de outro partido nanico de aluguel, o extinto PSL. Aos poucos, foi subindo nas pesquisas, fazendo arminha com os dedos e ameaçando metralhar os adversários.

Foi o primeiro a usar e abusar das redes sociais com impulsos pagos para um exército de lacradores, que inventaram a "mamadeira de piroca" e o fechamento dos templos evangélicos pelo candidato do PT, entre outras barbaridades. A facada de Juiz de Fora e a prisão de Lula fizeram o resto já sabido.

A cobertura da mídia vê-se agora diante do mesmo dilema: ignorar o candidato-bomba ou denunciar suas falcatruas e sua "conduta abjeta", como foi qualificado por editorial da Folha na sexta-feira. Em 2018, se nós, jornalistas, tivéssemos investigado mais a fundo a vida e a obra do capitão-deputado Jair Bolsonaro, no Exército e na Câmara, ele dificilmente seria eleito. Seus eleitores votaram no escuro, sem saber de quem se tratava.

Lembro-me que muitos colegas me criticavam, por insistir nas minhas colunas em mostrar o perigo que uma figura estranha como Bolsonaro representava para a democracia. "Você fica dando cartaz para esse cara que não tem a menor chance de ir para o segundo turno", diziam.

Espero que tenhamos aprendido a lição e que os jornalistas, os promotores, a Polícia Federal e os juízes eleitorais se empenhem para evitar que os ovos da serpente sejam chocados nesta eleição e na próxima. O país não suportará outro Bolsonaro 2.0 produzido pelas mídias digitais fora de qualquer controle.

Os eleitores também poderão fazer a sua parte, votando em qualquer outro candidato para prefeito de São Paulo. Está nas suas mãos evitar que o país passe por outro pesadelo, no momento em que começa a se recuperar dos desatinos que foram aqueles quatro anos trágicos, que colocaram em risco a democracia e o nosso futuro.

Ele não, por favor.

Vida que segue.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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