Cid esmaga Ciro em disputa familiar no Ceará, e Camilo ganha força no vácuo
A disputa familiar entre os irmãos Ferreira Gomes no Ceará foi vencida com grande vantagem nas eleições deste ano pelo senador Cid (PSB), contra o ex-candidato à Presidência Ciro (PDT). O racha também resultou no declínio do poder da família e, no vácuo, na ascensão do ministro da Educação e ex-governador do estado, Camilo Santana (PT).
O PSB, ao qual Cid se filiou em fevereiro, foi o partido que mais fez prefeitos no estado: 65 ao todo. Além disso, estava desde o primeiro turno na coligação com Evandro Leitão (PT), eleito em Fortaleza.
Já o PDT, sob influência de Ciro, deixou o posto de campeão de prefeitos no Ceará nas eleições passadas para se tornar um nanico: fez só 5 prefeitos em 2024, nenhum deles em cidades com 20 mil ou mais habitantes. Para efeito de comparação, quando os irmãos eram unidos, o partido elegeu 28 prefeitos em 2016 e 66 em 2020.
Em Fortaleza, capital que o PDT governa há quase 12 anos, o partido teve uma votação pífia. Com apoio de Ciro e seus aliados, o prefeito e candidato à reeleição, José Sarto, ficou apenas na terceira colocação, com 11,7% dos votos válidos.
Para piorar, o PDT dará lugar ao PT, maior adversário político de Ciro.
Antes de votar no primeiro turno, Ciro admitiu que sua importância na política cearense "é declinante". "Eu tenho humildade para perceber que a minha palavra cada vez tem menos audiência no Ceará. Isso eu tenho que aceitar com humildade", disse.
Partidos que mais elegeram prefeitos no Ceará
2024
- 1º: PSB - 65
- 2º: PT - 47
- 3º: PSD - 17
- 4º: Republicanos - 14
- 5º: PP - 13
2020
- 1º: PDT - 66
- 2º: PSD - 28
- 3º: PT - 18
- 4º: MDB - 17
- 5º: PL - 11
Dever de casa de Cid
Segundo a cientista política Monalisa Torres, da Uece (Universidade Estadual do Ceará), parte do bom resultado de Cid sob Ciro tem explicação na definição histórica de funções de cada um dos irmãos na política.
"Apesar da projeção nacional do Ciro, quem fazia a função de articulação no estado, em contato direto com as lideranças aqui, era o Cid. Ele é quem tem força no estado", diz.
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Quero receberEla afirma que Cid mostrou sua força no interior ao se filiar ao PSB e levar consigo boa parte dos prefeitos que eram aliados da família.
Logo após Cid deixar o PDT e ir para o PSB, em fevereiro, o novo partido do senador passou a contar com 61 prefeitos no estado, e o PDT caiu para 27, diz Monalisa.
O número de prefeitos pedetistas foi caindo mais até chegar a apenas dez em julho. Nesse caso, boa parte dos prefeitos foi para o PT, graças à força do governo do estado nas mãos de Elmano de Freitas (PT) e ao capital político do ministro Camilo Santana. Ex-governador, ele
participou ativamente das campanhas no Ceará, deixou o governo bem avaliado e foi eleito para o Senado em 2022 com votação histórica no estado.
Quando chegou nas prévias, o PDT lançou pouquíssimas candidaturas em comparação com outras legendas, muito porque houve essa migração.
Postura do segundo turno piora situação no PDT
Ciro se manteve distante do segundo turno da eleição em Fortaleza, mas apareceu em dois momentos em comentários de posts no Instagram, criticando o candidato petista: "Evandro ridículo", disse em uma página de humor de Fortaleza sobre o debate da Globo.
Já aliados de Ciro, como o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), fizeram campanha abertamente para André Fernandes (PL) Cid, em entrevista, disse acreditar que, para Cláudio ter apoiado um bolsonarista, houve consentimento de Ciro.
A postura de Ciro Gomes durante o segundo turno da eleição foi repudiada por parte da bancada pedetista, que chegou a pedir a expulsão dele do partido.
O presidente nacional em exercício do PDT, o deputado federal cearense André Figueiredo, já avisou que não pretende emparedar Ciro, que deve seguir no partido enquanto quiser.
Com as derrotas acachapantes e dando uma curva política, Ciro "caminha a passos largos para o ostracismo", segundo Monalisa Torres. "Esse racha e as perdas de agora sinalizam uma derrota muito mais para o Ciro do que para os irmãos", conclui.
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