Agressões políticas em SP quadruplicam nas eleições 2024, diz UniRio
O número de casos de agressão contra políticos no estado de São Paulo saltou de seis, nas eleições municipais de 2020, para 26, neste ano. Os dados são do Observatório da Violência Política e Eleitoral.
O que aconteceu
Duas das 26 agressões foram exibidas ao vivo, em debates entre candidatos a prefeito de São Paulo. Em 15 de setembro, José Luiz Datena (PSDB) desferiu uma cadeirada no influenciador Pablo Marçal (PRTB). Já no dia 23, um assessor de Marçal deu um soco em Duda Lima, marqueteiro que acompanhava o prefeito e candidato a reeleição Ricardo Nunes (MDB) em outro debate.
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Em Guarulhos, Grande São Paulo, a polícia investiga se um candidato mandou espancar duas pessoas com um cabo de enxada. As vítimas são um ex-chefe de gabinete do vereador Lucas Sanches (PL), que agora concorre a prefeito, e um jornalista. Elas teriam virado desafetas de Sanches após a denúncia de um suposto esquema de "rachadinha" no gabinete dele.
Um aliado do candidato foi filmado ameaçando as vítimas horas antes da agressão. "O pessoal do Lucas Sanches cumpriu com a promessa deles de me agredir", disse o ex-assessor em uma rede social. O candidato nega. "Sanches estava em sessão na Câmara, e desconhece que qualquer integrante de sua pré-campanha tenha a ver com a acusação", disse em nota.
Além das agressões físicas, cinco pessoas foram assassinadas em SP este ano por razões políticas. Em 2020, foram nove. Já são 22 ameaças de assassinato registradas este ano, contra 24 em toda a campanha de 2020.
O total de casos de violência política em 2024 já supera o da eleição passada, embora ainda falte uma semana para o primeiro turno. Somando agressões, homicídios, atentados e ameaças a candidatos e seus familiares, foram contabilizados 74 diferentes episódios no estado até agora. Em toda a campanha de 2020, foram 71, segundo o Observatório, que é ligado à UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio De Janeiro).
Usamos uma ferramenta na internet com milhares de palavras chaves que remetem à violência política. Somos avisados de todas as menções em sites jornalísticos, tabulamos os dados e cruzamos com informações da Justiça Eleitoral.
Pedro Bahia, cientista político e pesquisador do Observatório da Violência Política e Eleitoral
Violência em SP 'é outro nível'
"O que vemos na eleição em São Paulo este ano é outro nível", diz Rafael Alcadipani, professor da FGV e membro do Fórum de Segurança Pública. "Existe tanto uma violência física quanto verbal jamais vista em uma cidade como São Paulo. Tem acusação sobre uso de drogas, estupro", diz ele.
Atos de violência podem aumentar na reta final da campanha. "As semanas que antecedem o pleito são críticas", opina Pedro Bahia, cientista político e pesquisador do Observatório. "A população já está mobilizada, com acirramento da opinião pública: as ruas estão tomadas por santinhos, tem o programa eleitoral gratuito na TV. A violência política deve aumentar nesses dias", diz Bahia.
Cármen Lúcia, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pediu prioridade para a investigação de casos de violência política. "Por despreparo, descaso ou tática ilegítima e desqualificada de campanha atenta-se contra cidadãs e cidadãos", afirmou.
A antipolítica legitima a violência contra políticos, mas parece que já passou do limite. As pessoas não estão aceitando, e a rejeição a Marçal cresceu nas pesquisas.
Rafael Alcadipani, professor
Atacam-se pessoas e instituições e rebaixam a política a cenas de pugilato, desrazão e notícias de crimes.
Cármen Lúcia, presidente do TSE
Antipolítica e redes sociais
A ascensão da polarização e da antipolítica são combustíveis para a violência, afirma especialista. "Candidatos inflamam sua base e normalizam esse tipo de violência em todo o país porque o Brasil inteiro acompanha a eleição de São Paulo e acaba naturalizando um estilo eleitoral inadequado", diz Alcadipani.
Os dois especialistas também atribuem o aumento da violência às campanhas em redes sociais. "Agora existem esses cortes de trechos de vídeo compartilhados em mídia social, que mobilizam a opinião pública", diz Bahia. "É um lugar de escracho, de exagero, de espetacularização da violência: as fronteiras da civilidade estão sendo perdidas", completa Alcadipani.
Para os especialistas, a solução é uma reforma na legislação eleitoral. "Nossas leis não levam em conta as redes sociais. Temos de incluí-las na lei, mudar a regra para evitar que a violência digital afete a nossa realidade", diz Alcadipani, que sugere aos órgãos de imprensa que não convidem para debates os candidatos que já demonstraram disposição para a violência.
São muitas cadeiradas no interior que nunca foram televisionadas. Em cidades pequenas a violência política é quase natural. O Brasil é grande, com diversos contextos, como os rurais ou o do Rio, em que as milícias e o tráfico avançam.
Pedro Bahia, cientista político e pesquisador do Observatório da Violência Política e Eleitoral
Políticos assassinados em SP
Um candidato a vereador em Santo André foi encontrado morto em Diadema, na região do ABC, na última terça-feira (24). A polícia investiga as circunstâncias do assassinato de Luís Antônio (União), conhecido como Luís Lampião, de 57 anos. Seu corpo foi encontrado enrolado em um cobertor no banco traseiro de um carro, que foi abandonado em uma rua.
O filho de um candidato a prefeito de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, foi morto aos 25 anos. Leonardo Bonafé era presidente do MDB na cidade e filho de Flávio Bonafé (MDB). Foi assassinado a tiros em seu carro quando chegava ao escritório da família em 28 de agosto. "Quem praticou essa conduta hedionda não tinha como objetivo o patrimônio", disse o delegado Múcio Mattos.
Na cidade de Sandovalina, no interior paulista, um vereador foi assassinado dentro de casa em 5 de julho. Luiz Henrique Rocha da Silva (PRD) tinha 37 anos. O suspeito, que era amigo da vítima, disse em depoimento que foi atraído para a casa do parlamentar, que o teria agredido. Então, pegou um prato de cerâmica e desferiu golpes na nuca do parlamentar, que não resistiu.