Porto Alegre: primeiro turno foi marcado por disputa entre rejeitados
O fim do primeiro turno em Porto Alegre confirmou o cenário que vinha sendo apresentado nas pesquisas de intenção de voto. Agora, no segundo turno vão se enfrentar atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), e a deputada federal Maria do Rosário (PT), dois candidatos com altos índices de rejeição, um por ter sido o prefeito durante as enchentes de maio, a outra, por ser do PT e de esquerda.
Melo quase levou no primeiro turno: recebeu 345.420 votos, ou 49,72% dos votos válidos. Maria do Rosário recebeu 182.553 votos, o equivalente a 26,28% dos votos válidos.
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O que aconteceu
O principal fato político da eleição na capital gaúcha foi a enchente de maio. Até o final de agosto foram confirmados 183 mortos e 27 desaparecidos, além de mais de 800 feridos, segundo números da Defesa Civil do Rio Grande do Sul.
Prefeitura de Porto Alegre diz que 160,2 mil pessoas foram afetadas pelas enchentes. Além disso, foram impactados pelas enchentes 45,9 mil empresas, 31 unidades de saúde, 160 unidades de ensino e 198 equipamentos públicos, entre parques, praças e largos.
Impacto financeiro. A CNM (Confederação Nacional dos Municípios) calculou os prejuízos às cidades do estado em R$ 12 bilhões, sendo a infraestrutura o setor mais afetado, com R$ 4,6 bilhões.
A gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB) foi apontada como responsável por não atenuar os efeitos das cheias. Reportagem do UOL mostrou que a Prefeitura de Porto Alegre passou 2023 sem investir nada em prevenção contra desastres naturais, mesmo com mais de R$ 400 milhões em caixa.
Sistemas existentes não funcionaram. Antigos servidores do DMAE (Departamento Municipal de Águas e Esgotos) disseram, nas semanas seguintes às enchentes, que os sistemas de prevenção, compostos por diversos diques, não funcionaram por falta de manutenção.
Impacto político negativo da falta de prevenção. 60% dos eleitores consideraram o desempenho de Melo na prevenção de enchentes "péssimo", conforme pesquisa do Instituto Atlas divulgada no dia 30 de setembro.
Batalha de rejeições. Ainda assim, o prefeito ostenta rejeição menor que a de sua principal concorrente na disputa, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
Guerra de rejeições
"O que marca a eleição deste ano é a rejeição a ambos os candidatos." A avaliação é do cientista político Nilton Sainz, doutorando na UFPR (Universidade Federal do Paraná) que conduz uma pesquisa com eleitores de Porto Alegre.
"Melo responde pela gestão fraca das enchentes - e agora com as novas chuvas, que voltaram a alagar a cidade, essa memória voltou -, enquanto Maria do Rosário está muito associada à ideia de 'defesa de bandidos', por causa da pauta de direitos humanos", afirma.
Polarização política. Se fosse possível fazer uma equação para explicar resultados eleitorais, de acordo com o cientista político, ela seria composta pela polarização política na cidade, a rejeição ao PT, a rejeição a Maria do Rosário e a gestão de Melo nas enchentes.
"Melo de fato foi muito criticado, mas na hora de votar acredito que o eleitor tenha feito pesado essa nuance de que a alternativa a ele seria o PT", afirma Sainz. "Nessa equação também tem que entrar o erro do PT de não ter apoiado uma candidatura com menos rejeição para não perder Porto Alegre. O resultado foi ruim para o PT nacional e isso vai influenciar em 2026."
Atual prefeito tem vantagem significativa e deve vencer, avalia cientista político. Segundo Sainz, resultado já está praticamente definido. Melo teve mais votos que Maria do Rosário e Juliana Brizola (PDT), a terceira colocada, juntas.
Rejeição dupla de Maria do Rosário. Segundo o advogado eleitoralista Caetano Lo Pumo, ex-juiz do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Rio Grande do Sul, Maria do Rosário carrega consigo duas rejeições, a dela e a do PT.
Ambos têm rejeição, mas a da petista é maior. Pesquisa Quaest divulgada em 17 de setembro mostrou que a deputada ostenta 54% de rejeição entre os eleitores que a conhecem, contra 35% de rejeição a Melo. Já pesquisa do Instituto Atlas de 30 de setembro mostra que 58% dos eleitores gaúchos têm imagem negativa dela, contra 54% de Melo.
Maria do Rosário é a única cujo principal apoiador é conhecido dos eleitores: 73% sabem que ela é apoiada pelo presidente Lula, segundo a Quaest. Já 71% disseram não saber quem o governador Eduardo Leite (PSDB) apoia, enquanto 58% não sabem dizer quem é o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Já Sebastião Melo joga contra a rejeição por causa da gestão das consequências das enchentes de maio. Especialistas apontaram nas semanas seguintes que parte dos danos foi causada por falta de manutenção nos sistemas de prevenção e nos diques de escoamento da água do Guaíba, que chegou a subir 5,33 metros acima do limite normal.
A pesquisa do Instituto Atlas ilustra com dados. Para 60% dos eleitores, a prevenção de enchentes em Porto Alegre é péssima. A segunda pior área para a gestão de Melo, de acordo com essa pesquisa, é transporte público, apontada como péssima por 41% dos eleitores.
Já a saúde pública é apontada como o principal problema de Porto Alegre por 41,5% dos eleitores, segundo o Atlas. É uma avaliação muito ligada às filas para conseguir atendimento e procedimentos nas unidades da cidade, conforme os especialistas consultados pelo UOL.
"A questão em Porto Alegre foi a falta de opção a Sebastião Melo", analisa Lo Pumo. Acredito que o prefeito tenha se saído bem do debate sobre a gestão da enchente. Ele conseguiu se explicar e, pelo que as urnas mostram, os eleitores concordaram com as explicações dele de que a causa do desastre foi natural e de que a cidade dependia muito de verba federal", analisa.