Prefeito eleito acusado de elo com PCC é investigado por ameaçar homem
Piter Aparecido dos Santos (Podemos), prefeito eleito em Vargem Grande Paulista, na Grande São Paulo, é investigado por suspeita de agredir a chutes e ameaçar um homem que fazia panfletagem contrária a ele durante o período eleitoral. O político já foi denunciado pelo Ministério Público por suposto envolvimento com o PCC em crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de bens.
O que aconteceu
"Entra por bem ou vai ter que ir por mal", teria ordenado uma das pessoas ligadas à campanha de Piter ao obrigar o homem a entrar no seu carro. Ele teria recebido a ordem enquanto fazia panfletagem contrária ao candidato na manhã do dia 29 de setembro, segundo relatou à Polícia Civil. O condutor do veículo, contudo, disse que só queria conversar em local reservado e contou ter sido perseguido por outro veículo com um homem armado.
Relacionadas
Relato de ameaças sob a mira de uma arma. Em depoimento, o homem de 31 anos disse ter sido levado para uma casa, onde teria sido obrigado a gravar um vídeo, mas não detalhou qual seria o conteúdo da mensagem.
Homem acusou Piter de agressões. Ele disse à Polícia Civil que o candidato a prefeito o encontrou no local e o questionou se ele estaria fazendo panfletagem. Ao confirmar, disse ter levado três chutes em uma das pernas.
Ameaça de morte após as eleições. Em seguida, relatou que Piter teria mostrado a foto da sua esposa e da sua filha, dizendo que "mataria ele e sua família" caso relatasse o que aconteceu.
E que, após o 1º turno, iria "voltar a ser o Piter que estão falando e iria buscar um a um". Segundo a vítima, o então candidato teria citado, inclusive, a Dra. Larissa (PL), sua rival nas eleições, e Josué Silveira Ramos (PL), atual prefeito.
PM chegou ao local em seguida e levou as pessoas que estavam no imóvel até a delegacia. Contudo, não há relato de arma encontrada com os envolvidos. Após o episódio, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar se houve crime de ameaça, injúria e constrangimento ilegal.
O que disse suspeito de ameaças
Suspeito negou ameaças e agressões: "Sequer falei com ele". À Polícia Civil, Piter Santos disse ter sido informado sobre a divulgação de panfletos com "material difamatório" e confirmou ter ido ao imóvel onde estava o responsável pela panfletagem, onde teria permanecido do lado externo. Segundo ele, o rapaz foi levado ao local após integrantes de sua equipe terem sido supostamente perseguidos por outro veículo com pessoas armadas.
Piter negou ter presenciado a cena e destacou que não conhecia quem teria ameaçado a vítima. Ele também disse desconhecer o episódio em que alguém teria obrigado o responsável pela panfletagem a gravar um vídeo.
Acusações contra atual prefeito. Piter disse acreditar que o rapaz teria inventado as acusações a mando de Josué Silveira Ramos. Segundo ele, o atual prefeito "quer, a todo custo, iludir os eleitores criando falsos fatos" só para prejudicá-lo.
"Caminho ao lado da verdade", responde prefeito. Em nota enviada ao UOL, Josué Ramos rebateu a versão de Piter. "Repudio ainda a postura do candidato Piter Aparecido dos Santos que tenta desviar o foco dos fatos e cada vez mais se distancia da postura de uma figura pública (...), expondo seu despreparo administrativo e desequilíbrio emocional."
Procurado, Piter não respondeu aos questionamentos da reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
O que disseram os envolvidos no caso
"Comitê eleitoral abriga capangas armados", acusa atual prefeito em notícia-crime registrada na delegacia. Josué Silveira Ramos, adversário político de Piter e apoiador da candidatura de Dra. Larissa, relatou à Polícia Civil ser fato público que Piter é acusado pelo MP de integrar organização criminosa para lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas.
Josué diz ter recebido a informação de que teria sido um dos alvos das ameaças de Piter. Disse, ainda, que o candidato a prefeito de Vargem Grande Paulista "chegou a empunhar arma de fogo para ameaçar a vítima".
Integrantes de campanha de Piter negam agressões e repetem versão de candidato. Homem que conduziu rapaz de carro após panfletagem afirmou ter sido perseguido em seguida e o levado ao imóvel onde supostamente ocorreram as agressões porque o local seria seguro e teria câmeras de segurança.
Outro membro da campanha disse ter alertado o condutor do veículo sobre a panfletagem contrária a Piter. Ambos confirmaram a mesma versão do político.
Denúncia de ligação com PCC
Suspeita de envolvimento em crimes ligados à facção criminosa. Piter Santos foi denunciado pelo Ministério Público em um processo pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e ocultação de bens desde 2013. Segundo o MP, o esquema era chefiado por Ney Santos (Republicanos), prefeito de Embu das Artes que apoiou a candidatura de Hugo Prado, da mesma sigla, eleito com 61,79% dos votos válidos.
Piter atuou como "laranja" de Ney Santos, diz o MP. Ele chegou a figurar como proprietário de postos de combustível, imóveis e até de veículos de luxo de Ney Santos para ocultar dinheiro do tráfico, de acordo com a denúncia.
Importante ressaltar ainda que o relacionamento de [Piter e Ney Santos] transcende as lavagens de dinheiro aqui apuradas, tendo Piter sido o fornecedor dos veículos da campanha política de Ney Santos para prefeito [de Embu das Artes] em 2016, na qual ele saiu vencedor.
Trecho de denúncia do MP
Piter não foi localizado para comentar o caso. Já a defesa de Ney Santos alegou inocência, dizendo que o MP não tem "elementos para embasar a denúncia".