Topo

OPINIÃO

Marçal mostra que fracasso subiu à cabeça ao exigir retratação de Bolsonaro

Pablo Marçal em debate Folha/UOL entre candidatos à Prefeitura de São Paulo Imagem: 30.set.2024-Danilo Verpa/Folhapress

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

09/10/2024 10h31

Pablo Marçal tinha tudo para sair vitorioso das eleições de 2024. Mesmo tendo ficado de fora do segundo turno.

Com 1,7 milhão de votos, ou 28,14% do total, o candidato do PRTB poderia passar os próximos dias (ou anos) mais ou menos como um jogador que se destaca no campeonato por um time médio e passa a ser cobiçado pelos clubes grandes.

Relacionadas

Antes de partir para o tudo ou nada, ele era sondado para integrar as fileiras do União Brasil, partido com 59 deputados eleitos e grana de sobra para bancar campanhas e garantir tempo de exposição na TV a quem já domina as redes sociais. Seria o impulso que faltou para dialogar com um público que ainda naufraga ou não acessa as mídias digitais.

Poderia.

Nos últimos debates, Marçal queimou pontes com Ricardo Nunes (MDB) ao tentar tirá-lo do jogo trazendo uma acusação do campo pessoal para o centro do debate. E ganhou o repúdio de todos os adversários ao compartilhar um laudo falso sobre uma internação inexistente de Guilherme Boulos (PSOL) por uso de drogas.

Estranho seria se o atual prefeito dissesse que conta agora com a presença em seu palanque do ex-candidato que outro dia mesmo o acusou de agredir a companheira.

Mais estranho é Marçal imaginar que, a essa altura, Nunes estenderia as mãos em direção à amizade.

Na improvável hipótese de escapar da inelegibilidade, o empresário poderia engolir o choro e esperar o fim da campanha para dizer a Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Jair Bolsonaro (PL) que eles erraram ao escolher o barco de Nunes. Isso se a aposta dele, segundo a qual Boulos vai ainda abocanhar a fatia do eleitorado dele na periferia, estiver correta.

Mas não: em uma desastrosa entrevista coletiva nesta terça-feira, decidiu queimar pontes também com o bolsonarismo ao EXIGIR que prefeito, governador, ex-presidente e seus filhos lhe peçam perdão. Só isso.

Fez isso na porta de sua empresa em Alphaville, em Barueri (SP), onde chegou dirigindo uma Ferrari para mostrar quem é o bom.

"Eu não vou apoiar Ricardo Nunes e que fique registrado que não vai ter meu apoio pessoal pela arrogância deles. Tenho convicção de que eles não têm humildade para isso [pedido de perdão]", afirmou Marçal.

Sobre o governador, a quem chamou de "goiabinha" (vermelho / comunista por dentro), disparou: "Você [Tarcísio] precisa ser homem para retratar tudo que você falou. Você falou que eu deveria ser preso, você tem que me respeitar, que eu sempre te respeitei."

Parecia que estava falando com o dono do boteco que lhe negou o troco.

Marçal mostrou assim que não é só mau vencedor, desses que não perdem a chance de chamar de fracassados todos os que não conseguiram acumular tanta riqueza explorando a fé alheia, como ele fez.

Provou também que é mau perdedor. E que o fracasso lhe subiu à cabeça.

Gente próxima ao empresário diz que ser prefeito nunca foi o objetivo final nesta campanha. O que ele queria mesmo, garantem, era aproveitar a vitrine para furar a própria bolha e conquistar mais e mais seguidores e potenciais clientes de cursos de nomes sugestivos como "Antifrágil" e "O Pior Ano da Sua Vida".

Logo, ele ganharia mesmo perdendo.

Mas a gestão do espólio obtido no primeiro turno mostra um ex-candidato atordoado com a marca da derrota. Não era ele, afinal, que conseguia tudo? Mesmo contra tudo e contra todos?

Essa arrogância o levou a emparedar até mesmo Jair Bolsonaro, a quem costumava demonstrar apreço e poupar das críticas mais incisivas.

Até então, Marçal costumava usar a figura bíblica do Rei Saul para se referir ao ex-presidente. Davi, seu herdeiro, soube esperar o fim do reinado de Saul para se tornar, ele mesmo, rei de Israel.

A coletiva desta terça-feira é a prova de que Marçal não tem sabedoria, paciência e nem resiliência do personagem com quem tem forçado o paralelo.

Marçal, que tanto gosta de repetir provérbios, parece ter se esquecido do mais conhecido deles: "A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda."

Está no Livro dos Provérbios, capítulo 16.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Marçal mostra que fracasso subiu à cabeça ao exigir retratação de Bolsonaro - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Eleições 2024