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OPINIÃO

'Difícil, vaidoso': ex-candidato revela moral de Moro no berço da Lava Jato

Sergio Moro, senador e ex-juiz da Lava Jato Imagem: Marlene Bergamo - 7.jun24/Folhapress

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

16/10/2024 14h31Atualizada em 16/10/2024 14h33

"(Sergio) Moro atrapalhou bastante", disse o deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil) em entrevista à repórter Catarina Scortecci, da Folha de S.Paulo.

Leprevost concorreu à prefeitura da capital paranaense em uma chapa que tinha como vice a colega de partido Rosângela Moro.

O candidato derrotado não mediu palavras para se referir ao ex-marido da (ex?) aliada.

Isso em Curitiba, onde o ex-juiz mandou e desmandou nos tempos em que a cidade era conhecida como "República".
"Não que seja culpa dele (Moro) o fato de eu não ter vencido, mas ele atrapalhou bastante. E ele é ruim de lidar, de difícil trato, vaidoso", disparou o deputado.

O fato de uma chapa reforçada por uma representante do lavajatismo ter obtido apenas 6,5% dos votos válidos diz muito sobre o destino da força-tarefa, destroçada desde que um hacker de Araraquara teve acesso e decidiu divulgar ao The Intercept Brasil as mensagens e tabelinhas entre o então magistrado e os procuradores que prometiam limpar o país da corrupção.

Cinco anos depois, 6,5% dos votos.

Moro, Rosângela Moro e Leprevost Imagem: Divulgação

De certa forma o desfecho para o qual se encaminha a eleição de Curitiba repete o que aconteceu com o Brasil desde que Moro foi alçado a heroi nacional.

Na eleição presidencial de 2018, o portão arrombado pela Lava Jato permitiu a ascensão de figuras extremistas como Jair Bolsonaro (PL) e grande elenco. Eles engoliram as forças de centro-direita (RIP, PSDB) num primeiro lance e, no seguinte, a própria Lava Jato.

Mesmo com Moro, seu ex-ministro da Justiça, Bolsonaro manteve uma relação dúbia até a eleição de 2022, depois de muitos tapas e poucos beijos.

Na capital do lavajatismo, os finalistas da disputa municipal são agora o atual vice-prefeito, Eduardo Pimentel (PSD) e a jornalista, "cristã e conservadora" Cristina Graeml (PMB). Um escolheu como vice na chapa um fã da monarquia e do escola sem partido. A outra é entusiasta da cloroquina.

Leprevost e Rosângela Moro não foram páreos para os novos tempos pós-Lava Jato. Mas a dura do deputado em Moro diz menos sobre o espírito insepulto da Lava Jato do que sobre a impopularidade e a egotrip de seu símbolo máximo.

A força-tarefa, afinal, tinha outras peças-chave além de Moro, como o ex-procurador Deltan Dallagnol, que mesmo tendo o mandato de deputado cassado parece ter pego gosto pela política.

Ele se aliou a Eduardo Pimentel (que tem também o apoio do governador Ratinho Filho e, claro, do prefeito Rafael Greca, ambos do PSD) porque nem mesmo o seu partido, o Novo, confiava em Moro.

Quem acompanha a cena local desconfia que, com a fileira de inimigos que coleciona desde que entrou para a política, Moro dificilmente se viabiliza para uma candidatura ao governo do Paraná, por exemplo.

A declaração do ex-parceiro de chapa de Rosângela Moro diz em alto e bom som o que se fala à boca pequena do hoje senador do União Brasil.

Assim como o Brasil pós-Lava Jato, a capital paranaense vê hoje uma centro-direita acuada por uma agenda que tenta mas não consegue ceder ao bolsonarismo sob o risco de cair no ostracismo.

O próprio Bolsonaro mantém jogo duplo na disputa. Assim como fez em São Paulo, onde acenou tanto para Ricardo Nunes (MDB) quanto para Pablo Marçal (PRTB), o ex-presidente tem um membro do seu partido, o PL, amarrado à chapa de Pimentel, mas já disse que torce mesmo pela jornalista que quer fazer pessoas pobres pagarem mais pela passagem de ônibus - já que vivem em áreas distantes do centro e andam mais.

Cinco anos após o auge da Lava Jato, o berço da operação precisa decidir agora se quer um vice monarquista ou uma versão de Caco Antibes na sede da Prefeitura a partir de 2025.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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