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Ataques sobre corrupção, Bolsonaro e Marta marcam último debate em SP

Do UOL, em São Paulo

25/10/2024 22h39

O candidato Ricardo Nunes (MDB) ligou o adversário Guilherme Boulos (PSOL) à imagem de extremista no debate da Globo à Prefeitura de São Paulo, nesta sexta-feira (25). O psolista, por sua vez, pressionou o prefeito citando suspeitas de corrupção na gestão municipal e fez ataques à privatização de serviços públicos na capital.

O que aconteceu

Boulos e Nunes miraram em pontos fracos do adversário. O psolista lembrou suspeitas de corrupção na Prefeitura e tentou retratar Nunes como um prefeito fraco, que está submetido ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "O Ricardo parece aquela criança que anda de bicicleta: uma rodinha é o Tarcísio e outra é o Bolsonaro. Se não tiver, ele cai. É impressionante", disse Boulos.

Nunes tentou colar em Boulos a imagem de inexperiente em gestão pública. Em embates diretos e em suas considerações finais, o prefeito lembrou que o adversário nunca teve um cargo no Executivo e que ele, Nunes, é "o caminho seguro" para a cidade.

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O prefeito retratou Boulos como radical e extremista. Ele acusou o oponente de ser favorável a pautas como liberação das drogas e desmilitarização da polícia. Também mencionou casos em que Boulos se envolveu quando liderou o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), como um ataque à sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) em 2016.

Nunes também atacou Marta Suplicy (PT), candidata a vice de Boulos. Ele lembrou que Marta, apesar da antiga aliança com a esquerda, apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Este foi o último debate antes das eleições. Os candidatos debateram diretamente, sem perguntas de jornalistas, por quatro blocos. O chão do estúdio, pelo qual Nunes e Boulos podiam caminhar livremente, tinha um mapa da cidade de São Paulo, que os candidatos usaram para apontar problemas ou medidas da gestão em bairros específicos.

Atrás nas intenções de voto, Boulos dá suas últimas cartadas antes das eleições. A pesquisa Datafolha mais recente, divulgada na quarta-feira (24), mostra o prefeito com 14 pontos de vantagem (49% a 35%). Mas o psolista oscilou dois pontos para cima (dentro da margem de erro), e Nunes, dois pontos para baixo em relação à pesquisa anterior, publicada no dia 17.

Eu diferente dele, eu sei andar de bicicleta sem rodinha, então eu não preciso ficar lendo as coisas. O Ricardo parece aquela criança que anda de bicicleta, uma rodinha é o Tarcísio e outra é o Bolsonaro. Se não tiver, ele cai. É impressionante.
Guilherme Boulos (PSOL), sobre Nunes

A experiência faz a diferença: aqui tem experiência, ali, inexperiência. Aqui, o equilíbrio, vocês viram, [Boulos estava] um pouco nervoso. Aqui a ordem, ali a desordem, com as histórias de vida.
Ricardo Nunes (MDB), sobre Boulos

Ataques sobre corrupção e privatizações

O psolista atacou privatizações em São Paulo. Ele ligou a Enel ao apagão que atingiu a cidade em outubro, e também criticou a privatização da Sabesp, liderada por Tarcisio. A principal crítica do psolista, porém, foi sobre a privatização dos serviços funerários na capital, que tiveram aumento de preço após a entrega à iniciativa privada.

Boulos também citou suspeitas de corrupção na Prefeitura. Ele falou sobre casos como o aumento de obras emergenciais — sem licitação — e o fato de a gestão ter comprado armadilhas para o mosquito da dengue por preços muito acima do normal. O deputado voltou a explorar o fato de que um aliado de Nunes, chefe de gabinete da secretaria de obras, é ex-cunhado de Marcola, chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Nunes defendeu-se. A respeito das privatizações, ele afirmou que os serviços públicos citados por Boulos, especialmente o funerário, têm "contrato rígido" e eram muito mal avaliados antes da concessão. Sobre as suspeitas de corrupção, o prefeito afirmou que nunca foi alvo de nenhum indiciamento nem investigação. "Não devo nada", afirmou.

Boulos tenta acuar Nunes

Boulos questionou Nunes sobre um pagamento elevado para armadilhas de mosquito da dengue da Fiocruz. "Ricardo, você falou que você é duro contra a corrupção, talvez para o próximo bloco não tem mais tempo você explique", questionou o psolista. "Por que que a sua gestão pagou 40 vezes mais para armadilha de mosquito de dengue? A fiocruz produzia por R$ 10, você pagou R$ 400 de um amigo."

O psolista também lembrou que a gestão é investigada por obras emergenciais sem licitação. "Você gastou R$ 50 milhões para dar para a empresa de compadre, o padrinho da sua filha", disse ele em outra acusação de corrupção. "Por que que a sua gestão superfaturou até garrafinha d'água no carnaval?".

Nunes disse que Boulos sofreu 32 condenações na Justiça por mentiras, injúrias e calúnias. "A Justiça foi lá e identificou que ele colocava mentiras no horário eleitoral atacando a mim, atacando a minha família, atacando a minha gestão. E agora resolveu, mesmo descumprindo a decisão judicial, vir aqui ao vivo fazer isso novamente.

O candidato à reeleição negou as acusações. "A questão dessas iscas é mentira, eu mandei um ofício para o Ministério da Saúde, a Fundação Fiocruz não comercializa iscas, é uma conversa fiada", afirma. Nunes também negou irregularidades em relação às obras emergenciais. "Não existe nada de errado com relação às obras que eu estou fazendo, muito pelo contrário, eu tive todas as minhas contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Município 2021, 2022, 2023 e aprovado pela Câmara Municipal".

Ligação com chefe de gabinete

Boulos relacionou Nunes com o crime organizado. Como já havia feito em outros debates, ele citou que empresas de ônibus contratadas pela Prefeitura são investigadas por lavar dinheiro do PCC. Ele lembrou que Eduardo Olivatto, aliado do prefeito e chefe de gabinete da Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras), é ex-cunhado de Marcos Herbas Willians Camacho, o Marcola, chefe da facção.

O psolista citou reportagens do UOL sobre o servidor da Prefeitura. Ele lembrou que o Ministério Público abriu uma investigação contra Nunes e Olivatto por assédio eleitoral após o UOL revelar, na semana passada, que Olivatto fez campanha pela reeleição em uma reunião com funcionários da Potenza Engenharia na Vila Guilherme, zona norte da capital.

Nunes buscou se distanciar de Olivatto. Ele ressltou que o chefe da gabinete da Siurb é servidor concursado da Prefeitura desde 1988 e que passou inclusive por gestões à esquerda, como a de Marta Suplicy (PT), atual candidata a vice de Boulos, e de Fernando Haddad (PT).

O psolista questionou Nunes se ele teria um apartamento no condomínio Green Village. Segundo Boulos, nesse espaço Olivatto também tem um imóvel. A informação foi revelada pelo UOL. "Entendo que este tema te constranja, sobre o cunhado do Marcola do PCC", disse.

Boulos insistiu que o governo Nunes teria ligação com o PCC. "[Ele] indicou o cunhado do Marcola do PCC, [tem] PCC dentro do ônibus no seu governo, PCC criando milícia na GCM no seu governo. É grave as pessoas têm o direito de saber. Esse é o problema de ter um prefeito fraco que não tem pulso."

Boulos também citou o caso da máfia das creches, investigação que envolve o prefeito. "A sua relação de proximidade com ele não vem de hoje né Ricardo vem de longa data ele também o que vai estar envolvido na máfia das creches", disse.

Nunes rebateu e disse que as acusações são inverídicas. "É triste ver que alguém que seja candidato a prefeito da cidade de São Paulo não tem ideia do que tá acontecendo e vem aqui e fala um monte de mentira", afirmou. "Agora, o apartamento está no meu imposto de renda, inclusive na minha declaração. A pessoa pública anuncia todo o seu patrimônio. Tá lá, apartamento 145 da Rua Cambuci do Vale, que eu adquiri em 2001", diz.

Privatização de serviços

Boulos atacou a privatização dos serviços funerários. Ele questionou se Nunes sabia quanto uma família paga, atualmente, para fazer uma oração para um ente querido nos cemitérios de São Paulo, e em seguida disse, ele mesmo, que o custo é de R$ 580.

O prefeito defendeu a privatização. Ele afirmou que a concessão prevê que seis serviços têm preços congelados por uma tabela de 2019, mas não explicou se a oração estaria entre eles. Também lembrou que há 25% de desconto para enterro social e que pessoas pobres não pagam pelo enterro.

Nunes tentou ligar Boulos a problemas na segurança pública. Como já fez em outros debates, ele questionou o psolista por não ter votado em um projeto na Câmara que previa aumento de pena para criminosos. O prefeito também voltou a dizer que Boulos é "a favor da liberação das drogas" e da desmilitarização da polícia.

Boulos rebateu. Sobre a votação do projeto na Câmara, ele afirmou que não esteve na sessão em que o texto foi votado porque estava em uma reunião com o presidente Lula (PT). A respeito da afirmação de que seria a favor da legalização das drogas, ironizou Nunes: "eu achei que você só ia começar com mentira depois das 23h. Começou cedo hoje, hein"?

Ricardo, eu achei que você só ia começar com mentira depois das 23h. Começou cedo hoje, hein? Rapaz, que defender liberação de droga. Eu vou falar disso, mas até pra gente manter a lealdade com quem está nos assistindo, eu te fiz uma pergunta: Quanto custa pra uma família poder fazer oração numa capela no cemitério que você privatizou?
Guilherme Boulos (PSOL)

Eu estou falando que o que eu tenho no contrato. Foi feita a concessão, o contrato estipula que o preço da tabela de 2019 por 6 itens são os preços congelados, de que tem 25% de desconto no enterro social que não tinha e de que as pessoas pobres não pagam nada para poder fazer o enterro. Agora, coisa de uma coisa de uma capela, isso é uma cidade de 12 milhões de habitantes, vamos fazer uma conversa séria aqui com as pessoas, respeitar. Lembra de pegadinha? É muito ruim isso
Ricardo Nunes (MDB)

Participam desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Fabíola Perez, Laila Nery e Rafael Neves, do UOL, em São Paulo, e Letícia Polydoro, colaboração para o UOL

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