PL gasta R$ 329 milhões a mais do que o PT e elege o dobro de prefeitos
O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, gastou R$ 329 milhões a mais do que o PT, do presidente Lula, nas eleições de 2024. Mas teve o dobro de sucesso quando considerado o custo para cada prefeito eleito.
O que aconteceu
O UOL calculou a taxa de sucesso dos dois partidos nas urnas. Com 1.499 candidatos a prefeito, o PL elegeu 34,4% deles, ou 516 postulantes. Já o PT elegeu 252 de seus 1.412 candidatos a prefeito, ou 17,8%. A taxa de sucesso do PL, portanto, foi quase o dobro da do PT.
Relacionadas
- Taxa de sucesso do PL: 34,4%
- Taxa de sucesso do PT: 17,8%
O PL gastou R$ 962 milhões nas campanhas. Assim, cada prefeito eleito custou, em média, R$ 1.864.598. O PT desembolsou R$ 632,7 milhões no total, o que dá R$ 2.510.714 por prefeito eleito. Isso significa que, para cada prefeito eleito, o PT desembolsou R$ 646 mil a mais que o PL.
- Gasto médio do PT por prefeito eleito: R$ 2.510.714
- Gasto médio do PL por prefeito eleito: R$ 1.864.598
A diferença na taxa de sucesso é menor quando se trata de vereadores. A do PL foi de 14,8% de eleitos em relação aos 33 mil candidatos da sigla em todo o Brasil. Já o PT emplacou 11,2% de seus 27,3 mil postulantes. Cada vereador custou R$ 196,5 mil ao PL, contra R$ 205,4 mil ao PT.
PL gastou R$ 329 milhões a mais que PT
O PL foi o partido mais rico desta eleição porque tinha mais dinheiro do Fundo Eleitoral. O fundo é composto por dinheiro público distribuído aos partidos políticos de acordo com o tamanho de suas bancadas no Congresso. A legenda gastou R$ 962 milhões dos R$ 970 milhões que tinha nos cofres, segundo sua última prestação de contas, em 25 de outubro. Com R$ 621 milhões em caixa, o PT gastou R$ 632,7 milhões, R$ 11 milhões acima do que recebeu.
Mesmo sendo apenas o quinto partido com mais prefeitos (516), o PL ganhou em cidades estratégicas. Ao vencer em grandes municípios, vai governar para 26,9 milhões de pessoas, ou 12,7% da população. Já o PT é o sétimo do ranking: vai governar para 4,8% da população, ou 10,2 milhões de pessoas.
Fatia da população que cada partido vai governar:
- 1º - PSD: 17,64%
- 2º - MDB: 17,48%
- 3º - PL: 12,69%
- 4º - União: 10,62%
- 5º - PP: 9,55%
- 6º - Republicanos: 6,62%
- 7º - PT: 4,83%
Além disso, o PL triunfou em quatro capitais. Depois de vencer em Maceió e Rio Branco no primeiro turno, o partido de Bolsonaro conquistou outras duas capitais (Cuiabá e Aracajú) no segundo. Também levou mais quatro cidades —o partido participou de 23 das 51 disputas nos municípios com mais de 200 mil habitantes em que houve segundo turno.
O PT, por outro lado, só venceu em uma capital no dia 6 de outubro. No segundo turno, disputou em quatro delas e em mais nove municípios: ganhou em Fortaleza e três outras cidades. Com o resultado, o PT melhora seu desempenho em relação à eleição passada, quando não tinha nenhuma capital. O partido também governa mais: passou de 195 prefeituras em 2020 para 256 este ano.
Quase todo o dinheiro de PT e PL financiou as campanhas de seus candidatos. Mas outros gastos chamaram a atenção. O PL desembolsou R$ 7,4 milhões com voos particulares em jatinhos. Seu principal fornecedor foi a Alljet, empresa especializada em táxi aéreo. No PT, a produção de programas de rádio, televisão ou vídeo foi o maior gasto: R$ 10,3 milhões, sendo R$ 10 milhões para a VBC Produtora.
O uso das redes sociais também custou milhões. No primeiro turno, os partidos investiram R$ 170 milhões com impulsionamento de conteúdo. Veja o ranking, segundo a Nexus, empresa de inteligência de dados:
- PL: R$ 23,9 milhões
- PT: R$ 17,8 milhões
- União Brasil: R$ 16,9 milhões
- MDB: R$ 16,1 milhões
- PSD: R$ 14,4 milhões
Maiores apostas de PT e PL decepcionaram
Alexandre Ramagem foi a maior aposta do PL nestas eleições. Ele recebeu R$ 26 milhões do partido para a campanha na capital fluminense e ainda assim não avançou para o segundo turno, mesmo gastando mais que Eduardo Paes (PSD), reeleito com R$ 21,3 milhões em conta. A campanha do apadrinhado de Bolsonaro foi a terceira mais cara do Brasil, atrás apenas das candidaturas paulistanas de Guilherme Boulos (PSOL), que arrecadou R$ 81,1 milhões, e do prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB), que havia recebido R$ 51,2 milhões até a última prestação de contas.
O PT também saiu derrotado com Boulos, que perdeu no segundo turno após receber 40,65% dos votos. O partido de Lula repassou R$ 44,1 milhões para a campanha do deputado federal, mais do que o próprio PSOL, que contribuiu com R$ 36 milhões. Dos R$ 81,1 milhões que recebeu, Boulos declarou gastos de R$ 57 milhões, segundo o TSE.
O repasse causou contrariedade no PT. O partido vetou a destinação de recursos do fundão para candidaturas de outras agremiações, mas deixou uma brecha para a eleição paulistana. A decisão causou divergências internas, admitidas apenas nos bastidores. O valor acabou transferido após o próprio Lula bater o martelo.
PL gasta R$ 2,7 mi com família Bolsonaro
O PL financiou praticamente toda a campanha dos filhos de Bolsonaro em disputas para Câmaras Municipais. Foi R$ 1,8 milhão na campanha de Carlos Bolsonaro no Rio, 89% do limite de gasto permitido para um vereador na cidade. Em sua campanha de 2020 pelo Republicanos, ele recebeu R$ 110 mil. O vereador angariou 130.480 votos neste ano, contra 71 mil na eleição anterior, sendo o mais votado na cidade e o grande puxador de votos da legenda.
Em Balneário Camboriú, no litoral catarinense, Jair Renan Bolsonaro recebeu R$ 135,1 mil do PL. Em sua primeira disputa eleitoral, ele conseguiu o equivalente a 91% do limite de arrecadação para a cidade. Outro membro da família Bolsonaro em campanha foi Renato Bolsonaro, irmão do ex-presidente, que recebeu do PL R$ 391,6 mil (89% do limite de arrecadação) em sua tentativa frustrada de virar prefeito de Registro (SP).
"Existem dois PLs", diz Fernando Neisser, professor da FGV e membro da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político). "Há um PL ligado a Bolsonaro, com bandeiras ideológicas. Esse PL ganhou menos. E existe um PL do Valdemar Costa Neto, que tem mais a cara do centrão. Esse ganhou mais", afirma.
PT perde em seus redutos
O PT amargou derrotas em redutos tradicionais. Em São Bernardo do Campo, domicílio eleitoral de Lula, Luiz Fernando Teixeira gastou R$ 3,8 milhões, mas não chegou ao segundo turno, mesmo com o empenho dos ministros Luiz Marinho (Trabalho) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), que tiraram férias para fazer campanha pelo petista. Com 23,1% dos votos, Teixeira ficou fora do segundo turno, disputado por Alex Manente (Cidadania), que gastou quase o dobro, R$ 6 milhões, e Marcelo Lima (Podemos), que desembolsou R$ 7 milhões e venceu com 55,74% dos votos.
Em Araraquara, o PT perdeu para o arquirrival PL. O prefeito Edinho Silva (PT) não conseguiu eleger Eliana Honain, mesmo gastando R$ 3,4 milhões na campanha. Os R$ 2 milhões desembolsados pelo PL elegeram Dr. Lapena por uma diferença inferior a 5.000 votos. Como a cidade tem menos de 200 mil habitantes, não houve segundo turno. Nos bastidores do PT, a derrota é tratada como um empecilho para que Edinho substitua Gleisi Hoffmann na presidência da legenda.
Emendas influíram no resultado
Embora as campanhas tenham sido financiadas com dinheiro do fundão, as emendas parlamentares foram cruciais para o resultado das urnas. Este ano, deputados e senadores têm R$ 49,2 bilhões para enviar a seus redutos eleitorais. "O que traz voto em campanha municipal é política pública: posto de saúde, asfalto, creche, segurança. E valores distribuídos por emendas são muito maiores do que os valores do fundo eleitoral, e que não vira panfleto, vira política pública", analisa Neisser. "Para a população, essas obras têm o carimbo de quem trouxe a verba."
A grande chave para entender o que está em jogo nesta eleição é o domínio que o centrão conseguiu sobre o Orçamento federal. É irreal imaginar que o eleitor seja do centrão. A maioria nem reflete se é de centro ou direita. Querem políticas públicas, e os partidos do centrão foram os que souberam absorver essas verbas, empregar, carimbar e tirar os louros.
Fernando Neisser, da Abradep e FGV
A influência das emendas é maior em cidades médias. "Dependeremos de estudos, mas faz sentido pensar que as emendas, sobretudo para as cidades médias e até grandes, tenham sido um fiel da balança para esse domínio que a gente vê do centrão", diz Fábio Andrade, cientista político e professor da ESPM. "Muitas vezes, os deputados estão ligados a prefeitos incumbentes [no cargo] ou se apresentam como os próprios concorrentes, e essa emenda é vista pela população como contribuição para a melhoria da cidade."
Essa também é a justificativa do PT. Após o primeiro turno, o partido divulgou nota atribuindo o resultado das urnas "a uma distorção do sistema político". "O alto índice de reeleições, que beira os 80% nas cidades que mais receberam emendas parlamentares, confirma essa distorção no sistema político", diz.
A polarização também pode ter contribuído para o bom desempenho da centro-direita. "A polarização permanece viva", diz Andrade. "Faz sentido pensar na hipótese de um conservadorismo maior em cidades médias. O que majoritariamente explica esses resultados é a combinação de dois fatores: um pouco dessa polarização calcificada e um pouco da satisfação da população com a zeladoria."