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Ucrânia, Israel, Holanda e Brasil estão entre os países com cultura mais liberal, diz pesquisa

Turista fuma cigarro de maconha em um coffeeshop de Amsterdã, na Holanda - 24.09.2004 - Peter Dejong/AP
Turista fuma cigarro de maconha em um coffeeshop de Amsterdã, na Holanda Imagem: 24.09.2004 - Peter Dejong/AP

Randolph E. Schmidap

Associated Press

26/05/2011 17h38

A venda de maconha é muito tolerada na Holanda, mas pode levar à pena de morte na Malásia. Mascar chiclete é muito popular nos Estados Unidos e estritamente regulado em Singapura. Conformismo tem um alto valor na Coreia do Sul. Já no Brasil, nem tanto.

Para saber mais sobre as diferenças de valores sociais e culturais de um país para o outro, um grupo de pesquisadores internacionais lançou um novo olhar sobre o tema para descobrir quais culturas são mais ou menos restritivas e, assim, identificar os motivos de tal comportamento.

“Há um grande potencial para um conflito cultural e moral entre dois tipos de sociedade”, disse a psicóloga da Universidade de Maryland, Michele Gelfand, responsável pela pesquisa. “Quanto mais entendemos as diferenças, mais sabemos o que esperar. Isso nos ajuda a julgar menos”, completa ela.

Entender o que os pesquisadores chamam de culturas “rígidas e liberais ”é crucial em um mundo onde a interdependência é cada vez maior. “Do ponto de vista de um sistema”, diz a pesquisadora, “um outro sistema pode parecer disfuncional, não ajustado e imoral, e tudo isso pode alimentar um conflito entre as sociedades”, afirma.

Top 5 - Países mais rígidos

Segundo a pesquisa, Paquistão, Malásia, Índia, Singapura e Coreia do Sul são os mais restritivos
no quesito comportamento

Para a pesquisa foram realizadas 6.823 entrevistas em 33 países, questionando a força das normas sociais, como as pessoas interpretavam o tipo de comportamento esperado pela sociedade e como elas reagiam quando alguém se comportava de modo inapropriado. Eles definiram como nações rígidas aquelas onde costumes diários limitam o comportamento e de liberais as que incentivam e permitem diferentes tipos de comportamentos.

Ameaças à segurança, desastres naturais frequentes e uma alta densidade demográfica tendem a ser fatores típicos de um país mais rígido, revelou a pesquisa, que será divulgada na edição de sexta-feira do jornal “Science”.

O Paquistão, com alta densidade demográfica e um histórico de conflitos, foi classificado como o país mais rígido entre os pesquisados. Malásia, Índia, Singapura e Coreia do Sul aparecem na sequência.

No final da lista, com os países mais “liberais”, em último aparece a Ucrânia, embora as entrevistas tenham sido feitas em Odessa, uma das cidades mais cosmopolitas do país. Na sequência aparecem Estônia, Hungria, Israel, Holanda e Brasil.

“Israel é um caso muito interessante”, disse Gelfand. “Israel sofre muitas ameaças e conflitos e ainda assim tem uma cultura mais livre”, completou a psicóloga.

Top 10 - Países mais liberais

Ucrânia, Estônia, Hungria, Israel, Holanda, Brasil, Venezuela, Nova Zelândia, Grécia e Austrália são
os países menos rígidos

Ela atribui a característica ao fato de Israel ser um país jovem e com muitos imigrantes do leste da Europa, uma região que está entre as menos restritivas do mundo em termos de valores culturais. Além disso, ela diz, a tradição judia permite que haja mais debate e discussões na sociedade israelense, o que permite reduzir as restrições.

As “descobertas são consistentes com outras pesquisas sugerindo que a variabilidadeda população se infiltra em profundidade no funcionamento da mente humana”, diz a psicóloga da Universidade de Columbia, Ara Norenzayana, que também participou da pesquisa.

Ara cita como exemplo o fato de a pesquisa sugerir que a religião prospera quando "as ameaças à segurança, como guerras ou desastres naturais, estão em alta, e declina consideravelmente em sociedades com um alto nível de desenvolvimento econômico”, baixa mortalidade infantil,  maior igualdade de renda e maior acesso às redes de segurança social.

As entrevistas abrangeram adultos trabalhadores e estudantes e questionou sobre comportamentos que vão desde dar um beijo dentro de um banco a comer dentro da sala de aula. Além disso, aos entrevistados também foi pedido para classificar quão justificáveis eram alguns comportamentos, entre eles, reivindicar benefícios do governo para os quais você não tem direito, evitar pagar por transporte público, burlar impostos, homossexualidade, prostituição, aborto, divórcio e outros.

Culturas podem mudar na opinião de Gelfand. Ela cita como exemplo os Estados Unidos, que tende a ser um país menos restritivo, mas após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2011, aumentou a discussão para ampliar regras e restrições em aeroportos e outros lugares.

No final da pesquisa, o ranking dos 33 países, do mais rígido para o mais liberal, ficou assim: Paquistão, Malásia, Índia, Singapura, Coreia do Sul, Noruega, Turquia, Japão, China, Portugal, Alemanha (leste), Islândia, França, Hong Kong, Polônia, Bélgica, Espanha, Estados Unidos, Austrália, Grécia, Nova Zelândia, Venezuela, Brasil, Holanda, Israel, Hungria, Estônia e Ucrânia.