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Sob risco de conflito, Iêmen elege sucessor de ditador nesta terça-feira

Do UOL, em São Paulo

20/02/2012 21h00

Ameaçadas por uma insurgência no norte do país, um movimento separatista no sul e o fortalecimento da Al Qaeda, as eleições no Iêmen devem acontecer nesta terça-feira (21) para afastar do poder, após mais de 33 anos, o ditador Ali Abdullah Saleh. O único candidato é o atual vice-presidente, Abd Rabbo Mansour Hadi, com o apoio das potências ocidentais para escrever o mais novo capítulo da série de revoluções árabes.

Ditador do Iêmen pede perdão por erros no governo

O futuro presidente ocupará o cargo por dois anos e terá um governo de unidade nacional, além de apoio no Parlamento a ser indicado pelas urnas. O objetivo dele será garantir tranquilidade política e econômica até 2014, quando haverá um novo pleito –mais aberto e no qual radicais islâmicos poderão ganhar força para governar. Embora as perspectivas sejam difíceis, autoridades da região veem as eleições do Iêmen como um exemplo de transição.

Há um ano, protestos como os que derrubaram ditadores na Tunísia, Egito e na Líbia abalam o país do Oriente Médio. Em meio a tensões diplomáticas, Saleh aceitou a realização das eleições depois de ser vítima de um atentado que deixou quase todo o seu corpo queimado. O militar começou a governar o Iêmen do Norte em 1978 e, com a unificação em 1990, tornou-se ditador de cerca de 24 milhões de pessoas, em uma das regiões mais conturbadas do mundo.

Diplomatas e analistas temem a falta de interesse da população em legitimar a provável vitória de Hadi. O voto não é obrigatório no país e eleições fraudulentas na década de 90, vencidas com facilidade pelo ditador, ameaçam afastar os iemenitas das urnas. O atual vice-presidente trabalhou com Saleh de 1994 até recentemente, o que não chega a animar a população com a possibilidade de mudança de regime.

Guardas estão posicionados em algumas das principais zonas eleitorais para evitar ataques. Já houve suspeita de ações terroristas na região da capital, Sana’a. Adversários do Congresso Geral do Povo –partido dominante– vão boicotar as eleições e alguns dos seus membros já prometeram violência. O próprio Saleh, que está fora do país em tratamento médico, prometeu voltar para participar do processo político, o que gera ainda mais tensões no Iêmen.

Apesar das discordâncias políticas, os religiosos muçulmanos apoiam as eleições. Hadi, de 66 anos, já governou o país quando Saleh se afastou, em novembro, depois de um acerto com os vizinhos do Golfo Pérsico. Depois de eleito, além de aliviar a crise política, ele terá de lidar com uma nação em profunda crise econômica. Terá também a sombra do ex-ditador, que continuará como presidente do seu partido.