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No Equador, Rafael Correa busca reeleição já no 1º turno contra oposição à direita e à esquerda

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

17/02/2013 06h00

Em busca de sua segunda reeleição, o atual presidente do Equador, Rafael Correa, testará sua popularidade contra uma oposição enfraquecida tanto à direita quanto à esquerda, no primeiro turno das eleições equatorianas, que ocorrem neste domingo (17). Cerca 11,6 milhões de eleitores votam para escolher o presidente, 137 integrantes da Assembleia Nacional e cinco representantes do país no Parlamento Andino.

Rafael Correa

  • Guillermo Granja/Reuters ? 10.nov.2012

    Quem é: Formado economista nos Estados Unidos, chegou à Presidência em 2007, após surpreender e derrotar o magnata Álvaro Noboa, e foi reeleito em 2009. Como presidente, alinhou o Equador ao grupo de Hugo Chávez, convocou uma Assembleia Constituinte, que promulgou uma nova Constituição em setembro de 2008, reviu contratos com multinacionais do petróleo e renegociou a dívida externa.

    Partido/Coalizão: Aliança País

    Propostas: Diversificar a economia do país, acabando com a dependência das exportações de petróleo; aumentar o controle sobre o mercado; universalizar o acesso à saúde e à educação; erradicar a miséria; aumentar a transparência e combater a corrupção; democratizar o acesso aos meios de comunicação e regular a mídia.

As últimas pesquisas de opinião indicam que Correa, candidato do movimento Aliança País que governa o país desde 2007, deverá reeleger-se, com folga, já no primeiro turno. De acordo com os institutos, o atual presidente possui mais de 50% das intenções de voto.

Entre seus sete adversários, o que possui o melhor desempenho é o ex-banqueiro Guillermo Lasso, do movimento político Creo (Creando Oportunidades), de orientação de centro-direita e neoliberal. Segundo as pesquisas, ele detém, no máximo, 20% do eleitorado, seguido pelo ex-presidente deposto Lucio Gutierrez (Partido Sociedade Patriótica), com 5% das intenções, e pelo esquerdista Alberto Costa (Unidade Plurinacional das Esquerdas), ex-ministro das Minas e Energia de Correa.

A lei eleitoral equatoriana permite a eleição em primeiro turno em duas situações: se o candidato obtiver mais de 50% do eleitorado ou se receber 40% dos votos com uma vantagem de ao menos 10 pontos percentuais para o segundo colocado.

As pesquisas de intenção refletem a alta popularidade do mandatário, cujo governo é aprovado por mais de 70% dos equatorianos. Analistas creditam a dianteira nas pesquisas às políticas sociais implantadas e ao desempenho da economia durante os governos de Correa. Outro fator, apontam os especialistas, é o enfraquecimento da oposição tradicional.

“A oposição tem dificuldade em formular uma agenda alternativa à do governo de Rafael Correa. Eles ainda defendem a receita econômica neoliberal dos anos 90, que não se aplica mais”, sustenta Leonardo Valente, professor do curso de Relações Internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). “Há também um histórico de instabilidade no Equador antes de Correa que gerou uma grande impopularidade dos outros partidos”, acrescenta.

Guillermo Lasso

  • AP ? 14.fev.2013

    Quem é: Empresário e membro da Opus Dei, fez carreira ocupando cargos em bancos públicos e privados. Foi embaixador do país em 2003, durante o governo de Lucio Gutiérrez, e chefiou o Superministério da Economia (que agregava as pastas das Fianças e Energia), em 1999, na gestão de Jamil Mahuad. Integra uma coalização que reúne 20 grupos de oposição ao governo de Rafael Correa.

    Partido/Coalizão: Creo (Creando Oportunidades)

    Propostas: Manter as políticas sociais do atual governo; reduzir a criminalidade; defender a liberdade de expressão; atrair investimentos externos; lutar contra a corrupção e fortalecer a democracia.
     

“Os adversários se apoiam basicamente no discurso de que Correa é autoritário e exerce o controle sobre a mídia, mas isso não convence a população, que hoje tem emprego, casa, saúde e educação”, afirma Giorgio Romano Schutte, coordenador do curso de Relações Internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC).

O professor Rafael Pinto Duarte, consultor em relações internacionais, avalia que há um controle excessivo da informação por parte do governo em benefício de Correa. “O sistema de governo dele, ao mesmo tempo em que é progressista em muitos aspectos, é radical no controle da informação e populista no que se refere à promoção da imagem do governo junto ao eleitor.”

Oposição

Diante do cenário adverso, a campanha de Guillermo Lasso mantém a esperança de receber, de última hora, parcela significativa dos votos de 30% dos eleitores que se declararam indecisos. A campanha do oposicionista centra-se em críticas ao alinhamento de Correa à Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas, movimento capitaneado por Hugo Chávez), ao aumento dos gastos públicos e ao controle da imprensa por parte do governo.

Segundo os opositores, a participação do Equador no bloco liderado pela Venezuela afugenta investimentos externos e isola o país. Os adversários de Correa também acusam o governo de ser conivente com o aumento da criminalidade nos centros urbanos.

Lucio Gutiérrez

  • Guillermo Granja/Reuters ? 10.nov.2012

    Quem é: Engenheiro civil e ex-militar, foi presidente do Equador entre 2003 e 2005, quando foi deposto após uma rebelião popular--em protesto contra o nepotismo em seu governo-- seguida por um golpe de Estado. Fundou, em 2002, o Partido Sociedade Patriótica, o segundo maior do país.

    Partido/Coalizão: Partido Sociedade Patriótica

    Propostas: Assinar tratados de livre comércio com os Estados Unidos e a União Europeia; retirar o Equador d a Aliança Bolivariana para as Américas e romper com o chavismo; rever a concessão de asilo a Julian Assange; facilitar a presença de empresas estrangeiras no país; exigir visto para todos que entrarem no Equador, com o objetivo de reduzir a criminalidade.

Pela primeira vez, Correa terá adversários à esquerda, que têm o respaldo de movimentos sociais que antes estavam do lado do governo. Apoiado por uma coalizão de partidos comunistas e movimentos sociais, entre eles os indígenas do  Pachakuti, Alberto Costa lançou candidatura por discordar do modelo desenvolvimentista adotado pelo governo, baseado em grandes projetos de exploração mineral e petrolífera, financiados, em grande parte, por empresas estrangeiras.

Acosta, assim como Norman Wray, candidato do movimento Ruptura 25, sustentam que Correa deixou de cumprir a Constituição aprovada no país em 2008 e muito celebrada pelo mandatário. Criada em um momento de profunda mobilização social, a Carta Magna baseia-se em uma série de direitos sociais, da Natureza e dos povos originários, além de prever a participação de comunidades em projetos que impactam a natureza, o que, segundo os oposicionistas de esquerda, Correa deixou de respeitar.

A oposição de esquerda ao presidente também o acusa de não conduzir as reformas populares para as quais teria sido eleito, como as reformas agrária e monetária.

"Revolução Cidadã"

Caso seja eleito, Correa entrará em seu terceiro mandato seguido. O mandatário chegou ao poder em 2007, após um longo período de instabilidade política no país --entre 1996 e 2006, o Equador teve 15 presidentes.

O primeiro governo, entre 2007 e 2009, além da criação da nova Constituição, foi marcado pela expulsão da empresa brasileira Odebrecht do país --sob a alegação de que a construtora cometeu irregularidades em obras--; e pela auditoria da dívida pública, que culminou com uma redução de mais de 70% no valor dos títulos da dívida externa e ampliou a capacidade de investimentos do Estado.

Alberto Acosta

  • Kevin Granja/Reuters ? 15.jan.2013

    Quem é: Economista, foi ministro das Minas e Energia e presidente da Assembleia Nacional no primeiro governo de Rafael Correa. Rompeu com o governo, assim como vários partidos e movimentos, por discordar do modelo de desenvolvimento e considerar que Correa de distanciou do projeto para qual foi eleito.

    Partido/Coalizão: Montecristi Vive/Unidade Plurinacional das Esquerdas.

    Propostas: Promete seguir à risca a Constituição de 2008; radicalizar as reformas iniciadas por Rafael Correa; rever os projetos de mineração em áreas indígenas; democratizar o acesso à terra, à água e à comunicação e dificultar a presença de empresas estrangeiras no país.

Já no segundo mandato, Correa foi alvo, em setembro de 2010, de um grande protesto de setores militares revoltados com a redução de benefícios para a categoria. As manifestações chegaram a ser interpretadas como uma ameaça de golpe contra o presidente. Na época, Correa chegou a discursar em meio aos manifestantes, quando, aos berros, disse “me matem” para os presentes.

Também marcaram o segundo governo a concessão de asilo político a Julian Assange na Embaixada do Equador em Londres, fato que gerou uma crise diplomática com o Reino Unido; e o referendo de 2011, no qual foram aprovadas reformas no sistema judicial e nos meios de comunicação.

Num processo batizado pelo governo de “Revolução Cidadã”, em seis anos o acesso ao chamado Abono de Desenvolvimento Humano (ADH) --a versão equatoriana do Bolsa Família--, foi ampliado para 1,8 milhão de pessoas, o que representa cerca de 12% da população do país; os níveis de desemprego e de pobreza extrema foram reduzidos para os percentuais mais baixos da história do Equador; o orçamento da educação foi dobrado e o da saúde, triplicado.

Na economia, o Equador manteve um crescimento médio de 4% ao ano, ajudado pela alta dos preços do petróleo, principal produto de exportação do país.

OUTROS CANDIDATOS

CandidatoPartidoQuem é
Álvaro NoboaPrianConhecido como “magnata da banana”, é um dos homens mais ricos do Equador e disputa sua quarta eleição presidencial
Maurício RodasSumaAdvogado, defende propostas liberais, de centro-direita
Nelson ZavalaPartido Roldosista EquatorianoPastor evangélico, disputa a primeira eleição presidencial
Norman WrayRuptura 25Advogado, fundou o movimento Ruptura 25, que liderou as manifestações que culminaram com a deposição de Lucio Gutiérrez. Rompeu com o governo no ano passado para se candidatar.