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Embaixador da Bolívia vê "show político" de senador e o considera "fugitivo"

Guilherme Balza

Do UOL, em Brasília

27/08/2013 18h13Atualizada em 27/08/2013 18h55

O embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano Talavera, afirmou nesta terça-feira (27), em Brasília, que o senador boliviano Roger Pinto Molina fez um “show político” ao pedir asilo ao governo brasileiro. Segundo o diplomata, o parlamentar, que é opositor ao governo de Evo Morales, esteve em território brasileiro dois dias antes de pedir asilo na Embaixada brasileira em La Paz, em maio de 2012.

“Ele é senador do Estado de Pando, na fronteira com o Brasil. Ele estava em Cobija, a 100 metros da fronteira, e chegou a atravessar a fronteira dois dias antes de asilar-se [na embaixada]. Ele fez show político ao entrar na Embaixada, de surpresa. Acredito que ele atuou de má fé, e o governo brasileiro apressadamente lhe concedeu asilo”, afirmou, em entrevista na Embaixada boliviana no Brasil.

Talavera afirmou que o governo boliviano considera Molina fugitivo, e não um asilado político, dado que ele deixou a Embaixada do Brasil e atravessou a fronteira às escondidas, sem salvo-conduto. “Para os bolivianos, ele é fugitivo.”

O diplomata afirmou que, após atravessar a fronteira, Pinto Molina fez um pedido de refúgio às autoridades brasileiras.

A diplomacia boliviana entregou hoje uma nota ao Itamaraty cobrando explicações sobre a fuga de Molina e irá aguardar um posicionamento do governo brasileiro. A mesma nota foi entregue ontem na Embaixada do Brasil em La Paz.

O embaixador disse que se reuniu hoje de manhã com o embaixador do Brasil na Bolívia, Antonio Simões, atualmente em férias.

"Estamos pedindo as explicações do caso, que nos dê uma explicação das razões que motivaram esse acontecimento insólito.”

De acordo com ele, o Brasil ainda não deu explicações sobre o episódio, o que o governo boliviano compreende por tratar-se de uma situação "incomum", de transição de chanceleres. “O novo chanceler terá que tomar conhecimento do episódio para que a resposta seja adequada.”

Questionado se o governo boliviano sabia da situação e fez “vistas grossas”, o embaixador diz se tratar de “especulação”. “A Bolívia respeitou, durante todo o trajeto dos dois veículos com placa diplomática, o direito da extensão territorial e permitiu que os veículos transitassem com absoluta liberdade”, disse. “Não foi feito nenhum bloqueio porque isso está previsto no direito internacional.”

Talavera disse que o incidente não atrapalha as relações diplomáticas entre os dois países. Ele afirmou ainda que Brasil e Bolívia buscavam uma solução para a situação do senador por meio de uma comissão bilateral. Questionado sobre a demora para resolver o caso, ele afirmou que "na diplomacia são os feitos e os resultados que contam, não o tempo."

Por fim, Talavera disse que a Bolívia não concedeu salvo-conduto a Pinto Molina porque ele responde a várias acusações criminais na Justiça. "A não concessão do salvo-conduto está prevista na Convenção de Caracas."

Entenda o caso

O senador boliviano Roger Pinto Molina estava asilado na Embaixada brasileira em La Paz há mais de um ano. No último sábado, alegando más condições de saúde física e psicológica, foi retirado de lá com a ajuda do diplomata brasileiro Eduardo Saboia, responsável pela Embaixada.

A operação não havia sido autorizada pelo Itamaraty nem pelo governo brasileiro.

De carro, Saboia e Pinto viajaram por cerca de 22 horas até a fronteira entre Brasil e Bolívia. Já em território brasileiro, em Corumbá (Mato Grosso do Sul), encontraram o senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

O parlamentar brasileiro conseguiu um jato particular com amigos e trouxe Pinto Molina a Brasília, onde ele se encontra atualmente, abrigado na casa de seu advogado.

Após o envolvimento da diplomacia brasileira na fuga de um senador da Bolívia para o Brasil, o Palácio do Planalto comunicou na segunda (26) que o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, pediu demissão à presidente Dilma Rousseff, que aceitou o pedido. O novo ministro, Luiz Alberto Figueiredo, tomará posse nesta quarta. 

O episódio também fez a presidente Dilma reagir à declaração do diplomata Eduardo Saboia, que comparou as instalações da Embaixada brasileira ao DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), aparelho da ditadura responsável pela prisão dos presos políticos no Brasil.

"Um governo age para proteger a vida. Nós não estamos em situação de exceção. Não há nenhuma similaridade. Eu estive no DOI-Codi, eu sei o que é o DOI-Codi. E asseguro a vocês que é tão distante o DOI-Codi da embaixada brasileira lá em La Paz (Bolívia) como é distante o céu do inferno. Literalmente isso", afirmou a presidente após visita ao Congresso

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