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Levei dois tiros com balas de caça, lembra sobrevivente de massacre na Noruega

A norueguesa Cecile Herlovsen sobreviveu ao massacre na ilha de Utoya, em 2011 Imagem: Reprodução/9 News

Do UOL, em São Paulo

09/08/2014 14h52

Cecile Herlovsen, 19, uma das sobreviventes do massacre que causou a morte de 77 pessoas em Oslo, em 2011, relembrou em entrevista ao site 9 News, os momentos de pânico que viveu durante a tragédia, na qual perdeu sua melhor amiga. Ela levou três tiros, dois com balas usadas em caça, o que provocou a perda do braço.

A garota estava em um acampamento para jovens na ilha de Utoya, próximo a Oslo, que foi atacada pelo radical de extrema-direita Anders Behring Breivik em 22 de julho de 2011.

"Nós estávamos no prédio principal quando ouvimos os primeiros tiros. No início, ninguém entendeu o que havia acontecido, porque era um som tão absurdo de se ouvir em um acampamento de verão. Ouvimos vários outros tiros antes de vermos uma pessoa andando em direção ao prédio, apontando uma arma para nós."

Nos 90 minutos seguintes, Breivik caçou e matou todas as pessoas que cruzaram o seu caminho. "Todo mundo começou a correr para o outro lado do prédio para fugir dele. Eu lembro que me perdi no meio da multidão e não consegui achar minha melhor amiga, Andrine", contou Cecile.

"Acabamos presos em um corredor, porque não conseguimos abrir a porta. Lembro do silêncio assustador logo antes do barulho que ele fez chutando a porta. Então os tiros começaram de novo."

Fuga 

Cecile e seus amigos conseguiram escapar do prédio e tentaram se esconder em meio a "pequenas árvores", o que ela considera ter sido "uma decisão estúpida, porque estávamos bastante visíveis".

"Não sei quanto tempo esperamos lá, mas de repente eu o vi caminhando em nossa direção. Quando ele começou a atirar, o melhor que pudemos fazer foi deitar no chão e rezar para sobreviver", disse ela.

Cecile foi atingida três vezes por Breivik, duas delas por tiros de caça, que explodem ao atingir o alvo - um dos tiros arrancou seu braço direito.

"O primeiro tiro que me atingiu era uma bala usada para caça, do tipo que explode com o impacto. Atingiu o meu antebraço direito. Eu me lembro da dor me engolindo totalmente. Era tão intensa, e a sensação de ardência era tão surreal. Lembro de ter olhado para o meu braço e pensado: 'Esse não é meu braço. Tem que ser falso. Esse não pode ser meu braço'."

"A segunda bala também era uma bala de caça e atingiu meu ombro, mas não tenho lembranças disso. Eu não desmaiei, mas meu cérebro simplesmente não registrou o tiro", recordou.

"O terceiro tiro felizmente foi com uma bala normal, porque atingiu minha bochecha direita. Eu me lembro de sentir uma força empurrando meu rosto, mas não soube o que realmente aconteceu até me contarem no hospital."

Foi somente depois do tiroteio que Cecile encontrou sua amiga: "Vi Andrine deitada no chão com a barriga para baixo, com o rosto virado para o lado oposto ao meu. Assim que a vi soube que estava morta". "Gostaria de ter ido até lá e me despedido", continuou a garota, que nesse momento foi resgatada por policiais e paramédicos que retiravam os mortos e feridos da ilha.

Cecile disse que levou anos para voltar a ter uma vida normal após o massacre, mas que finalmente está em paz com o que aconteceu.  "Estou muito bem agora. Tenho amigos e uma família que me ajudou a superar isso."

Ela contou que raramente pensa no assassino que a atacou: "Eu o odeio, claro, mas ao mesmo tempo não me importo", explicou.

Cecile agora planeja usar sua experiência em superar situações difíceis para ajudar outras pessoas. Após terminar a escola ela quer trabalhar com adolescentes que enfrentam problemas.

Renúncia à violência

Em 2012, Anders Behring Breivik foi condenado a 21 anos de prisão, pena máxima na Noruega, mas com possibilidade de prolongação por tempo indefinido enquanto for considerado uma ameaça à sociedade.

Além de matar 69 pessoas na ilha de Utoya, o extremista causou a morte de mais oito pessoas em Oslo, ao detonar uma bomba em frente ao prédio onde ficava o gabinete do então primeiro-ministro Jens Stoltenberg, de orientação esquerdista.

Em 22 de julho passado, Breivik declarou por meio de seu advogado que renunciou à violência

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