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Em carta, grupo separatista ETA anuncia dissolução oficial

Imagem de 2011 de integrantes do ETA durante anúncio do "cessar definitivo de sua atividade armada" - Javier Etxezarreta/EFE
Imagem de 2011 de integrantes do ETA durante anúncio do "cessar definitivo de sua atividade armada" Imagem: Javier Etxezarreta/EFE

Do UOL, em São Paulo

02/05/2018 10h43

O grupo separatista basco ETA (Euskadi Ta Askatasuna, "Pátria Basca e Liberdade" em basco) confirmou, em carta, a dissolução oficial e completa de "todas as suas estruturas". O fim do grupo será marcado em um ato no próximo fim de semana em Cambo-les-Bains, no País Basco francês.

Na carta datada de 16 de abril, obtida pela agência EFE, o ETA diz ter decidido "encerrar seu ciclo histórico e sua função", "dando por terminada sua iniciativa política". Segundo a agência, ao menos um sindicato e movimentos sociais e econômicos confirmaram o conteúdo da carta, que foi enviada para dar segurança política às organizações de que o fim do ETA é definitivo.

Apesar disso, o ETA diz que o fim do grupo não põe fim ao conflito do País Basco com França e Espanha. "O conflito não começou com o ETA e não termina com seu fim", diz a organização, que voltou a reconhecer "o sofrimento provocado como consequência de sua luta".

Atentados do grupo deixaram mais de 840 mortos em 50 anos

Criado em 1959, o ETA lutava pela independência do País Basco, região autônoma do norte da Espanha, na divisa com o sul da França. Desde sua fundação, o grupo pediu que os governos dos dois países reconhecessem a independência dos sete territórios do País Basco: Álava, Guipúzcoa, Vizcaya e Navarra, na Espanha; Labort, Sola e Baixa Navarra, na França.

O grupo se se formou durante a ditadura espanhola do general Francisco Franco, que perseguiu durante os anos 1950 a cultura e língua basca (também chamada de euskara). Até 1975, enquanto Franco esteve no poder, o idioma foi proibido na Espanha.

A primeira vítima da organização foi um guarda civil assassinado em 1968 no País Basco. Em 1973, no entanto, o grupo atingiu um importante alvo em Madri assassinando o almirante Carrero Blanco, presidente do governo espanhol durante a ditadura de Franco.

Ao longo de mais de cinco décadas de atuação, o ETA realizou inúmeros atentados que deixaram mais de 840 mortos, incluindo 340 civis. Embora o grupo separatista não tenha conseguido a independência completa da região, o País Basco tem certas liberdades.

Desde 1979, o País Basco tem mais autonomia do que qualquer outra região da Espanha. Eles possuem seu próprio parlamento, força policial, controlam a educação local e coletam seus próprios impostos frente a uma população de cerca de 2 milhões de pessoas.

Com o passar dos anos, contudo, o ETA foi perdendo apoio popular por causa de seus atos violentos e da crescente autonomia da região. Com as prisões de quase 300 membros do grupo e com o enfraquecimento da liderança na última década, a organização foi trilhando um caminho para a dissolução.

Semanas atrás, no dia 20 de abril, o grupo publicou um comunicado em que reconhecia os “graves danos” causados por sua luta ao longo dos anos e pedia desculpas às vítimas “sem responsabilidade” no conflito.

No dia 21, milhares de pessoas protestaram pacificamente na cidade basca de Bilbao para pedir melhores condições aos presos do ETA. Com bandeiras do país basco em mãos, os manifestantes pediram que presos sejam transferidos para presídios perto de sua região de origem.

O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy, contudo, afirma que “o governo não vai mudar sua posição: terroristas não podem esperar um tratamento favorável… muito menos impunidade por seus crimes”. Faz parte da estratégia do governo prender os membros do ETA em diferentes prisões do território espanhol.

Desde 2011, o grupo não realiza mais atividades armadas e dialoga com o governo espanhol e francês. Em 8 de abril de 2017, os líderes da organização entregaram à justiça francesa uma lista com seus depósitos de armas. (Com agências internacionais)