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Assassino é poupado da morte por governador após revelação de que era agredido quando criança

Raymond Tibbetts foi condenado à morte por ter cometido um homicídio em 1997 - Ohio Department of Rehabilitation and Correction via AP
Raymond Tibbetts foi condenado à morte por ter cometido um homicídio em 1997 Imagem: Ohio Department of Rehabilitation and Correction via AP

Andrew Welsh-Huggins

Da Associated Press, em Columbus (EUA)

20/07/2018 18h37

O governador de Ohio (EUA), John Kasich, poupou na sexta-feira (20) um homem condenado por homicídio que teve a sentença contestada depois que um jurado se manifestou e afirmou que informações sobre a infância dura do assassino não foram apresentadas adequadamente no julgamento.

O governador republicano comutou a sentença de morte de Raymond Tibbetts para prisão perpétua sem a possibilidade de liberdade condicional, citando "falhas fundamentais" cometidas no julgamento do réu.

"Especificamente, a falha da defesa em apresentar evidências atenuantes suficientes, juntamente com uma descrição imprecisa da infância de Tibbetts pela promotoria, essencialmente impediu que o júri decidisse se o réu merecia a sentença de morte", disse Kasich.

A culpa de Tibbetts, de 61 anos, nunca esteve em dúvida. Ele recebeu a sentença de morte por esfaquear Fred Hicks até a morte na casa da vítima em Cincinnati, em 1997. O assassino também foi condenado à prisão perpétua por ter espancado e esfaqueado a própria mulher, Judith Crawford, de 42 anos, no mesmo dia do homicídio, durante uma discussão sobre o vício em cocaína do criminoso.

Hicks, de 67 anos, havia contratado o assassino como zelador e abriu as portas de sua casa para que Crawford e a mulher vivem com ele.

O processo contra Hicks parecia encerrado até que um ex-jurado, Ross Geiger, encontrou materiais apresentados em nome de Tibbetts ao Conselho de Condicional de Ohio, órgão estadual que tem como uma das funções abrir processo de clemência a condenados, que documentava fatos horríveis sobre os primeiros anos da vida do condenado, que os jurados nunca ouviram.

Quando Tibbetts era menino, ele e seus irmãos foram amarrados a uma cama de solteiro à noite, não foram alimentados corretamente, foram jogados escada abaixo, tiveram seus dedos batidos com espátulas e foram queimados em registros de aquecimento, de acordo com o pedido de clemência de Tibbetts, no ano passado.

Ross Geiger, um ex-jurado do caso, foi o responsável por pedir a clemência ao governador - John Minchillo/AP - John Minchillo/AP
Ross Geiger, um ex-jurado do caso, foi o responsável pelo pedido de clemência
Imagem: John Minchillo/AP

Geiger escreveu a Kasich em janeiro citando suas preocupações e pedindo que Tibbetts fosse poupado. Ele também testemunhou no Conselho de Condicional no mês passado em uma rara audiência de clemência. O órgão votou por 11 a 1 contra a misericórdia para Tibbetts no ano passado.

Geiger disse ao conselho que a criação de Tibbetts foi apresentada como um debate entre seus advogados, que disseram que seu passado era terrível, e promotores, que afirmaram que não era tão ruim assim.

"Fiquei impressionado e francamente chateado que a informação que estava disponível nem foi sequer abordada, a não ser de forma muito resumida", disse Geiger ao conselho.

Os comentários de Geiger não influenciaram o painel, que novamente recomendou contra a misericórdia para Tibbetts com uma votação de 8 a 1.

A decisão de Kasich na sexta-feira rejeitou essa decisão.

Geiger disse na sexta-feira que era grato ao governador por ter considerado suas preocupações com o que considerava um fracasso do sistema. "A verdade é o que mais importa para que você possa evitar uma situação como essa", disse ele à Associated Press em uma entrevista por telefone.

Geiger também expressou seu "maior respeito" pelas famílias das vítimas de Tibbetts, dizendo que elas tiveram de suportar 20 anos de incerteza.

Erin Barnhart, defensora pública federal que representa Tibbetts, afirmou que Kasich prestou um grande serviço ao Estado ao poupar o preso.

Promotores do condado já argumentaram que o histórico de Tibbetts não supera seus crimes. Isso inclui esfaquear Crawford após ele tê-la espancado até a morte, e depois esfaquear Hicks repetidamente, um “homem doente, indefeso e deficiente auditivo em cuja casa Tibbetts morava”, disseram eles à Comissão de Condicional de Ohio.