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De braço direito a delator: quem é Michael Cohen, o advogado que traiu Trump e por que ele fez isso

Jonathan Ernst/Reuters
Imagem: Jonathan Ernst/Reuters

Do UOL, em São Paulo*

25/07/2018 14h51

Há meses sendo alvo de atenção da mídia norte-americana e à beira de ser preso, na última terça-feira (24) o advogado Michael Cohen divulgou na imprensa o áudio de uma conversa particular e profissional com seu cliente, o presidente Donald Trump.

Na gravação feita por Cohen, os dois conversam sobre um suposto pagamento para calar a ex-modelo da Playboy Karen McDougal, que afirma ter tido um caso com Trump. O diálogo foi feito antes das eleições de 2016.

As agora chamadas “Cohen Tapes” (fitas de Cohen) foram entregues pelo advogado de Cohen à rede CNN e repercutiram no mundo todo. Até então, Trump negava qualquer pagamento ou negociação envolvendo a modelo. O gesto deixa claro que Cohen já não tem intenção alguma de proteger a imagem de seu ex-cliente - despertando também a fúria do mandatário. 

“Que tipo de advogado grava a conversa com o cliente?”, perguntou Trump no Twitter na manhã desta quarta (25). “Tão triste!”

A conversa revelada é o último capítulo de um escândalo que se arrasta por meses e ameaça a manutenção de Donald Trump na Casa Branca. Entenda a polêmica:

Quem é Michael Cohen

Michael H. Cohen tornou-se advogado de Donald Trump antes do atual presidente ser eleito, quando ele era "apenas" um grande magnata e apresentador do programa de televisão “O Aprendiz”. Cohen chegou a ser vice-presidente da Trump Organization e conselheiro especial de Trump.

Em 2016, Cohen pagou US$ 150 mil - depois reembolsados - à ex-modelo da Playboy Karen McDougal, para manter em segredo uma relação que ela teve com o presidente em meados dos anos 2000. O objetivo do pagamento era evitar que a história do caso fosse publicada por um tabloide e prejudicasse a corrida presidencial. 

O pagamento foi feito por meio de uma empresa apenas 11 dias antes das eleições, na qual Donald Trump venceu Hillary Clinton por uma margem bastante estreita. 

A história nunca foi publicada pelo tabloide, mas neste ano ela veio à tona e é investigada desde abril pelo FBI. No mês seguinte, Cohen deixou de ser advogado de Trump, mas seguiu com uma estratégia de lealdade ao ex-presidente - até a divulgação dos áudios nesta terça. Cohen pode ser acusado formalmente de fraude bancária, fraude eletrônica e por violação das regras para financiamento de campanha.

Trump nega ter tido um caso com a modelo e, a princípio, ter tido qualquer envolvimento na compra de seu silêncio, mas o novo advogado do presidente, o ex-prefeito de Nova York Rudolph  Giuliani, confirmou o pagamento em entrevista à Fox  News, em maio.

O que diz a gravação divulgada

Trump e Cohen aparentemente falam sobre um possível pagamento à empresa matriz do tabloide National Enquirer, que tinha comprado de McDougal os direitos para publicar a história do seu suposto caso com Trump.

Na conversa, Cohen diz a Trump ser necessário criar uma empresa "para a transferência de toda essa informação sobre o nosso amigo David". Segundo veículos de imprensa norte-americanos, esse "amigo" pode ser David Pecker, presidente da American media, Inc., empresa matriz da National Enquirer.

Após a sugestão de Cohen, Trump pergunta "que pagamento?", e o advogado responde: "Teremos que pagar".

É neste momento quando se escuta Trump dizer para fazer o "pagamento com dinheiro". A frase, no entanto, não está completamente audível e tem sido reivindicada pela nova defesa de Trump. Seu advogado, Giuliani, afirma que o que foi dito é “não pague com dinheiro”.

Por que o áudio vazou

Por meses leal a Trump, Cohen decidiu agora proteger sua própria imagem. O primeiro sinal da mudança de posição foi no dia 2 de julho, quando disse durante uma entrevista à ABC que devia lealdade a sua família e a seu país, e não a Trump. A declaração foi interpretada como um sinal de que ele iria colaborar com as investigações do FBI.

A divulgação dos áudios nesta semana, seguida por declarações do advogado de Cohen também à CNN, foi a cartada final no rompimento da relação Cohen-Trump e na definição dos campos de batalha no escândalo - que parece longe de um desfecho.

“Estamos falando de honestidade ante o descrédito falso de Michael Cohen. Por que Giuliani está difamando Cohen falsamente? Porque eles o temem”, disse o advogado Lanny Davis em rede nacional. 

O áudio entregue por Lanny Davis à CNN faz parte de um pacote maior de arquivos encontrados pelo FBI durante uma revista no escritório de Cohen. 

Pelo fato de não estar perfeitamente claro o que se diz nas gravações e as implicações que elas podem ter, a CNN optou por divulgar o áudio na íntegra, incluindo trechos irrelevantes. O âncora do jornal noturno do canal, Chris Cuomo, disse fazer questão que o telespectador “ouvisse ele mesmo” e que não incluiu uma transcrição por “haver uma disputa clara do que é dito.”

Para a CNN, Cohen ganhou a confiança do presidente por sua disposição em fazer qualquer coisa que o bilionário precisasse - e que mais ninguém estaria disposto a fazer. Ou seja, o “trabalho sujo”. Além do caso com a modelo da Playboy, ele é também investigado por comprar o silêncio da atriz pornô Stormy  Daniels, que também teria se envolvido com Trump. 

“Esse fato, assim como a decisão de abandonar Trump para se salvar do perigo legal (ou ao menos mitigá-lo) deve deixar Trump, Giuliani e o resto da Casa Branca de pernas bambas”, publicou o noticiário.

(*com Efe)