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Dinamarca veta véu em público, e mulheres de várias religiões se cobrem para desafiar o governo

Dinamarquesas protestam contra lei que proíbe uso de véu de rosto em público -  Mads Claus Rasmussen/Ritzau Scanpix/via Reuters
Dinamarquesas protestam contra lei que proíbe uso de véu de rosto em público Imagem: Mads Claus Rasmussen/Ritzau Scanpix/via Reuters

Do UOL, em São Paulo

13/08/2018 17h03

No começo do mês, a Dinamarca publicou uma lei que proíbe cobrir o rosto em ambientes públicos - o que, na prática, inviabiliza o uso do véu islâmico. Dois dias depois de a lei entrar em vigor, a primeira multa foi aplicada a uma muçulmana de 28 anos. 

Em resposta, diversas mulheres, muitas delas não muçulmanas, passaram a sair às ruas cobertas, desafiando a nova legislação. Outras, que não costumavam a andar cobertas, passaram a usar o niqab - a vestimenta islâmica que cobre a mulher dos pés a cabeça. 

Eu não vou tirar o meu niqab. Se eu tiver de tirá-lo, quero fazê-lo porque é um reflexo da minha escolha

Sabrina, 21, que estuda para ser professora e se opõe à nova legislação

Sabrina e outras mulheres criaram o grupo Kvinder i Dialog (Mulheres em Diálogo) para protestar e defender que as mulheres expressem sua identidade religiosa.

Cobertas mesmo após a lei estar em vigor, elas marcharam até uma delegacia de Copenhague para reclamar da nova legislação. 

De niqab, Sabina e Alaa se preparam para atravessar a rua no bairro de Norrebro em Copenhague - Andrew Kelly/Reuters - Andrew Kelly/Reuters
De niqab, Sabina e Alaa se preparam para atravessar a rua no bairro de Norrebro em Copenhague
Imagem: Andrew Kelly/Reuters

Filha de pais turcos e nascida na Dinamarca, a muçulmana Meryem, 20, usa o niqab desde antes de conhecer seu marido, que apoia seu direito de usá-lo. Ela também marchou por Copenhague.

"Todo mundo quer definir quais são os valores dinamarqueses. Eu acredito que você tem de se integrar na sociedade, que deve ter uma educação e assim por diante. Mas eu não acho que usar um niqab significa que você não pode se envolver com valores dinamarqueses", afirmou à Reuters Meryem, que tem uma vaga para estudar medicina molecular na Universidade de Aarhus.

Meryem planeja desafiar a lei, manter seu niqab e protestar contra a proibição.

"Eu sinto que essa lei legitima atos de ódio, mas, por outro lado, sinto que as pessoas estão mais conscientes do que está acontecendo. Eu recebo mais sorrisos nas ruas e as pessoas me fazem mais perguntas", disse Ayah, 37 anos.

Mathias Vidas Olsen, que trabalha com reproduções de joias da era Viking, está apoiando a campanha, fazendo pulseiras especiais e dando o dinheiro para o Kvinder I Dialog.

"Não sou a favor ou contra o niqab", disse o homem de 29 anos de Copenhague.

"Sou a favor do direito do povo de vestir o que quiserem, seja um muçulmano ou um punk. Eu vejo isso como o governo chegando em lugares que não pertencem e como um golpe barato em um grupo já estigmatizado para marcar pontos políticos baratos", completou.

A lei em vigor na Dinamarca é semelhante à implementada na França e em outros países da União Europeia. Os parlamentos dizem que o objetivo é defender o estado laico e a dignidade das mulheres. 

A legislação dinamarquesa diz que a polícia pode instruir mulheres a retirar seus véus ou ordenar que saiam de áreas públicas. 

As multas vão de mil coroas dinamarquesas (cerca de R$ 600) pela primeira violação a 10 mil coroas pela quarta.

Ayah, 37, enxuga as lágrimas dos olhos enquanto usa seu niqab no primeiro dia da implementação do veto ao véu, em Copenhague - Andrew Kelly/Reuters - Andrew Kelly/Reuters
Ayah, 37, enxuga as lágrimas dos olhos enquanto usa seu niqab no primeiro dia da implementação do veto ao véu, em Copenhague
Imagem: Andrew Kelly/Reuters