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Papa Francisco promete acabar com acobertamento de abusos sexuais na Igreja Católica

REUTERS/Tony Gentile
Imagem: REUTERS/Tony Gentile

Do UOL, em São Paulo

20/08/2018 08h13

O papa Francisco, que enfrenta crises simultâneas de abuso sexual por parte de clérigos em diversos países, escreveu uma carta inédita prometendo a todos os católicos do mundo que nenhum esforço será poupado para prevenir o abuso e seu acobertamento.

A carta divulgada nesta segunda-feira, endereçada ao "povo de Deus", também comenta o recente relatório de um grande júri no Estado norte-americano da Pensilvânia. Francisco disse que embora a maior parte dos casos mencionados no relatório "pertença ao passado", é claro que o abuso foi "por muito tempo ignorado, mantido em silêncio ou silenciado".

Segundo Francisco, qualquer ação nunca será suficiente para pedir perdão e buscar reparar o dano causado pelos abusos a menores por parte do clero. "Embora possamos dizer que a maioria dos casos pertence ao passado, podemos constatar que as feridas infligidas não desaparecerão nunca, o que nos obriga a condenar com força estas atrocidades", completa Francisco.

"Se um membro sofre, todos sofrem com ele. Estas palavras de São Paulo ressonam com força no meu coração ao constatar mais uma vez o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um notável número de clérigos e pessoas consagradas", diz a carta de Francisco.

O pontífice acrescenta que "a dor das vítimas e de suas famílias é também a nossa dor" e pede "que seja reafirmado mais uma vez o nosso compromisso para garantir a proteção dos menores e dos adultos em situação de vulnerabilidade".

As declarações foram feitas dias após a Suprema Corte da Pensilvânia divulgar o relatório de uma investigação sobre abusos sexuais cometidos por padres no estado. Mais de mil crianças foram vítimas

O relatório de cerca de 900 páginas foi baseado em depoimentos de dezenas de testemunhas e mais de meio milhão de páginas de documentos internos da Igreja. O número real de crianças abusadas e de padres que cometeram abusos pode ser ainda maior, pois algumas vítimas nunca denunciaram as ocorrências, e alguns documentos secretos da Igreja foram perdidos.

Os documentos analisados incluem relatórios de bispos para autoridades no Vaticano detalhando abusos que não foram divulgados publicamente nem encaminhados para autoridades policiais.

Embora reconheça que as dioceses tenham adotado certos procedimentos e pareçam estar encaminhando queixas mais rapidamente, os autores do relatório avaliam que ainda faltam mudanças essenciais. "Apesar de algumas reformas institucionais, alguns líderes da Igreja têm escapado de assumir a responsabilidade perante o público", afirma. "Padres estavam violando pequenos meninos e meninas, e os homens de Deus que eram responsáveis por eles não somente se isentaram, eles esconderam os fatos."

Os acusados de acobertar os escândalos incluem o atual arcebispo de Washington, Donald Wuerl, que teria ajudado a proteger padres quando era bispo de Pittsburgh. Segundo o relatório, bispos e líderes de dioceses usaram acordos de confidencialidade para silenciar vítimas e enviaram padres abusadores para "tratamentos", tendo permitido que centenas voltassem às suas ocupações.

Além disso, policiais ou procuradores por vezes não investigaram acusações por respeito a membros da Igreja ou por alegarem que os casos estavam fora de sua jurisdição, disse o grande júri.

A maioria dos casos já prescreveu, e mais de 100 padres envolvidos faleceram. Muitos outros se aposentaram, foram dispensados ou receberam licenças.

O relatório é considerado o mais abrangente sobre abusos cometidos por religiosos nos Estados Unidos desde que o jornal Boston Globe revelou em 2002 o escândalo dos padres pedófilos em Massachusetts.

(Com agências internacionais)