Ex-chanceler de Lula, Amorim diz que há "tentativa de golpe" na Bolívia

O ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim disse neste sábado que há uma "tentativa de golpe" contra o presidente da Bolívia, Evo Morales, e que a Unasul (União das Nações Sul-americanas), enfraquecida nos últimos anos, poderia ajudar a resolver a crise no país.

Amorim está em Buenos Aires, onde participa do segundo encontro do Grupo de Puebla, que reúne 32 líderes de esquerda da América Latina.

Enfrentando protestos desde as eleições presidenciais, há três semanas, o presidente boliviano Evo Morales diz que há "um golpe de Estado em andamento". Morales enfrenta ainda uma rebelião de policiais. A oposição, por outro lado, defende que houve fraude eleitoral.

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Ontem, Morales chamou partidos políticos ao diálogo, mas o principal líder da oposição, Carlos Mesa, afirmou que não tem nada a negociar com o governo.

"OEA não tem credibilidade"

O ex-chanceler brasileiro classifica a atual situação no país como "uma tentativa de golpe contra o Evo Morales, que foi eleito". "Ele próprio tomou a iniciativa de pedir uma auditoria e isso devia ter sido respeitado", disse.

Amorim também afirma que "é inaceitável que haja rebelião de policiais e que não haja uma defesa da constitucionalidade". "Não se pode aceitar essa questão de levante de polícia. Imagina se começar a haver levante de polícia no Brasil? A gente sabe quais seriam as consequências", afirmou.

Para o ex-ministro de Lula, o pedido de auditoria de Morales à OEA (Organização dos Estados Americanos) foi de "certa ingenuidade, porque a OEA não tem se comportado bem nas crises da região".

O organismo com mais capacidade para ajudar a resolver a crise na Bolívia, disse, seria a Unasul. "Você vê a falta que faz a Unasul", afirmou.

Criada em 2008, a União de Nações Sul-Americanas reúne os países do Mercosul, mais Bolívia, Venezuela, Guiana, Suriname, Colômbia, Peru, Chile e Equador. Nos últimos anos, foi enfraquecida pela ascensão de líderes de direita em vários países latino-americanos.

De acordo com Amorim, "a Unasul faria diferença porque a OEA não tem mais credibilidade". Ele questiona posicionamentos do secretário-geral do organismo, o uruguaio Luis Almagro, que criticou o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e disse que não se deve descartar uma intervenção militar para derrubar o seu governo. "Ele [Almagro] até é meu amigo, mas tomou um partido lamentável", disse Amorim.

Amorim lembra que o primeiro desafio da Unasul foi justamente na Bolívia, em 2008. Na ocasião, havia uma disputa entre Morales e os prefeitos dos departamentos da área do país conhecida como "media luna" (meia lua)."Com a atuação diretamente da Unasul foi possível resolver, encontrar uma solução", afirmou.

Grupo deve divulgar declaração sobre a Bolívia

Uma das declarações ao final do encontro do Grupo de Puebla deve ser sobre a situação da Bolívia. Marco Enríquez Ominami um dos fundadores do grupo, diz que os membros estão avaliando como podem ajudar o país.

Ontem, o ex-presidente colombiano e ex-secretário geral da Unasul, Ernesto Samper, pediu que as forças políticas da Bolívia "não percam o caminho democrático na solução das suas diferenças". Ele também pediu que a "legitimidade prevista na Constituição" do país seja respeitada.

Samper disse que uma saída pode ser o relatório com recomendações da OEA, que ainda será divulgado.

Para o ex-ministro petista Aloizio Mercadante, a posição do Grupo de Puebla é de reconhecimento do resultado proclamado pelo Supremo Tribunal Eleitoral da Bolívia, dando vitória a Morales, e de apoio às auditorias.

"Não nos associamos às tentativas de anular, não reconhecer o resultado e tentar forçar um segundo turno independente de uma avaliação mais cuidadosa. Isso está polarizado e criando uma crise muito delicada", afirmou.

Crise no Chile

Questionado sobre uma possível atuação da Unasul para resolver a crise no Chile, Amorim disse que o caso chileno é diferente.

"Não é um confronto entre dois setores, duas correntes políticas", disse. "Há protestos mais ou menos generalizados, de grande parte da população, contra um sistema. Então aí não é muito o caso de mediação. Pode-se imaginar que chegue a isso, mas não acho provável. Acredito que os próprios chilenos vão encontrar uma solução para a situação."