'Propósito é salvar vidas': brasileiros em tropa chegam a Kiev 'sitiada'
Herculano Barreto Filho
Do UOL, em São Paulo
12/03/2022 16h05
Brasileiros que dizem integrar uma tropa de elite da Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia chegaram hoje para uma missão na capital Kiev em meio ao cerco das tropas russas na região, com bombardeios durante a madrugada. O assessor da presidência ucraniana, Mikhailo Podolyak, afirmou que a capital "está sitiada".
Leanderson Paulino, André Kirvaitis e André Hack registraram imagens em Kiev em seus perfis no Instagram. Ao UOL, os combatentes brasileiros confirmaram participação na unidade, que conta com cerca de 20 mil estrangeiros, segundo o governo ucraniano.
Em vídeo postado nos stories Hack registrou o próprio fuzil dentro de um veículo com a localização em Kiev. Em seguida, captou imagens suas em uma área residencial da cidade. Já Kirvaitis gravou o deslocamento de um veículo mostrando o seu fuzil e dizendo estar na capital. Ambos têm passagens pela legião estrangeira francesa, unidade militar que permite a participação de estrangeiros.
O grupo também conta com a presença de Leanderson Paulino, ex-militar do exército brasileiro, ex-agente penal e que atuou como bombeiro por três anos em Lisboa, Portugal. Ele postou fotos e vídeos portando um fuzil em meio a outros combatentes.
Em entrevista ao UOL pelo WhatsApp neste sábado (12), disse que se alistou junto às tropas ucranianas como voluntário e que os combatentes brasileiros da sua unidade não estão sendo remunerados.
O propósito é salvar as vidas inocentes que estão no meio desse terror"
Leanderson Paulino, combatente brasileiro na Ucrânia
O governo ucraniano criou um site no dia 5 de março de recrutamento de estrangeiros com formação militar para a Legião Internacional de Defesa do Território, com contato de consulados e embaixadas ucranianas espalhadas pelo mundo, incluindo o Brasil.
Um homem, que se identificou como ex-militar do exército brasileiro com atuação na missão de paz no Haiti, disse estar a caminho de solo ucraniano para atuar como mercenário. "Eu luto por dinheiro", disse em entrevista ao UOL, sob condição de anonimato.
Ex-soldados multilíngues estão sendo contratados em todo o mundo por US$ 2 mil ao dia (o equivalente a R$ 10 mil) para ajudar no resgate de família, aponta reportagem da BBC.
A Embaixada da Ucrânia no Brasil confirmou que mais de cem pessoas se ofereceram para se alistar junto ao exército ucraniano. O UOL publicou reportagem revelando gasto de até R$ 7 mil do próprio bolso de brasileiros que dizem estar dispostos a morrer para defender o povo ucraniano.
'No meu pelotão, estão os melhores'
O trio de combatentes brasileiros afirma integrar uma unidade especial com outros dois alegados voluntários portugueses. Paulino informou ter deixado Londres, na Inglaterra, para se apresentar às forças ucranianas.
"Eu fui convidado para fazer parte de uma tropa especial, não estou mais como um militar convencional. No meu pelotão, estão os melhores. Militares de várias nacionalidades, que já operaram no Afeganistão, Iraque e Síria. São guerreiros experientes", disse.
Já Kirvaitis foi de carro da Alemanha até a Polônia, onde se alistou na fronteira com a Ucrânia. "A gente veio para ajudar a Ucrânia, porque os outros países não estão fazendo nada. Não tem como deixar o povo à mercê de ser invadido por outro país", revelou.
Em nota enviada à reportagem, o Exército do Brasil confirmou a passagem de Paulino como recruta no interior pernambucano entre 1º de março de 2013 e 10 de janeiro de 2014. A entidade também registrou a presença de Kirvaitis no 21º Depósito de Suprimento em São Paulo entre 1º de março de 2013 e 21 de março do ano seguinte.