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'Não sei se minha família estará viva', diz palestina sobre bombardeios

A palestina Maynara Nafe, que vive no Brasil, teme pela segurança dos familiares Imagem: Arquivo pessoal / Mayara Nafe

Do UOL, em São Paulo

08/10/2023 15h58

A palestina Maynara Nafe, 21, teme pela segurança de parentes após bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. Ao UOL, ela disse que a onda de violência se estende pelo território da Cisjordânia e que palestinos têm sofrido discriminações após o grupo radical Hamas assumir a autoria do ataque contra Israel, no sábado (7).

O que acontece

A escalada da violência na Cisjordânia, território palestino que faz fronteira a leste com Israel, aumentou significativamente nos dois últimos dias. Segundo Maynara, que é secretária de juventude da Fepal (Federação Árabe Palestina do Brasil), foi possível perceber desde ontem o aumento da violência. "O risco de sair de casa e não voltar é muito grande. Ontem e hoje, se uma pessoa sai de casa, é quase certeza que de não vai voltar."

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Maynara mora no Brasil, mas relata que vive momentos de intensa preocupação desde ontem, quando recebeu informações de parentes em território palestino. "Tive um momento de colapso pessoal. Não sei o dia de amanhã, não sei se amanhã minha família vai estar viva. Não sei se as pessoas vão estar vivas", afirma.

Ela conta que tem três tios, quatros primos e tios-avós vivendo na Cisjordânia atualmente. "Cerca de 80% da minha família mora lá. Meus avós também viviam lá até 2019, quando faleceram." A jovem conta que, no sábado (7), acordou com uma ligação da prima. "Ela me ligou chorando às 5h, dizendo que não sabia como seria o dia de amanhã."

Maynara afirma que conversou com uma prima e um tio ontem. "O primeiro contato que eu tive foi com a minha prima. Ela me passou essa situação de desespero, foi o primeiro contato. Ela me disse: 'Não sei o que fazer, os bombardeios vão começar.'" Momentos depois, ela relata que conversou com o tio: "Ele disse que não estava com medo, que ele se deparava com a morte todos os dias".

Tive um momento de colapso pessoal. Não sei o dia de amanhã, não sei se amanhã minha família vai estar viva. Não sei se as pessoas vão estar vivas.
Maynara Nafe, palestina-brasileira com parentes na Cisjordânia

Vista do quintal da casa em que vivem familiares de Maynara Nafe, na Cisjordânia Imagem: Arquivo pessoal / Maynara Nafe

Distâncias e fronteiras

A Cisjordânia está localizada a 93,2 km da Faixa de Gaza, segundo Maynara. Isso faz com que os efeitos da violência em Gaza repercutam também em territórios vizinhos. "A gente consegue perceber [os bombardeios] porque o ar muda, surge uma fumaça mais densa no céu. É possível ver as bombas atiradas. Conseguimos ficar sabendo mesmo se não tivéssemos acesso às notícias."

"A Faixa de Gaza é completamente cercada desde 2007. Ninguém entra nem sai sem a autorização de Israel. Ninguém quer deixar a família, ninguém quer sair. Entrar lá é quase impossível", diz Maynara.

A região enfrenta limitações para o acesso à água e à energia. Segundo ela, é proibida a entrada de itens como chocolates no território. Maynara relata que, durante a pandemia de covid-19, não entravam insumos nem alimentos no território da Faixa de Gaza.

Palestinos vivem sob desespero, diz a jovem. "Tudo que está acontecendo lá é muito complicado. A partir da fala do meu tio, entendi uma coisa: as pessoas que vivem não tem o que perder. É como se fosse uma última tentativa essa resistência. É como se nascessem para morrer, como se não tivessem o direito de viver."

Discriminação e medo

Para Maynara, os territórios palestinos vivem sob "um sistema colonial". "Tenho muita admiração pelos palestinos que vivem lá neste momento, sei o quanto é difícil ocupar a Palestina. Mas é um sentimento misto porque sabemos que corremos risco de vida o tempo todo."

Após o Hamas ter assumido a autoria dos ataques contra Israel, a população palestina tem sido alvo de discriminação e xenofobia. "A comunidade palestina no Brasil é muito grande. Estamos vivendo um problema muito grande, estamos sendo constantemente atacados."

Maynara relata que o pai, que também vive no Brasil, está preocupado com as consequências dos bombardeios. "Ele disse que tem muito medo das reações. Não sabemos o que pode acontecer."

Crise humanitária

Os ataques iniciados pelo Hamas contra a Israel abrem um período de incertezas e crise humanitária no território palestino. Nas últimas horas, as autoridades israelenses cortaram o abastecimento de energia elétrica para a região, deixando milhares de pessoas sem luz.

Gaza vive sob o bloqueio de Israel há 16 anos. O isolamento provoca um cenário humanitário considerado crítico, com pobreza e fome dominando os 2 milhões de habitantes.

Neste período, quatro conflitos atingiram a região. De um lado, grupos palestinos acusavam Israel de transformar Gaza em uma prisão a céu aberto. De outro, israelenses acusavam o Hamas de usar o sofrimento dos civis para justificar seus objetivos políticos.

Segundo a ONU, as taxas de pobreza na comunidade de refugiados palestinos, que constituem a maioria da população de Gaza, estão em torno de 81,5%. O PIB per capita de Gaza —de cerca de US$ 1.000 por ano— é atualmente quatro vezes menor do que o dos países vizinhos ou mesmo o da Cisjordânia.

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