Como guinada à direita explica desafio de Netanyahu e 'bronca' de Biden
Colaboração para o UOL*
09/11/2023 04h00Atualizada em 09/11/2023 15h56
Após pouco mais de um mês de guerra entre Israel e Hamas, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, têm tido discordâncias, indicando um racha na visão do futuro do conflito entre dois países que foram são grandes aliados de primeira ordem.
Netanyahu está se alinhando à direita radical de Israel, para manter apoio e prestígio. No entanto, isso faz com que ele não aceite os planos de gestão sugeridos pelos EUA.
O que diz Joe Biden
Joe Biden aponta como solução para a guerra a efetivação de dois Estados nacionais. O presidente norte-americano já reforçou diversas vezes sua posição de apoio a Israel, mas também acenou aos palestinos ao dizer que não se pode ignorar inocentes que "querem viver em paz".
Oposição a nova ocupação. Por meio de representantes, o governo dos Estados Unidos também já expressou oposição a uma nova ocupação de Gaza, território controlado desde 2007 pelo grupo extremista Hamas.
Biden "mantém posição de que reocupação das forças israelenses não é adequada", disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
EUA intermediaram plano para gestão de Gaza e pronta implantação do Estado da Palestina. No último final de semana, o secretário de Estado e o diretor da CIA Antony Blinken negociou com o Egito, a Jordânia, a Turquia e o Iraque, e garantiu a retirada de Israel da Faixa de Gaza ao fim do conflito —durante a guerra, o acordo é de uma pausa humanitária em alguns pontos.
Solução seria a ANP (Autoridade Nacional Palestina) assumir o controle de Gaza. A Palestina é una e indivisível, disse Blinken no encontro com Mahmoud Abbas, presidente da ANP. Ainda dentro do plano, uma força da ONU, formada por soldados árabes e turcos, ficaria estacionada em Gaza na tentativa de manter a paz.
O que diz Benjamin Netanyahu
Israel responsável por segurança em Gaza. Em alguns dos primeiros comentários diretos sobre os planos israelenses para o futuro de Gaza após a guerra, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que Israel assumiria a responsabilidade pela segurança do território por um período indefinido assim que derrotar os militantes que o controlaram nos últimos 16 anos.
"Não será uma ocupação". Ron Dermer, ministro israelense de Assuntos Estratégicos, disse à MSNBC que o primeiro-ministro israelense "não falou sobre ocupar Gaza" depois da guerra com o Hamas. Ao ser questionado sobre como o país exercerá a responsabilidade, ele respondeu que a questão está em aberto, mas garantiu que "não será uma ocupação".
Netanyahu não aceita cessar-fogo sem libertação de reféns. Apesar disso, diante da pressão norte-americana, ele se mostrou aberto a uma pausa humanitária e admitiu, domingo (5), que um voo jordaniano arremessasse remédios, por paraquedas.
Interesses políticos. O primeiro-ministro calcula cada passo pensando em sua própria sobrevivência política pós-guerra. No passado, Netanyahu aliou-se à direita radical, composta por religiosos ortodoxos e supremacistas judeus, para obter maioria e tornar-se primeiro-ministro.
Permanência no poder. Agora, segundo analistas hebreus laicos, a direita radical israelense promete garantir a maioria para Netanyahu continuar como premiê depois do fim do conflito. Para isso, ele deverá adotar a posição do grupo político, ou seja, manter o enclave de Gaza ocupado por tropas de Israel e continuar a adiar a instalação do Estado palestino.
*Com Reuters, AFP e reportagem publicada em 07/11/2023