Filha no exército de Israel: 'Tive medo terrível e me juntei a outras mães'
Quando Noa Cohen, 21, recebeu a notícia de que teria de deixar Tel Aviv para servir ao exército israelense após o ataque do grupo extremista Hamas, a mãe dela, a arquiteta Eti Dentes, 53, começou a viver dias de aflição.
"Estávamos super assustadas. Não sabíamos o que estava acontecendo. Como ela é minha filha única, o medo foi terrível porque não sabia para onde iam levá-la. Estava com muito medo", contou Eti ao UOL.
A mensagem chegou na madrugada de domingo (8), por volta das 4 horas da manhã e, horas depois, Noa já estava embarcando para a base militar.
A jovem israelense é reservista, segundo a mãe, e uma vez por ano tinha de passar por treinamentos que duravam apenas uma semana. No país, o serviço militar é obrigatório para garotos e garotas de 18 anos. Agora, a família não sabe quanto tempo a permanência no exército vai durar.
Eti nasceu na Argentina, morou no Brasil durante a juventude e, aos 21 anos, mudou-se para Israel, onde construiu a família.
Era uma sensação horrível sem saber se ela voltaria, principalmente porque pouco a pouco tínhamos informações sobre amigos que haviam morrido, que estavam naquela festa. Confesso que nos primeiros dias tive um pensamento egoísta de só conseguir agradecer por ela não estar lá.
Eti Dentes
A jovem trabalha no controle de qualidade de munições. Desde a despedida no dia 8 de outubro, a comunicação entre as duas ocorre por trocas de mensagens e ligações.
É também pelo celular que a mãe tenta dar o suporte emocional para a filha, que é uma das poucas mulheres na base militar em que está trabalhando.
"Ela já me ligou chorando e eu tive de acalmá-la, mandar um abraço virtual, ajudá-la a respirar. No exército, ela tem de mostrar que está sempre forte, mas não tem uma pessoa que não tenha perdido um amigo", diz a mãe.
É muito triste porque sempre tem notícia de alguém que não voltou, alguém que está desaparecido. É difícil não estar com ela nesses dias para poder abraçá-la e consolá-la.
Eti Dentes
Noa já teve a oportunidade de voltar para casa duas vezes, segundo Eti, mas as visitas foram rápidas —e silenciosas.
"Ela já voltou para dormir, comer, tomar banho. Ficou só 6 horas e teve de voltar. Assim que ela chegou em casa, só a abracei e a deixei chorar, em silêncio. Já fui visitá-la na base também. A gente sempre tenta dar um jeito."
Grupo de mães
Sozinha em casa há mais de um mês, Eti diz que tem recebido apoio de outras mães que estão vivendo a mesma realidade.
"Todas as minhas amigas estão na mesma situação. Temos todas a mesma idade e quase todas têm filhos jovens. Temos um grupo de mães onde fazemos mutirão para cozinhar para ajudar as bases dos nossos filhos. Quando estamos nessas atividades, conversamos sobre eles", diz Eti.
Vejo muitas mães aflitas porque não podem nem sequer escutar a voz dos filhos, que estão em Gaza, onde não há sinal de telefone. Tentamos conversar, abraçar uma a outra. As amigas são nossa rede de segurança. A gente nem discute política. Falamos só sobre a nossa preocupação de mãe com os nossos filhos.
Eti Dentes
Desaparecidos
Além dos encontros com outras mães, Eti também tem reservado seu tempo para participar das manifestações que cobram uma resposta do governo de Israel sobre os desaparecidos.
Professora de arquitetura em uma universidade, ela diz que já escutou relatos de alunos que tiveram os pais sequestrados ou irmãos cujo paradeiro é desconhecido.
"Não sabemos nada sobre essas pessoas. Vou lá para abraçar esses familiares que ficaram. A manifestação é para alguém dar uma resposta, para que o governo faça de tudo para devolver esses desaparecidos", diz ela.
Estamos lá para prestar solidariedade com a família que não sabe onde estão seus parentes. Às vezes o que precisamos é só ficar em silêncio, acender uma vela, tocar uma música. São manifestações silenciosas e tristes.
Reféns do Hamas
A estimativa é de que cerca de 240 reféns —israelenses e estrangeiros— estejam nas mãos do Hamas desde o ataque de 7 de outubro. Há semanas, familiares têm pressionado as autoridades para trazê-los de volta em segurança.
Desde o 7 de outubro, a guerra entre Israel e Hamas já deixou 11 mil mortos. Do lado palestino, mais de 10 mil vítimas foram registradas, incluindo 4 mil crianças. Do lado israelense, o número de mortos já ultrapassa 1.200 pessoas.
Nesta quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU aprovou um pedido de pausa humanitária em Gaza. O governo de Benjamin Netanyahu, no entanto, deixou claro que não vai cumprir o que o texto pede.