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'Comem pão com ração': do Brasil, ele faz apelo para tirar família de Gaza

Do UOL, em São Paulo

19/02/2024 08h52

Nascido na Arábia Saudita, mas com cidadania brasileira desde o ano passado, Ahmed Khaled Abdulqadir Alhabil, 37, faz um apelo para tirar suas duas irmãs da Faixa de Gaza.

Não tem água, não tem alimentação. As pessoas estão fazendo pão com ração de animal para conseguir comer. Está bem complicada a situação.

Ahmed morou na região da Palestina de 2005 a 2011 e vive em São José, na Grande Florianópolis (SC), há seis anos. Os pais dele e outro irmão também têm cidadania brasileira e moram em Santa Catarina. Mas as duas irmãs nasceram e vivem em Gaza há mais de 30 anos.

A guerra com Israel as obrigou a fugir de casa e o lugar onde moram hoje, de forma improvisada, não tem internet, energia elétrica e nem telefone —por isso, a comunicação com os parentes no Brasil está cada vez mais difícil.

Ahmed explica que só consegue falar com as duas a cada 10 dias. Ao UOL, ele relatou o desespero dos parentes:

"Fugiram por causa do bombardeio"

"Asmahan e Fatma são gêmeas, com 48 anos, e estão vivendo em um apartamento com 50, 60 pessoas, que deve ter 60 metros quadrados.

Elas vivem na Faixa de Gaza há muito tempo, quase 30 anos. As duas têm maridos e fizeram a vida por lá, com filhos. Asmahan tem 6 filhos, além do genro, e Fatma tem 4 filhos. Elas não sabem falar português ou inglês, mas minhas sobrinhas estão ajudando com o inglês.

Ahmed, as irmãs e a sobrinha Imagem: Arquivo pessoal

O exército israelense faz bombardeios perto da casa da minha família, em Rafah [cidade palestina que no sul da Faixa de Gaza]. Eles estão com muito medo, em perigo, vivendo nesta cidade que fica próxima à fronteira com o Egito, sem saber se devem ficar ou fugir para outro lugar.

Quando começou a guerra, minhas irmãs fugiram com as famílias, por causa do bombardeio, e foram para um campo de refugiados ao lado de um hospital. Depois, com a situação ficando cada dia pior, fugiram para outro bairro dentro da Faixa de Gaza.

Família de Ahmed uma semana antes do início da guerra Imagem: Arquivo pessoal

"Minha família só quer sair da região"

Entramos em contato, com a ajuda de uma amiga, com o Ministério das Relações Exteriores: conseguimos conversar, mas ainda estamos sem respostas, porque, apesar de termos cidadania brasileira, minha família é estrangeira.

Falei com a Embaixada do Brasil em Ramallah [cidade palestina] e eles informaram que não há uma nova lista para os cidadãos [deixarem o país]. Estamos sem respostas e seguimos pedindo ajuda ao governo brasileiro.

Queremos apenas retirá-los da Faixa de Gaza. Pode ser no Brasil, pode ser no Egito ou em qualquer país vizinho. Assim que essa guerra acabar, sei que vão querer voltar para a Palestina."

O que diz o governo

O UOL entrou em contato com o Itamaraty duas vezes e não teve resposta formal até o momento. Por telefone, informaram que analisariam a situação da família de Ahmed. O espaço segue aberto.

Ahmed ao lado dos pais e de uma amiga em vídeo enviado às autoridades brasileiras Imagem: Arquivo pessoal

O órgão informou que 1.560 brasileiros e familiares próximos que estavam em Israel ou na Palestina já foram retirados da região desde 10 de outubro, segundo nota à imprensa do dia 8 de fevereiro.

O presidente Lula esteve no Egito na semana passada e, em sua fala, condenou Israel pela guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza.

Está matando mulheres e crianças a pretexto de derrotar o Hamas, coisa vista em nenhuma guerra que eu tenha conhecimento.

O Hamas lançou em 7 de outubro de 2023 a maior ofensiva em anos contra Israel. Em resposta, o premiê Binyamin Netanyahu declarou guerra e, logo depois, Tel Aviv realizou bombardeios aéreos contra a Palestina. O número de mortos no conflito passa dos 20 mil, no total.

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