México suspende relações com Equador: entenda a crise entre os países
Do UOL, em São Paulo*
06/04/2024 13h24Atualizada em 06/04/2024 13h31
O governo do México rompeu relações diplomáticas com o Equador após a polícia equatoriana ter invadido ontem (5) a embaixada mexicana em Quito para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas, alvo de um mandado de captura por suspeita de desvio de recursos públicos.
O início da crise diplomática
A crise entre os dois países teve início na última quarta-feira (3), quando o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, argumentou que o assassinato do candidato presidencial equatoriano Fernando Villavicencio, dias antes do primeiro turno eleitoral, em agosto de 2023, teria influenciado as tendências de votação nas eleições de outubro, vencidas pelo atual presidente Daniel Noboa.
Segundo o dirigente mexicano, o crime de Villavicencio criou um "ambiente contaminado de violência" que, somado à "manipulação" por parte de alguns meios de comunicação, provocou a queda nas pesquisas da candidata de esquerda Luisa González e a ascensão de Noboa.
As autoridades equatorianas ficaram indignadas com as críticas de López Obrador, segundo a agência de notícias Reuters.
O governo de Noboa considerou que os comentários do presidente mexicano "ofendem o Estado equatoriano", pois o país ainda está de "luto". Sete pessoas detidas pelo assassinato de Villavicencio foram mortas na prisão.
Asilo político e invasão na embaixada
A tensão entre os dois países aumentou devido à presença na embaixada do México do ex-vice-presidente do Equador Jorge Glas (2013 - 2018), que tem duas condenações por corrupção e estava refugiado na sede diplomática mexicana desde meados de dezembro.
Homem próximo ao ex-presidente equatoriano de esquerda Rafael Correa (2007-2017), Glas foi libertado da prisão em novembro de 2022, após ter cumprido parte de uma pena por corrupção em um escândalo envolvendo a construtora brasileira Odebrecht (atual Novonor). Em seguida, se tornou alvo de outro mandado de captura devido a um suposto desvio de fundos para a reconstrução de áreas destruídas por um terremoto em 2016.
O anúncio da concessão de asilo ao ex-vice-presidente equatoriano aconteceu um dia depois que o governo do Equador declarou "persona non grata" a embaixadora mexicana Raquel Serur e ordenou sua saída do país.
Horas depois, a polícia equatoriana invadiu a embaixada mexicana e prendeu Glas, depois do governo do Equador classificar como 'ilegal' o asilo concedido ao ex-presidente.
O assalto à embaixada mexicana deixou algumas pessoas feridas, incluindo o encarregado de negócios da sede diplomática, Roberto Canseco, algemado no chão enquanto tentava impedir a ação da polícia.
"Isso é barbárie, é inaceitável. Não é possível que se viole uma sede diplomática dessa forma", disse Canseco, que assumiu o comando da missão no lugar da embaixadora Raquel Serur Smeke.
Após a invasão da embaixada, o presidente do México ordenou a suspensão das relações diplomáticas com o Equador. "Trata-se de uma violação flagrante do direito internacional e da soberania do México", disse López Obrador. O artigo 31 da Convenção de Viena estabelece que as embaixadas são territórios nacionais e, por isso, invioláveis.
O México vai às urnas em junho, e até candidatos de oposição condenaram a invasão à embaixada como um atentado contra a soberania do país. "Essa embaixada representa o Estado mexicano e é inviolável", disse o presidenciável Jorge Álvarez Máynez.
Solidariedade brasileira ao México
O Itamaraty condenou neste sábado (6) a invasão da embaixada do México pela polícia do Equador. "A ação constitui clara violação à Convenção Americana sobre Asilo Diplomático e à Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas", afirmou o órgão, por meio de nota.
Lula repostou a nota nas redes sociais e prestou solidariedade a Obrador, com quem tem boas relações e a quem chamou de "amigo".
*Com informações da Reuters e Ansa Brasil.