Nova estratégia: EUA já treinam para guerra com a China em ilhas remotas
Do UOL, em São Paulo*
08/04/2024 04h00
As Forças Armadas norte-americanas têm adotado novas estratégias de guerra em treinamentos militares para um possível combate naval contra adversários chineses, conforme apurou o jornal The Washington Post.
Nova estratégia militar
Um regimento militar de fuzileiros navais nos Estados Unidos é treinado como parte da atual estratégia do país para combater potenciais adversários de guerra como a China. As informações são de uma reportagem do The Washington Post.
As equipes do 3º Regimento Litorâneo do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA são treinadas no Campo de Pohakuloa, no Havaí. O treinamento é para atuar em ilhas remotas e estrategicamente posicionadas na parte ocidental do Oceano Pacífico.
Em vez de lançar tradicionais ataques anfíbios [operações militares para possibilitar a incursão de tropas em território inimigo a partir do mar], as novas equipes são treinadas para a atuação de uma força conjunta maior e mais ágil, segundo os comandantes navais ouvidos pelo jornal.
O objetivo do regimento seria sincronizar operações de soldados, marinheiros, "marines" e aviadores norte-americanos com forças militares de aliados dos EUA no Pacífico, como Filipinas, Japão e Taiwan.
Os fuzileiros navais teriam como objetivo reunir informações de inteligência e dados sobre alvos e compartilhá-los rapidamente — além de afundar navios ocasionalmente com mísseis de médio alcance — para ajudar a Frota do Pacífico e a Força Aérea dos EUA a repelir ataques inimigos contra o país e seus "parceiros", conforme apurou a reportagem do The Washington Post.
Fuzileiros navais 'invisíveis' na linha de frente
O Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA aposta na tática de colocar uma força "interina" de milhares de "marines" na linha de frente dos combates. Ao mesmo tempo, tentaria tornar os seus soldados "invisíveis" a radares e outros tipos de ferramentas eletrônicas de detecção.
O objetivo é que a nova equipe seja a primeira a chegar em um conflito para levantar informações e mandar coordenadas para que a Força Aérea possa "disparar mísseis contra fragatas chinesas a centenas de quilômetros de distância ou mandar informações sobre alvos para contrapartes filipinos que sejam capazes de mirar um míssil de cruzeiro em um destróier no contestado Mar do Sul da China", segundo a reportagem.
O coronel John Lehane, comandante do regimento, afirmou ao jornal que o papel "mais valioso" da nova estratégia não é conduzir ataques letais, mas a capacidade de "ver as coisas no espaço de batalha". A estratégia também visa a "obter dados de alvos e perceber o que está acontecendo quando outras pessoas talvez não consigam".
A nova estratégia das forças norte-americanas é promissora, afirmam analistas ouvidos pelo jornal. No entanto, enfrenta dificuldades significativas, especialmente se uma guerra com a China, de fato, ocorrer.
Múltiplos riscos para os EUA
Entre as dificuldades enfrentadas pelos EUA, estão desafios logísticos diante de uma vasta região marítima. Além disso, o fornecimento de equipamentos e tecnologias é dificultado por disputas sobre o orçamento no Congresso, a indústria de defesa está sobrecarregada e há incertezas sobre a permissão por parte de parceiros regionais para que forças norte-americanas entrem em combate a partir dos seus territórios.
Após vinte anos de combates terrestres no Oriente Médio, os "marines" norte-americanos estariam enfrentando dificuldades para se adaptar ao combate naval, que poderia irromper ao longo de milhares de quilômetros de arquipélagos e costas marítimas na Ásia.
Os riscos enfrentados pelos EUA também aumentam diante de uma ostensiva modernização militar de Pequim, com altos investimentos chineses no setor nas últimas duas décadas.
A construção de ilhas artificiais para instalar postos militares avançados no Mar do Sul da China e a expansão de bases chinesas nos Oceanos Índico e Pacífico seriam alguns dos investimentos que desafiam a capacidade dos EUA de controlar mares e céus em qualquer conflito no Pacífico Ocidental.
A China não apenas possui as maiores Forças Armadas da região, como conta com a vantagem de "jogar em casa". Pequim mantém cerca de 1 milhão de soldados, mais de 3 mil aeronaves e aproximadamente 300 embarcações em atividade nos arredores para qualquer possível batalha, detalha a reportagem.
Nós passamos a maior parte dos últimos 20 anos olhando para um adversário terrorista sem armas sofisticadas, que não tinha acesso a um poder nacional em sua plenitude. E agora temos de reorientar nossas formações para alguém que pode ter essa capacidade.
Coronel John Lehane ao The Washington Post
*Com reportagem do The Washington Post