Crise Israel-Irã pode virar guerra generalizada no Oriente Médio?
A possibilidade de o ataque do Irã a Israel no último sábado (13) escalar para uma guerra generalizada no Oriente Médio está nas mãos do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Pressionado pelo Ocidente, de um lado, e por aliados ultraconservadores, de outro, ele terá de decidir com que força militar responderá ao ataque do Irã, avaliam professores de relações internacionais consultados pelo UOL.
O que aconteceu
Para a ONU, uma guerra generalizada na região é um perigo real. No domingo, o secretário-geral da organização, António Guterres, afirmou que "o Oriente Médio está à beira do abismo". "As pessoas da região estão enfrentando o perigo real de um conflito devastador em grande escala", afirmou.
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Aliados extremistas querem resposta dura de Netanyahu. Alvo de denúncias de corrupção e criticado pela população por não prever o ataque do Hamas no ano passado, o primeiro-ministro se sustenta no cargo graças a uma aliança ultraconservadora, que já exigia dele a aniquilação do Hamas e agora o pressiona por uma retaliação exemplar contra o Irã.
Já o Ocidente pede moderação. No domingo, Estados Unidos, Rússia, China, G7 e a ONU pediram a Netanyahu que evitasse o revide. Além do perigo de a guerra se espalhar, eles argumentam que Israel conseguiu se defender bem dos ataques, já que 99% dos explosivos foram interceptados por um escudo antimísseis.
Israel não pode comprometer sua frágil relação com os árabes. Apesar de não ter a simpatia dos vizinhos, Israel conta hoje com Egito e Catar na mediação do conflito com o Hamas. Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão também vêm normalizando as relações com Israel nos últimos anos.
O ministro do Gabinete de Guerra de Israel defendeu o fortalecimento da aliança com os árabes. No domingo, Benny Gantz afirmou que, antes de revidar, "a aliança estratégica e o sistema de cooperação regional que construímos (...) precisam ser fortalecidos justamente agora".
Face ao desejo dos nossos inimigos de nos prejudicar, iremos nos unir e no tornar mais fortes.
Benny Gantz, ministro
Guerra no Oriente Médio não interessa ao mundo árabe. Uma guerra generalizada enfraqueceria os países da região, "que fazem barulho, mas não podem enfrentar o material bélico de nações ocidentais", diz Maristela Basso, professora de direito internacional na USP.
Eles [árabes] são inteligentes para perceber que as chances de vitória são mínimas em uma guerra contra o Ocidente.
Maristela Basso, professora
Irã não quer escalar o conflito. Após os bombardeios, o chefe das Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri, disse que o ataque "atingiu todos os seus objetivos" e que Teerã não tem "nenhuma intenção" de manter a operação.
Ataque do Irã foi, na verdade, um revide. O professor de relações internacionais da FGV Leonardo Paz lembra que Israel matou um importante comandante iraniano, entre outros membros da Guarda Revolucionária Iraniana, em um ataque ao consulado do Irã em Damasco, na Síria, no início do mês.
A resposta do Irã "foi muito bem calculada". "Antes de atacar, ele avisou os Estados Unidos com dois dias de antecedência, justamente para que Israel fosse alertado e se defendesse", diz Paz.
Esse ataque calculado abriu uma janela para Israel não escalar o conflito. Agora fica na mão de Netanyahu aproveitar essa janela ou não.
Leonardo Paz, professor
Netanyahu precisa sair?
Para não cair, Netanyahu insufla as tensões. "Quando os conflitos diminuírem, ele será visto como responsável pela falha de segurança no atentado do ano passado (de outubro de 2023)", diz Pontin. "Por isso ele quer manter as hostilidades."
Mantê-lo no poder "é aumentar as chances de guerra regional", diz Basso. "A saída dele e a entrada de um primeiro ministro moderado provavelmente controlaria o conflito", diz.
A oposição começa a pedir alternativas a Netanyahu, lembra Paz, da FGV. "Ele tem medo de deixar o governo e responder a uma série de processos, por isso se mantém refém de uma coalizão conservadora", diz.
Ele é um fator que gera instabilidade e, neste momento, é mais imprevisível do que o Irã.
Leonardo Paz, professor