Bolívia: Mobilização militar fez Morales renunciar à Presidência em 2019
Do UOL, em São Paulo
27/06/2024 04h00
A Bolívia —que sofreu uma tentativa fracassada de golpe nesta quarta-feira (26)— já havia passado por instabilidade política em 2019. Naquele ano, o terceiro mandato do então presidente Evo Morales foi interrompido por pressão de militares e opositores.
O que aconteceu
Evo Morales renunciou à Presidência da República em meio a uma profunda crise política. Na ocasião, ele se disse vítima de um golpe "cívico-político-policial" e afirmou que tinha renunciado ao cargo para tentar pacificar o país. Foi pressionado pela oposição, pelas Forças Armadas e por três semanas intensas de protestos nas ruas após questionamentos à tentativa da quarta reeleição.
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Deixou sede do governo às pressas. Após a renúncia, Morales saiu a cidade de La Paz e usou o Twitter para denunciar que era alvo de um "mandado de prisão ilegal" e vítima de um golpe.
Governo teve outras baixas. O então vice-presidente, Álvaro García Linera, o presidente da Câmara, Victor Borda, e a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, também deixaram o cargo, além de outros dois ministros.
Pressão também partiu de militares. O comandante-chefe das Forças Armadas da Bolívia, o general Williams Kaliman, chegou a pedir Morales que renunciasse ao seu mandato. "Após analisar a situação conflituosa interna, pedimos ao presidente de Estado que renuncie a seu mandato presidencial, permitindo a pacificação e a manutenção da estabilidade, pelo bem da nossa Bolívia", disse o general Kaliman à imprensa.
Morales assumiu a Presidência da Bolívia em 2006. Em 2019, ele era considerado o líder há mais tempo no poder na América Latina. Tentava a sua quarta eleição consecutiva. Venceu o processo com dez pontos de vantagem (margem mínima necessária para evitar o segundo turno) sobre o rival Carlos Mesa. Mas a apuração de votos foi interrompida durante quase um dia inteiro, o que provocou acusações de fraude e desencadeou protestos, greves e bloqueios de rodovias.
Evo Morales renunciou à Presidência da Bolívia em novembro de 2019.
Quase 5 anos depois, militares tentam invadir palácio
Bolívia voltou a enfrentar instabilidade política cinco anos depois. O presidente Luis Arce, sucessor de Evo Morales, foi alvo de uma tentativa de golpe praticado por militares bolivianos, que colocaram tanques e tropas em frente à sede do governo, em La Paz, na quarta-feira (26).
Militares entraram no Palácio Quemado, sede do governo. Algumas imagens mostram tanques posicionados e agentes fardados usando escudos para fechar o local e impedir que outras pessoas entrem na praça Murillo, onde fica o prédio do governo.
A tentativa de golpe foi liderada pelo general Zúñiga, ex-comandante do exército, e outros três comandantes. Ele ficou cara a cara com o atual presidente, Luis Arce, que exigia a retirada dos militares. O momento foi captado por uma emissora local.
Arce nomeou três novos chefes para as Forças Armadas da Bolívia. Depois do anúncio, militares que invadiram o Palácio Quemado se retiraram das imediações da sede do governo em La Paz.
O ex-comandante do Exército boliviano foi preso. A polícia deu voz de prisão a Juan José Zúñiga no início da noite, em La Paz. Ele e demais envolvidos na tentativa de golpe serão investigados. No documento, o Ministério Público da Bolívia ainda alertou para uma possível fuga de Zúñiga do país. A emissora estatal Bolivia TV obteve o mandado de prisão contra o ex-comandante, onde a detenção é apontada como uma medida "proporcional".