Ex-deputado espanhol é expulso pelo governo Maduro, denuncia oposição
Do UOL, em São Paulo
27/07/2024 18h07
A Venezuela expulsou o ex-deputado espanhol Víctor González, convidado pela oposição como observador das eleições que serão realizadas neste domingo (28).
O que aconteceu
Oposição fez a denúncia nas redes sociais. "O ex-deputado espanhol Víctor González foi deportado pelo regime. Exigimos que a sua integridade física seja respeitada e que os abusos parem", escreveu a equipe de campanha de Edmundo Rodríguez Urrutia, principal candidato da aliança de oposição.
Víctor González chegou a Venezuela na sexta-feira (26) e foi expulso neste sábado (27), dez minutos após conceder entrevista ao site de notícias OK Diario, crítico ao regime de Maduro.
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Vídeos gravados no momento da deportação foram divulgados pela equipe de Urrutia. Nas imagens é possível observar que agentes foram buscá-lo no hotel onde estava hospedado em Caracas, capital da Venezuela, e o levaram até o aeroporto.
González, ex-deputado de Vox por Salamanca, também foi expulso da Bolívia no ano passado. Isso aconteceu quando ele acompanhava as eleições no país, sob a justificativa de "atos de ingerência".
Governo Maduro já havia barrado avião com ex-presidentes e uma comissão formada por dez deputados e senadores da Europa. "Acho que são ridículos porque sabem que são persona non grata, são pessoas muito repudiadas, são a extrema-direita racista e fascista. Não foram convidados pelo poder eleitoral e o poder eleitoral decide quem convida e quem não convida", reagiu Maduro ao falar sobre os políticos barrados.
Venezuelanos que vivem na Colômbia são barrados na fronteira
Incidente ocorreu às vésperas de pleito na Venezuela. O atual presidente, Nicolás Maduro, busca o seu terceiro mandato — ele está no poder desde 2012, após o falecimento do então mandatário Hugo Chávez. O seu governo é alvo de críticas e é marcado pelo crescimento da pobreza, superinflação e criminalidade.
O rival de Maduro é o diplomata Edmundo González Urrutia, de 74 anos. É o principal candidato da aliança de oposição, já que a ex-deputada María Corina Machado, favorita nas pesquisas, foi impedida pela justiça de ocupar cargos públicos.
Vídeos gravados pela agência de notícias AFP mostram diversos venezuelanos sendo barrados por agentes da fronteira.
"Eu queria votar de onde venho, e é por isso que vim de Cali [na Colômbia]", explica José Almado. Ele gastou quase um milhão de pesos colombianos (cerca de R$ 1.402) para viajar à Venezuela para votar.
O governo de Caracas ordenou o fechamento das fronteiras entre 26 e 29 de julho, segundo a AFP. O argumento utilizado pela equipe de Maduro é "garantir a inviolabilidade da fronteira e impedir as atividades de pessoas que possam representar uma ameaça à segurança".
Na terça-feira (23), o governo da Colômbia anunciou que militarizaria as fronteiras com a Venezuela. O objetivo seria proteger a soberania nacional em meio às crescentes tensões no país vizinho em decorrência das eleições presidenciais.
Oposição em vantagem
Pesquisas de intenção de voto independentes dão vantagem à oposição, mas Nicolás Maduro não parece pronto a deixar o cargo. A campanha terminou na quinta-feira (25) com comícios em Caracas dos dois candidatos, Maduro e o concorrente da oposição Edmundo Gonzalez Urrutia.
O clima de final de campanha era festivo nas ruas de Caracas nesta quinta-feira. Nada sugeria que as pesquisas colocam Maduro atrás de Gonzalez Urrutia, com cerca de 30% das intenções de voto.
"Nicolas Maduro vencerá com 56% ou mais!", exclamou Lizmary Carballo, ativista do PSVU (Partido Socialista Unido da Venezuela). "Vai ser difícil porque há muitas pessoas que não conseguem ver além da ponta do nariz e não veem o que está acontecendo", reconheceu.
A mobilização é uma das chaves para a votação de domingo na Venezuela. Uma participação elevada poderia beneficiar a oposição que realizou uma campanha atípica. Maria Corina Machado, uma das principais líderes da direita, bastante radical em suas posições contra o governo de Maduro, venceu as primárias, mas foi declarada inelegível.
Ela foi substituída em abril passado por Edmundo Gonzalez Urrutia, um ex-diplomata, quase desconhecido, de fala mansa que nunca atacou frontalmente seu oponente. "O apelo à reconciliação entre os venezuelanos esteve no centro da minha campanha", declarou recentemente, dizendo estar confiante na vitória.
'Guerra civil'
Há poucos dias, o líder chavista, no poder há 11 anos, sugeriu que não pretendia largar as rédeas do país. "Se não querem que a Venezuela caia num banho de sangue, numa guerra civil, certifiquem-se de que teremos a maior vitória possível", disse ele a seus apoiadores.
Declarações que foram duramente criticadas pelo presidente Lula, apesar de ser um aliado tradicional de Nicolás Maduro.
O presidente venezuelano reagiu criticando os sistemas eleitorais do Brasil, da Colômbia e dos Estados Unidos. "Quem se assustou que tome um chá de camomila", rebateu o venezuelano.
Denúncia contra Maduro
Veículos foram sabotados. Na semana passada, María Corina Machado denunciou que os carros que usa para se deslocar durante a campanha eleitoral foram alvo de sabotagem, um deles com os freios cortados.
A ex-deputada mostrou em um vídeo duas caminhonetes manchadas com tinta prateada estacionadas em um condomínio fechado em Barquisimeto, no estado de Lara, e afirmou que a tampa do cárter do motor de uma delas foi retirada, para que perdesse todo o óleo, e que "cortaram as mangueiras dos freios" da outra.
Segundo a ONG Foro Penal Venezolano, dedicada à defesa de presos políticos, mais de 100 prisões já foram feitas relacionadas com a campanha da oposição.
*Com informações das agências AFP, ANSA e DW