A guerra entre Donald Trump e Kamala Harris pela geração Z
A menos de três meses das votações, a corrida eleitoral americana entra em sua fase final. Em um país extremamente polarizado, Kamala Harris e Donald Trump disputam o voto da geração Z, casta eleitoral jovem, politizada e bastante preocupada com quem será o próximo presidente dos Estados Unidos.
Trump e Kamala travam guerra por eleitorado jovem
Kamala Harris explodiu no TikTok. O perfil @KamalaHQ, anteriormente usado para divulgar a campanha presidencial de Joe Biden (sob o nome @Biden-HarrisHQ), ganhou pouco menos que 3 milhões de seguidores desde a desistência do atual presidente em se reeleger. Com linguagem próxima e apoio de artistas, a estratégia da democrata tem gerado números para sua campanha.
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Democrata usa artistas e cortes de discursos por engajamento. Desde que começou sua campanha, Kamala fomentou a ligação de sua figura política a artistas populares entre os jovens, como Taylor Swift, Beyoncé, o rapper Quavo, que chegou a participar de um comício dela, e Charli XCX, que a chamou de "brat" (descolada, despojada) em suas redes sociais, em referência ao seu último álbum. Edições que remixam discursos de Kamala e músicas dos artistas mencionados acumularam milhões de visualizações na plataforma:
Já Trump cedeu à entrevista com streamer. Pela 1ª vez nas três campanhas presidenciais que realizou, o republicano aceitou fazer uma entrevista em live, com o popular streamer norte-americano Adin Ross. Nela, foi questionado sobre suas ideias para o país, mas também participou de jogos, ouviu música e recebeu um Tesla Cybertruck, carro da empresa de Elon Musk, personalizado com uma foto sua.
Ex-presidente pediu votos para "quem gosta do TikTok". Ao fim da entrevista, Ross pediu a Trump deixar uma mensagem a seus seguidores no TikTok, de maioria masculina. "Trump vai manter o TikTok, enquanto Biden e Harris não têm ideia sobre o que significa. Tudo que vão fazer será bom para a China, então não vamos fazer. Trump vai salvar o TikTok", completou, após gravar sua dança clássica.
Rede chinesa tem importância ímpar em eleição. Segundo Ioana Literat, professora-associada de comunicações da Universidade de Columbia, o TikTok "é um divisor de águas nas campanhas políticas modernas, especialmente quando se trata de alcançar a Geração Z".
Um TikTok bem elaborado pode gerar alcance orgânico substancial sem a necessidade de grandes gastos com anúncios. Além disso, o TikTok permite uma mistura de humor, criatividade e informação, o que é ideal para captar a atenção do público mais jovem. Os candidatos que podem aproveitar a plataforma de forma eficaz podem não apenas divulgar suas posições políticas, mas também construir uma imagem relacionável e acessível.
Dada a importância do engajamento digital no cenário político atual, o TikTok não é apenas uma ferramenta opcional, mas um componente crítico de qualquer estratégia de campanha visando conquistar a Geração Z.
Ioana Literat, professora-associada da Universidade de Columbia e estudiosa do comportamento da geração Z em redes sociais
Qual a importância da geração Z para eleições americanas?
Jovens eleitores são 41 milhões, representando entre 20% e 25% dos votantes. Para Literat, "o potencial da geração Z para ser decisivo nas eleições presidenciais de 2024 não pode ser ignorado". Dados do Tisch College apontam que 45% dos novos eleitores são negros, casta eleitoral favorável a Kamala Harris.
Participação jovem pode ser recorde nestas eleições. Literat diz que, historicamente, as gerações mais novas costumam ir menos às urnas do que as mais velhas, o que estaria mudando recentemente. Em 2016, 42% dos jovens votaram. Em 2020, esse percentual cresceu a 55%, e pode aumentar ainda mais nestas eleições.
"Não existe geração Z como grupo sólido", diz pesquisador. Jared McDonald, professor-assistente na Universidade de Mary Washington e pesquisador sobre a geração Z, argumenta que "não há o voto da geração Z", e que a divisão se centra entre homens e mulheres do grupo. "Mulheres tem inclinado à esquerda, enquanto homens votam um pouco mais à direita", diz ele.
Grupo é ativo politicamente, embora se importe com questões diferentes. Entre os jovens democratas, as principais preocupações são mudanças climáticas e questões raciais. Já entre os novos republicanos, imigração é considerada um dos principais problemas do país. Entretanto, ambos os grupos se preocupam de maneira semelhante à disponibilidade de empregos e a massacres em escolas.
Intenção política de jovens americanos é diferente da de seus pais. McDonald argumenta que enquanto outras gerações escolhem um candidato por patriotismo, em vez de preferência pessoal, os membros da geração Z possuem um desejo de "fazerem suas vozes serem ouvidas", e votam se o candidato ressoar com seu sentimento político.
Kamala não tem eleição ganha entre jovens por ser de minoria. Jared McDonald diz que a geração Z prefere candidatos de minorias, como negros e mulheres, mas que isso não é suficiente para receberem votos de jovens. Ele argumenta que se os novos eleitores votarem em Harris, será por compactuarem com suas ideias, e não somente por ela "fugir do molde de um presidente" dos Estados Unidos. "Ambos os candidatos precisarão demonstrar uma compreensão clara e compromisso com os valores e o futuro da Geração Z para garantir seus votos", completa Ioana Literat.
Não deve haver mudanças bruscas, mas cada voto importa. Ambos os pesquisadores concordam que com as eleições muitas vezes sendo vencidas ou perdidas por margens estreitas, especialmente em estados indecisos, o voto da Geração Z pode inclinar a balança.
Kamala tem vantagem contra Trump entre jovens, diz pesquisa. Uma pesquisa eleitoral realizada pelo Pew Research Center com 7.000 pessoas apontou que 57% das pessoas entre 18 e 29 anos pretende mvotar em Kamala, enquanto 29% preferem Donald Trump.