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Queimadas: as lições da Austrália para prevenir e combater o fogo no Brasil

Foto mostra avião em operação durante incêndio florestal em Nova Gales do Sul, na Austrália Imagem: Saeed Khan/AFP

Do UOL, em São Paulo

15/09/2024 05h30

Com clima e vegetação secos, a Austrália é um dos países mais propensos a incêndios florestais no mundo. O governo australiano se prepara todos os anos para enfrentar as queimadas — e pode ensinar ao Brasil como fazer isso.

Como Brasil pode aprender com Austrália

Foco australiano é em minimizar danos. O governo da Austrália considera que "fogo sempre ocorreu naturalmente" no país, e que não é possível evitar que incêndios aconteçam. Entretanto, enxergam que há atitudes a serem tomadas para prevenir que o fogo se espalhe demais ou mesmo tenha sua intensidade reduzida.

Controle da terra é principal estratégia. Auditores do governo australiano fazem questão que materiais inflamáveis — madeira, arbustos, grama seca — sejam retirados de áreas de florestas, e que áreas mais sensíveis a queimadas sejam de fácil acesso a bombeiros.

"Brasil precisa criar cultura de prevenção", diz coordenador do Cemaden. José Marengo, coordenador-geral de pesquisas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, diz que o Brasil precisa "estar preparado para prevenir incêndios, não só para combatê-los", e que as queimadas que o Brasil enfrenta são uma "desgraça anunciada pela ciência".

Na Austrália, bombeiros são treinados especialmente para combate a queimadas. Embora muitos combatentes sejam voluntários, os bombeiros australianos são treinados especialmente para combater incêndios florestais. Marengo defende que o mesmo ocorra no Brasil: "custa dinheiro, mas é preciso".

Educação social é pilar para contenção de incêndios. Antes da época de queimadas, o governo australiano promove campanhas de educação sobre o que fazer para reduzir danos. Entre as recomendações, estão: preparar aceiros em volta das casas; aparar galhos para ficarem longe de residências; tirar folhas de calhas; aparar grama, deixando-a verde e curta, e manter escadas perto de janelas.

Austrália combate "fogo com fogo". Povos aborígenes realizam queimas controladas há anos na Austrália, e as estratégias foram adotadas pelo governo local. Tudo é realizado considerando a umidade do ar, combustibilidade das plantas, topografia, temperatura, frequência de chuvas e outros fatores. No Brasil, a prática também é utilizada, mas os procedimentos variam de estado para estado, seguindo a legislação específica.

Governo usa força-tarefa quando ocorrem incêndios. Durante o "Black Summer", megaincêndio que afetou 80% da população do país em 2020, por exemplo, agiram pelo menos 3.940 bombeiros, 3.000 membros das Forças Armadas e 440 socorristas. O governo afirma que 500 aviões e helicópteros estiveram disponíveis para ajudar no combate a incêndios, despejando milhares de litros de água, espuma e gel sobre as áreas afetadas, enquanto milhares de veículos estavam prontos para transportar bombeiros e agentes.

É importante que o Brasil aprenda com controle de incêndios na Austrália, na Califórnia, no Mediterrâneo. Neste momento, tem que apagar o fogo de qualquer maneira, mas há necessidade de preparação, ter planos de contingência.
José Marengo, coordenador-geral de pesquisas do Cemaden

Causado por raios, 'Black Summer' destruiu florestas

"Megaincêndio" afetou 80% dos australianos. O período entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020 foi chamado de "Black Summer" (Verão Negro, em inglês), devido à fumaça intensa e escura que cobriu o céu da Austrália.

Fogo queimou 24,3 milhões de hectares. Embora incêndios florestais naturais sejam relativamente comuns na Austrália, órgãos governamentais do país identificaram que o período registrou ar excepcionalmente seco e solo pouco úmido, que amplificaram muito as queimadas.

Mais de 400 pessoas e 1 bilhão de animais morreram devido a incêndios. O governo australiano registrou 34 mortes diretas de humanos pelos incêndios, sendo seis delas bombeiros que trabalhavam na contenção dos incêndios, além da destruição de 3.000 edifícios. Entretanto, um estudo da Universidade da Tasmânia indicou que a fumaça foi responsável por pelo menos 417 mortes humanas, 1.124 hospitalizações por problemas cardiovasculares e 2.027 por problemas respiratórios.

Fumaça australiana chegou ao Brasil. Moradores do Rio Grande do Sul entraram em contato com a fumaça dos incêndios, que atravessou o Atlântico. À época, a empresa de meteorologia MetSul avisou que apesar do céu ficar acinzentado, "não eram nuvens". Entretanto, a chuva "lavou" a fumaça e impediu que se espalhasse por outros estados.

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