OPINIÃO
Biden repete erro de Hillary e dá narrativa de bandeja para Trump
Josette Goulart
Da TixaNews
30/10/2024 10h18
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Vocês estão ligados que teve um comediante que foi abrir o principal comício de Trump e chamou Porto Rico de ilha do lixo, né? O que fez o presidente Joe Biden? Participou ontem à noite de uma videochamada com o grupo Voto Latino, apoiadores de Kamala, e disse: "O único lixo que vejo por aí são seus apoiadores — sua demonização dos latinos é inconcebível e antiamericana." Sério, Biden? Não é possível, BRASEW.
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A Casa Branca correu dizer que fez a transcrição do evento e o que ele disse foi: "O único lixo que vejo por aí é o de seus apoiadores." Sinceramente, o pessoal só escutou lixo e apoiadores de Trump.
O Musk Siberiano correu para o X-Twitter para postar "Biden acaba de chamar metade da América de lixo". A campanha de Trump começou a disparar e-mails pedindo doações de campanha dizendo que "Você não é lixo! Eu te amo!" e o próprio Trump tuítou contando que Biden chamou seus apoiadores de lixo e que Biden e Kamala são inaptos para serem presidentes dos Estados Unidos.
E a galera das campanhas imediatamente viu no comentário do Biden o erro de Hillary Clinton, que perdeu a eleição para Trump, em 2016, ao se referir aos apoiadores de Trump como "cesta de deploráveis".
E eis que foi assim que os republicanos conseguiram apagar o comício final de Kamala feito também ontem à noite, em Washington.
Biden tentou se explicar
O presidente tuitou:
"Hoje mais cedo, me referi à retórica odiosa sobre Porto Rico vomitada pelo apoiador de Trump em seu comício no Madison Square Garden como lixo - que é a única palavra que consigo pensar para descrevê-la. Sua demonização dos latinos é inconcebível. Era tudo o que eu queria dizer."
O comício
Para surpresa de zero pessoas, Kamala foi para seu comício final falar de democracia e chamar Trump de "pequeno tirano", mas que ela quer fazer a união. Ela disse que, se eleito, Trump vai entrar na Casa Branca com uma lista de inimigos e ela entrará com uma lista de afazeres. Prometeu ouvir todo mundo, até seus críticos. Ela disse que em vez de colocar os inimigos na cadeia, vai dar um assento para eles na mesa. E também disse que Trump vai acabar com o Obama Care.
Para os perdidos: Quando se fala em comício final, argumento final e essas coisas, não significa que é o último comício da campanha. Eles são chamados assim porque esses eventos são considerados os grandes eventos da reta final da campanha. Lá nos Estados Unidos, não é como aqui no Brasil que chega uma hora que não pode mais comício, nem propaganda na televisão. Lá pode tudo até o último minuto.
A sorte da Kamala
Para sorte da Kamala, Trump não se ajuda muito. Ele foi para Allentown, uma cidade de maioria latina, no meio da comunidade porto-riquenha da Pensilvânia, e pergunta se ele pediu desculpas pelo lixo do comediante? Nada. Sabe o que ele disse sobre o grande comício final de Madison Square Garden realizado no domingo?
"Nós nos divertimos muito. Essa foi a melhor noite que alguém já viu, politicamente."
Como a Pensilvânia é um dos estados que define eleição e como lá tem uns 500 mil votos de porto-riquenhos, todo mundo achou que seria o caso de Trump se desculpar pelo lixo do comediante.
Tem mais gente não ajudando seu candidato
E eis que faltando menos de uma semana para a eleição, o presidente da Câmara, Mike Johnson, um republicano, prometeu fazer uma grande reforma do Obama Care (que hoje é chamado de Affordable Care Act) se Trump for eleito. Biden e Johnson, os melhores cabos eleitorais do planeta. SQN.
A questão é que os americanos gostam do Obama Care porque o programa fornece cobertura de saúde para milhões de americanos, coisa que eles não tinham antes. É como acabar com o SUS no Brasil. Mas os republicanos insistem em revogar o ato. Trump no debate com Kamala chegou a falar que tinha esboços do que queria para o Obama Care. Sem dizer que planos tem para o programa. E agora o Johnson diz que uma grande reforma vai entrar na agenda? A menos de 7 dias para a eleição?
Violência programada
A maioria dos eleitores dos estados indecisos está com medo. Medo de que haja violência se o Trump não ganhar a eleição. O sentimento foi captado em uma pesquisa feita pelo Washington Post-Schar School. Ao todo, 57% das pessoas estão muito ou um pouco preocupadas que os apoiadores de Trump se tornem violentos se ele perder. Só 31% têm essa preocupação com os eleitores de Kamala.
Façam suas apostas
Existe um clima nos Estados Unidos de que Trump vai ganhar a eleição. Esse clima pode ser medido pelas casas de apostas. Trump disparou na frente da Kamala. Cerca de 65% das apostas dão conta de que Trump vai ganhar, contra 35% da Kamala. Quando Kamala substituiu Biden, ela chegou a liderar as apostas. A inversão começou no dia 5 de outubro e Trump não parou mais de subir. Coincidentemente, foi justamente a partir de outubro que Trump começou a dominar o noticiário e Kamala simplesmente sumiu. (Sumiu é modo de dizer, darling, é que a sensação é de que nada interessante acontecia com ela.)
Também foi a partir do começo de outubro que Kamala começou a estacionar nas pesquisas e depois a perder espaço. Como as pesquisas nas eleições anteriores subestimaram Trump, a galera acha que o mesmo pode estar acontecendo agora. Em 2016, as pesquisas diziam que Hillary ganharia e Trump ganhou. Em 2020, as pesquisas diziam que Biden ganharia com larga diferença, ganhou apertado. E agora as pesquisas dizem que os dois estão empatados tecnicamente (na margem de erro).
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL