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Apoiadores de Evo Morales ocupam quartel e mantêm 20 militares como reféns

Do UOL, em São Paulo

01/11/2024 16h07Atualizada em 01/11/2024 17h38

Apoiadores do ex-presidente da Bolívia Evo Morales ocuparam, nesta sexta-feira (1º), um quartel e mantiveram pelo menos 20 militares reféns na cidade de Cochabamba, na Bolívia.

O que aconteceu

Apoiadores tomaram a unidade militar. As Forças Armadas da Bolívia disseram, em nota, que "grupos armados irregulares" tomaram a unidade, "com o sequestro de pessoal militar, armamento e munição".

"Aqueles que realizaram ou pretendem continuar com atos criminosos contra os direitos fundamentais, os direitos humanos, a segurança e a liberdade do povo... são convocados a abandonar suas atitudes e deixar o quartel imediata e pacificamente", disseram as Forças Armadas no comunicado.

Uma fonte da Defesa explicou à AFP que há cerca de 20 retidos. Entre eles oficiais e soldados. Invasão ao quartel é resposta à intervenção policial e militar contra bloqueios de estradas com o intuito de apoiar Morales.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram militares cercados por camponeses. As imagens mostram que grupo está armado com pedaços de madeira. "As vidas dos meus instrutores e soldados estão em perigo", disse um soldado que foi filmado pelos invasores e cujas imagens foram transmitidas pela mídia local.

Água e energia foram cortadas do quartel. "O Regimento Cacique Maraza foi tomado pelas centrais Tipnis. Cortaram nossa água, a luz, nos fizeram de reféns", diz um militar. Os Tipnis são conhecidos como os territórios indígenas do Chapare, onde Evo Morales tem sua principal base política. Morales permanece resguardado diante de uma provável ordem de apreensão contra ele por um caso de estupro, que ele nega, e que supostamente ocorreu quando ele era presidente, em 2015.

Apoiadores protestam há 19 dias

Apoiadores realizam protestos há 19 dias. Nas últimas semanas, grupo bloqueou estradas da Bolívia. Manifestações tentam evitar uma provável prisão de Morales, enquanto o governo atual tenta impedir os bloqueios. Ao menos 61 policiais e nove civis ficaram feridos em confrontos. Vários policiais sofreram traumatismo cranioencefálico, segundo informações oficiais.

Em todo o país, há cerca de 20 pontos de bloqueio. A maioria é em Cochabamba, no centro da Bolívia. Os protestos reivindicam o "fim da perseguição judicial" contra Morales.

Os manifestantes também exigem a renúncia do presidente Luis Arce. O presidente exigiu, na quarta-feira, "o fim de todos os pontos de bloqueio". Caso contrário, ele afirmou que "exercerá suas faculdades constitucionais" para desocupá-los.

Uma das consequências dos bloqueios é a escassez de alguns alimentos básicos na capital, La Paz, como o frango. Para remediar esta situação, o governo decidiu criar uma ponte aérea para entregar diariamente 40 mil kg do produto aos moradores da capital. Apesar da medida de emergência, as quantidades são insuficientes para responder à demanda e os preços altos. As autoridades bolivianas estimam que o bloqueio causa prejuízos diárias de cerca de US$ 99 milhões (cerca de R$ 580 milhões). Se a situação persistir, poderá afetar a produção de carne para as festas de final de ano.

Em 27 de outubro, Morales foi vítima de um ataque a tiros. Líder da oposição no país, ele postou vídeos do ataque nas redes sociais e disse que 14 tiros foram disparados por homens encapuzados. "Esta foi a tentativa de assassinato ocorrida às 6h20, às portas do nono, no município de Shinahota", diz a legenda.

Investigação de 'estupro, tráfico e exploração de pessoas'

Fotografia de Evo Morales, político boliviano que foi presidente da Bolívia entre 2006 e 2019. Imagem: Shutterstock.com

Morales foi intimado pelo Ministério Público do departamento de Tarija para prestar depoimento dentro do processo por "estupro, tráfico e exploração de pessoas". O ex-presidente, no entanto, decidiu não se apresentar ao órgão, que o investiga pelo suposto abuso de uma menor durante o seu mandato, o que pode lhe render uma ordem de prisão.

O líder indígena classifica as acusações como "mais uma mentira". O advogado Nelson Cox, que o representa, disse que o cliente não vai comparecer porque considera que a investigação é "ilegal".

O escândalo que pode colocar Morales na prisão é de um caso de 2015. Segundo a denúncia investigada pelo Ministério Público - o 'líder cocaleiro' se envolveu com uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha em 2016.

Evo Morales é hoje o principal opositor do governo de seu ex-ministro Luis Arce. Ele o acusa de reabrir o caso como parte de uma "perseguição judicial". Objetivo seria afastá-lo da corrida pela indicação do grupo político da situação, que vive uma disputa interna, para as eleições presidenciais de 2025.

Evo está impedido de se candidatar desde dezembro do ano passado. O Tribunal Constitucional reverteu um entendimento anterior que liberava reeleições indefinidas no país.

*Com AFP

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