Por que área do Mar Vermelho onde Air France suspendeu sobrevoo é perigosa?
Do UOL, em São Paulo
04/11/2024 17h02Atualizada em 04/11/2024 17h02
No último domingo (3), a companhia aérea Air France suspendeu o sobrevoo de uma área do Mar Vermelho após a tripulação avistar um "objeto luminoso" sobre o Sudão. Mas por que a região tem sofrido tanta instabilidade e se tornou uma área perigosa?
O que aconteceu
A área do Mar Vermelho tem sofrido grande instabilidade desde novembro de 2023. Os rebeldes huthis, que controlam grande parte do Iêmen, lançam mísseis e drones contra navios que consideram ligados a Israel.
Os houthis atacam algumas embarcações mercantes que navegam no Mar Vermelho. O local é estratégico e politicamente importante, já que por essa região estima-se que passem cerca de 12% do comércio global.
Apesar de bombardeios contra navios, não há registro de ataques dos houthis direcionados a aviões. Suspensão da Air France foi por "precaução". "A Air France confirma que, por princípio de precaução, decidiu suspender até nova ordem o sobrevoo de uma área do Mar Vermelho", afirmou a companhia em um comunicado enviado à AFP.
Os huthis afirmam agir em solidariedade aos palestinos na Faixa de Gaza. Os rebeldes iemenitas defendem a causa palestina e comandam uma ofensiva contra embarcações a caminho de Israel para pressionar as Forças de Defesa Israelenses a suspender o bloqueio a Gaza. Israel e o grupo extremista Hamas estão em guerra desde outubro de 2023.
Grupo é financiado pelo Irã. Os houthis integram o chamado Eixo da Resistência, composto por movimentos apoiados pelo Irã e contrários a Israel e aos EUA, como o Hamas, o Hezbollah e milícias iraquianas.
Os ataques dos houthis levaram várias empresas a interromper as viagens no Mar Vermelho. Conglomerados optam por uma rota mais longa e mais cara ao redor do continente africano.
Os combatentes no Iêmen realizaram quase 100 ataques a navios desde novembro. Eles afundaram dois cargueiros, apreenderam outro e mataram pelo menos quatro marinheiros. O grupo afirma que entre os seus alvos estão navios ligados aos EUA ou ao Reino Unido. No entanto, muitos dos navios atacados têm pouca ou nenhuma conexão com o conflito, inclusive alguns tinham destino ao Irã.
Quem são os houthis
Os houthis se derivam de um grupo tribal do norte do Iêmen, próximo à fronteira com a Arábia Saudita. Eles pertencem à subseita dos xiitas zaiditas, distinta dos muçulmanos xiitas tradicionais por certos artigos de fé.
O fato de os houthis serem xiitas os conecta com o Irã, considerado representante dos interesses da seita na região. Os zaiditas compõem cerca de um terço da população do Iêmen, e seu movimento político e militar data dos anos 1990.
A vertente contemporânea foi fundada e recebe o nome de Hussein al-Houthi, ex-político iemenita. Ele se opunha às medidas governamentais e à suposta corrupção do ex-presidente Ali Abdullah Saleh.
Protestos da Primavera Árabe de 2011 derrubaram o regime de Saleh. Na ocasião, os houthis acusaram o novo governo, encabeçado por Abed Rabbuh Mansur Al-Hadi, um muçulmano sunita, de marginalizar os zaiditas e de ser próximo demais dos Estados Unidos, e, portanto, de Israel. Além disso, para eles, o líder, seria uma marionete da Arábia Saudita.
Em 2014, os houthis se rebelaram contra o governo impopular de Hadi e começaram a dominar partes do país, inclusive a capital, Sanaa. Os sauditas, que de fato apoiavam o presidente Al-Hadi, se opuseram aos rebeldes, e desde 2015 lideram uma coalizão internacional para combatê-los, mas sem grande sucesso.
A guerra do Iêmen foi descrita pelas Nações Unidas como a pior crise humanitária do mundo. Em 2022, os oponentes negociaram seis meses de cessar-fogo. Mesmo depois desse prazo, a situação tem se mantido relativamente calma no país, pois todas as partes parecem ter concluído que se chegou a um impasse.
*Com AFP e Deutsche Welle