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DRE: como são as urnas eletrônicas dos EUA? Veja os 14 estados que usam

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

05/11/2024 18h44Atualizada em 05/11/2024 20h13

Embora a maioria dos americanos utilizem cédulas de papel para votar, os Estados Unidos também contam com sua urna eletrônica, conhecida como DRE (Direct Recording Electronic).

Eleitores votam em urnas de condado em Los Angeles, na Califórnia (EUA) Imagem: Qiu Chen/Xinhua

O que aconteceu

O DRE é uma das diversas formas oficiais de voto no EUA. Chamada de votação eletrônica, esses equipamentos são produzidos por diversos fornecedores e têm diferentes formatos, alguns parecem até um caixa eletrônico de banco.

Assim como no Brasil, o dispositivo é basicamente um computador. Ele armazena os votos em cartões de memória depois que o eleitor escolhe o candidato por meio de uma tela. Ele também pode escolher se quer imprimir uma cédula de papel para servir de comprovante, segundo a ABC News.

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Um dos modelos de urna eletrônica dos EUA Imagem: Verified Voting/Reprodução

Ao contrário da urna brasileira, o DRE não tem um padrão. Como o fabricante não é único, como no Brasil, o computador pode ter uma tela sensível ao toque, utilizar botões ou controle remoto. Alguns oferecem fones de ouvido para ajudar pessoas com dificuldades de visualização.

Assim como no Brasil, esses computadores não estão conectados à internet. Também não é possível acessá-los por Bluetooth ou alguma conexão sem fio, o que dificulta a possibilidade de hackear o aparelho. Para ter acesso aos votos, a autoridade eleitoral insere um dispositivo físico na máquina.

Os americanos também utilizam escaneamento dos votos. Em 2020, 77% das cédulas não passaram por contagem manual, mas os votos foram contabilizados após escaneamento, segundo levantamento do Election Lab, do MIT (Massachusetts Institute of Technology). Nesse método, os eleitores marcam suas cédulas em uma cabine e as escaneiam assim que as depositam na urna. Esse escaneamento facilita a contagem de votos que, de outra forma, teria de ser feita manualmente.

Outro modelo de urna eletrônica americana. Existem vários fabricantes que fornecem diferentes modelos Imagem: Verified Voting/Reprodução

Por lá, a organização eleitoral cabe a cada estado. Em alguns casos, até o condado escolhe a tecnologia que será usada para o registro e a contagem dos votos. Como não há nos EUA um órgão eleitoral central, como o TSE no Brasil, a Comissão de Assistência Eleitoral criou um guia para orientar o voto eletrônico no país.

Apenas 5% de todos os votos das eleições presidenciais de 2024 serão registrados em urnas eletrônicas (DREs). Dos 50 estados americanos, apenas 14 usam o equipamento: Alasca, Illinois, Indiana, Louisiana, Mississippi, Missouri, Nevada, Nova Jérsei, Ohio, Tennessee, Texas, Utah, West Virginia e Wisconsin. Ainda segundo a Verified Voting, a maioria destes estados os utilizará junto com outras formas de votação. Apenas eleitores de Louisiana votam exclusivamente com as DREs, mas há forte presença delas em Nevada e no Tennessee.

Joe Biden, presidente dos EUA, votando antecipadamente nas eleições norte-americanas em 28 de outubro Imagem: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

Papel ainda é principal forma de voto. Segundo a Verified Voting, 69,9% dos votos serão entregues por meio de cédulas de papel preenchidas a mão —entregues pelo correio, na zona eleitoral no dia da eleição ou antecipadamente. Já outros 25,1% dos votos serão registrados por BMDs, equipamentos eletrônicos que marcam as cédulas de papel com as opções do eleitor —uma tecnologia considerada indispensável a pessoas com deficiência.

Por que os EUA preferem papel?

05.set.24 - Um funcionário eleitoral exibe uma cédula de teste listando os candidatos presidenciais dos EUA Imagem: Jonathan Drake/REUTERS

Uma das razões é financeira. Mudar o sistema eleitoral americano ou simplesmente atualizá-lo com o uso de máquinas mais modernas custaria centenas de milhares de dólares, apontou um levantamento de 2022 do Brennan Center for Justice, instituto não partidário de pesquisa sobre políticas públicas e legislação. Não é como se os EUA não tivessem o dinheiro em caixa, mas o público e suas autoridades parecem não ter chegado um consenso a respeito da direção das reformas.

Há enorme resistência ao voto eletrônico. Em 2022, nas eleições locais, a agência Reuters projetava que 7% dos americanos votaria com DREs. Em 2024, a proporção caiu. Existe enorme desconfiança da capacidade de recontar ou garantir a segurança do voto contra hackers em urna eletrônica no país, especialmente entre o público conservador. Donald Trump e Robert Kennedy Jr. garantem que há fraudes no sistema de audições de votos nos EUA por causa de dispositivos eletrônicos —paradoxalmente, lá o cenário é de votação esmagadora com o papel.

Debate em torno de contagem eleitoral começou em 2000. Na época, o resultado das eleições atrasou um mês por causa da recontagem de votos na Flórida que deu a vitória a George W. Bush. Um processo que foi falho, como comprovaram estudiosos das universidades Cornell, Harvard, Northwestern e da Universidade da Califórnia em Berkeley, já que cerca de 2.000 votos de Al Gore foram erroneamente destinados ao candidato da terceira via, Pat Buchanan.

Em 2002, o Congresso americano aprovou o Help America Vote Act. Como resposta ao fiasco de 2000, a legislação proibia o uso de máquinas de alavanca e equipamentos de perfuração de cédulas em eleições federais. A proposta era modernizar as eleições e as urnas eletrônicas começaram a ser cada vez mais usadas no país.

No fim da década de 2010, o jogo virou. O Laboratório de Eleições do MIT aponta que divergências e ativismo político dentro da comunidade de ciências da computação acabaram se espalhando pela sociedade em geral, alimentando controvérsias sobre a segurança do voto eletrônico. No entanto, o golpe de misericórdia teria sido o que os americanos chamam de "Big Lie", o argumento de Trump após as eleições de 2020 de que o pleito havia sido roubado e que a vitória era sua, não de Biden. Segundo os cientistas políticos da instituição, desde então a confiança na tecnologia cai progressivamente.

Em 2016, um ataque cibernético russo à base de dados de votos acendeu um alerta. O caso gerou preocupações de segurança com a compilação digital dos votos —tanto os feitos por DREs quanto os por papel, mas depois digitalizados. O diagnóstico dos especialistas? Os sistemas estavam ultrapassados tecnologicamente e permitiram o ataque. Portanto, foi feito um investimento de US$ 800 milhões em infraestrutura e, segundo o Brennan Center for Justice e documentos do Senado americano, os estados atualizaram suas tecnologias.

Invasão à urna eletrônica não foi comprovada. A única análise forense até hoje realizada em urnas eletrônicas aconteceu no estado da Geórgia e foi divulgada em 2020, por um especialista contratado pela organização Coalition for Good Governance, que afirmou em tribunal que votos das eleições de 2016 foram apagados do servidor de um computador que programou DREs do estado e havia ficado exposto na internet por pelo menos seis meses. Uma avaliação do FBI da mesma máquina de 2017, no entanto, não encontrou indícios de vazamentos ou invasões e os resultados são até hoje polêmicos.

Voto de papel também pode ser inseguro. Além da famosa batalha entre Al Gore e Bush, em 2000, há outros casos com problemas de contagem de cédulas, de "lotes" perdidos ou que chegam às seções eleitorais depois de contagens terem sido encerradas. Mas as preocupações de segurança ganharam novas dimensões na última semana, quando urnas cheias de votos enviados pelo correio foram queimadas nas ruas de estados de Oregon e Washington. O FBI investiga a possibilidade de crime eleitoral, já que democratas costumam votar mais pelo correio do que republicanos.

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