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Kamala reconhece vitória de Trump; entenda o que levou ao resultado nos EUA

Kamala Harris Imagem: SAUL LOEB/AFP

Do UOL, em São Paulo

06/11/2024 16h37Atualizada em 06/11/2024 16h37

A democrata Kamala Harris, candidata derrotada à Presidência dos EUA, reconheceu nesta tarde a vitória do republicano Donald Trump em uma ligação em que discutiu com ele uma transferência pacífica de poder. O resultado consolida o nome de Trump à frente da direita norte-americana e atesta a dificuldade de Kamala de se dissociar do governo Biden e conquistar a confiança do eleitorado masculino em um curto período na disputa.

Campanha curta e desconfiança entre homens ajudam a compreender derrota de Kamala

Dificuldade em convencer o eleitorado. A professora de relações internacionais Denilde Holzhacker, do Núcleo de Estudos e Negócios Americanos da ESPM, explica que a derrota de Kamala pode ser explicada por alguns motivos, entre eles, a dificuldade em convencer o eleitorado de que seu governo seria diferente da gestão Biden, especialmente na agenda econômica e na melhoria da qualidade de vida do cidadão comum.

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Desconfiança de eleitores masculinos. Holzhacker pontua que embora os temas de direitos das mulheres tenham sido centrais na campanha da democrata, as divisões de gênero podem ter prejudicado Kamala, com desconfiança entre eleitores masculinos sobre sua capacidade de liderança, especialmente sendo uma mulher negra, o que pode ter ampliado a resistência.

Pouco tempo de campanha. Harris se tornou a candidata democrata depois que Biden desistiu de concorrer à reeleição, em julho. A professora lembra que ter assumido a candidatura próximo à convenção limitou seu tempo para se distanciar dos problemas do governo Biden e construir alianças com eleitores. "Sua trajetória como vice-presidente, com pouca visibilidade, também reforçou desconfianças quanto a sua liderança", avalia Holzhacker.

Desafios para conquistar o eleitor de cidades pequenas. Segundo a professora, essa eleição mostrou que ainda é um desafio para o Partido Democrata se aproximar de eleitores de pequenas cidades, que sentem que Washington não entende suas realidades. "Sua origem californiana reforça o estereótipo de desconexão", diz a especialista.

Vitória consolida Trump como protagonista da direita nos EUA

Trump volta à Casa Branca após 4 anos. Vencedor em 2016, o magnata perdeu as eleições de 2020 para Joe Biden, mas se consolidou como "dono" da direita norte-americana.

Projeção não é oficial, mas é historicamente aceita. O serviço elaborado por estatísticos a pedido de institutos e meios de comunicação é aceito pela sociedade americana em eleições presidenciais. Nos EUA, a apuração é de responsabilidade de cada estado, ou seja, a contagem pode demorar semanas. Com isso, a projeção permite saber com antecedência quem será o vencedor.

Redução de inflação, corte de impostos e protecionismo devem ser prioridade. O republicano prometeu cortar custos de energia expandindo a perfuração de petróleo e gás, além de estender o corte de impostos que ele assinou no primeiro mandato. Deve voltar o discurso nacionalista: ele defendeu a aplicação de taxas de 10% a 20% em todas as importações e tarifas de mais de 60% para produtos da China. Em resposta, o chefe do IIF (Instituto Finanças Internacionais), Tim Adams, disse que essa imposição de tarifas pode aumentar a inflação e os juros.

Ele deve tentar acabar com qualquer traço de política climática 'verde' e recolocar a produção de petróleo e gás no centro da economia. Sua agenda econômica deve seguir sendo pautada por cortes de impostos e desregulamentação.
João Cândido, especialista em análise de risco e comunicação polítíca

Comunidade internacional em alerta por política externa. "Ele já deixou claro que pretende reformular a participação dos EUA em alianças tradicionais, como a Otan, e realinhar o país em termos de comércio e geopolítica", ressaltou Cândido. Sem detalhar, Trump disse algumas vezes que acabaria "rapidamente" com a guerra entre Ucrânia e Rússia, caso fosse eleito. Ele pode reavaliar o financiamento ao conflito.

Trump deve mudar foco da economia e da imigração

Redução de inflação, corte de impostos e protecionismo devem virar prioridade. O republicano prometeu cortar custos de energia expandindo a perfuração de petróleo e gás, estender o corte de impostos que ele assinou no primeiro mandato e ampliar a taxação para produtos chineses. Em resposta, o chefe do IIF (Instituto Finanças Internacionais), Tim Adams, disse que essa imposição de tarifas pode aumentar a inflação e os juros.

Ele deve tentar acabar com qualquer traço de política climática 'verde' e recolocar a produção de petróleo e gás no centro da economia. Sua agenda econômica deve seguir sendo pautada por cortes de impostos e desregulamentação.
João Cândido, especialista em análise de risco e comunicação polítíca

Falas contra imigração e direitos civis marcaram campanha. O republicano chegou a citar a chamada "Lei dos Inimigos Estrangeiros", de 1978, para defender uma deportação em massa de imigrantes. "Questões como imigração e políticas de direitos civis provavelmente serão ainda mais polarizadas, já que Trump se sente empoderado pela sua base. Podemos esperar menos compromisso com convenções democráticas, o que só aumentará o grau de tensão no país", avaliou João Cândido. "Os EUA devem assumir uma postura mais agressiva nas fronteiras, um endurecimento na questão da imigração, principalmente a ilegal", completa Cerqueira.

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