Após defesa de Milei, Lula diz que 'globalização neoliberal fracassou'
O presidente Lula discursou pela segunda vez nesta segunda-feira (18) na 2ª sessão do G20 e criticou o rumo neoliberal da globalização. A fala ocorre após o presidente da Argentina, Javier Milei, ter dito que o capitalismo e o neoliberalismo tinham "retirado milhões de pessoas da miséria".
O que aconteceu
Lula disse que a desigualdade fomenta o ódio, o extremismo e a violência. O presidente também afirmou que não é surpresa que "a democracia esteja sob ameaça". O discurso ocorreu depois de Milei ter insistido que é a presença do Estado na economia que gera a pobreza, e não o capitalismo, conforme revelou o colunista do UOL Jamil Chade.
"Comunidade internacional parece resignada a navegar sem rumo por disputas hegemônicas", afirmou Lula. Em outro momento do discurso, ele disse que que os países do grupo permanecem "à deriva". Lula afirmou que "é urgente rever regras e políticas financeiras que afetam desproporcionalmente os países em desenvolvimento".
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Presidente disse que a história do G20 está entrelaçada com os "abalos sofridos pela economia global nas últimas décadas". Ele lembrou a crise econômica de 2008 e criticou a política de estado mínimo. Segundo Lula, em 2008, "o ímpeto reformador foi insuficiente para corrigir os excessos da desregulação dos mercados e a apologia do Estado mínimo".
Lula destacou "a reforma da governança global" entre os principais temas do G20. "Pela primeira vez, o grupo foi à ONU e aprovou, com o endosso de outros quarenta países, um Chamado à Ação. Mas esse chamado é apenas um toque de despertar." Lula criticou ainda o que chamou de "omissão do Conselho de Segurança" e disse que ela própria tem sido uma "ameaça à paz e à segurança internacional."
Presidente fala de países em conflito e vulnerabilidade
O presidente países envolvidos em conflitos mundiais e citou exemplos de países que, segundo ele, caíram no "esquecimento". "Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor." Lula chamou intervenções no Afeganistão e na Líbia de "desastrosas".
Sanções atingem países mais vulneráveis, diz Lula. Ele citou processos de indiferença e esquecimento no Sudão e Haiti. "Sanções unilaterais produzem sofrimento e atingem os mais vulneráveis."
Lula disse ainda que "a diplomacia vem perdendo terreno para a intransigência." Ele citou impasses em torno do Tratado de Pandemias, do Pacto para o Futuro e da COP da biodiversidade de Cáli.
O petista lembrou que o o Brasil propôs, em Nova York, a convocação de uma conferência de revisão da Carta da ONU. Lula citou que "apenas 51 dos atuais 193 membros das Nações Unidas" participaram da fundação do órgão.
Países em desenvolvimento
Lula disse que é "urgente" rever regras e políticas financeiras que afetem "desproporcionalmente os países em desenvolvimento". O presidente citou o exemplo de países africanos que, segundo ele, tem uma dívida externa maior do que os recursos que dispõem para financiar áreas como infraestrutura, saúde e educação.
A cooperação tributária internacional é crucial para reduzir desigualdades, afirmou Lula. Ele lembrou ainda que uma taxação de 2% sobre o patrimônio de pessoas super-ricos poderia gerar um recursos na ordem de 250 bilhões de dólares por ano para, segundo ele, "serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais".
Não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita.
Lula, presidente da República no G20
Milei defende neoliberalismo
O presidente da Argentina surpreendeu uma parcela de diplomatas ao afirmar que o capitalismo e o neoliberalismo tinham "retirado milhões de pessoas da miséria". A postura de Milei já vinha causando irritação entre diferentes delegações durante as negociações.
Argentino fez uma defesa do neoliberalismo, segundo informações de Jamil Chade. Três membros de delegações que estavam na sala de reuniões confirmaram ao UOL que nesta segunda-feira em seu primeiro discurso.
O argentino, porém, foi alvo de duras respostas por parte de outras delegações. A fala de Milei foi imediatamente respondida por Gabriel Boric, presidente do Chile, que lembrou a experiência neoliberal em seu país sob o regime de Augusto Pinochet. Gustavo Petro, presidente da Colômbia, também rebateu o argentino, em plena reunião.
O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas.
Lula, presidente da República no G20