Milei defende neoliberalismo em contraponto a Lula e gera mal-estar no G20
O presidente da Argentina, Javier Milei, surpreendeu uma parcela de diplomatas estrangeiros ao afirmar, em seu discurso a portas fechadas no G20, que o capitalismo e o neoliberalismo tinham "retirado milhões de pessoas da miséria".
Três membros de delegações que estavam na sala de reuniões confirmaram ao UOL que o argentino fez uma defesa do neoliberalismo, nesta segunda-feira em seu primeiro discurso.
Segundo os relatos, Milei insistiu que é a presença do Estado na economia que gera a pobreza, e não o capitalismo.
O argentino, porém, foi alvo de duras respostas por parte de outras delegações. A fala de Milei foi imediatamente respondida por Gabriel Boric, presidente do Chile, que lembrou a experiência neoliberal em seu país sob o regime de Augusto Pinochet. Gustavo Petro, presidente da Colômbia, também rebateu o argentino, em plena reunião.
A postura de Milei já vinha causando irritação entre diferentes delegações durante as negociações.
Lula criticou o neoliberalismo
A fala do argentino, que se esforçava nesta segunda-feira nas redes sociais e nos bastidores para chamar a atenção na reunião, se contrapõe à mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que encerrou no fim de semana o G20 Social com duras críticas ao neoliberalismo.
"O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. O G20 precisa discutir uma série de medidas para reduzir o custo de vida e promover jornadas de trabalho mais equilibradas", disse Lula.
Nesta segunda-feira, Lula ainda usou seu discurso de abertura no G20 para criticar as injustiças do sistema. "Segundo a FAO, em 2024, convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas", disse Lula.
"É como se as populações do Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome. São mulheres, homens e crianças, cujo direito à vida e à educação, ao desenvolvimento e à alimentação são diariamente violados", afirmou.
Segundo ele, "em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível".
Para Lula, "a fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais". "É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade", disse.
Nas últimas semanas, a Argentina se colocou numa postura de dificultar os acordos no G20, resistindo a participar da aliança contra a fome e aderindo apenas no último momento. O governo Milei também se distanciou de outros pactos e de trechos que faziam referência ao termo "gênero".
Nas redes sociais, Milei ainda deu destaque para postagens que apontavam como ele não assinaria a declaração final do G20 caso ela tratasse de "mudanças climáticas".
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