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Depois de conquistar elite brasileira, forró invade Nova York

Casais dançam ao som da banda "Brazooka" em noite semanal dedicada ao forró no "Cafe Wha?", em Nova York. O estilo brasileiro altamente dançante tem conquistado os jovens novaiorquinos - Willie Davis/The New York Times
Casais dançam ao som da banda "Brazooka" em noite semanal dedicada ao forró no "Cafe Wha?", em Nova York. O estilo brasileiro altamente dançante tem conquistado os jovens novaiorquinos Imagem: Willie Davis/The New York Times

Larry Rohter

Em Nova York

14/07/2012 06h00

Em sua terra natal no nordeste do Brasil, a música popular guiada pela sanfona e altamente dançante conhecida como forró costumava ser ridicularizada como “música para empregadas e taxistas”. Agora não mais: o estilo não só se tornou popular entre uma certa elite no Rio de Janeiro e São Paulo nos últimos anos, mas este também parece ser o verão do forró em Nova York.

A série Midsummer Night Swing no Lincoln Center programou a apresentação do show “Mestres do Forró Nordestino” no Damrosch Park, precedido por aulas de dança. Neste sábado (14) haverá um show de forró no Battery Park, com ainda mais forró agendado para o anual Brasil Summerfest, que este ano acontecerá entre 21 e 28 de julho. Tudo isso além de meia dúzia de clubes em Manhattan, Brooklyn e Queens que agora têm regularmente forró ao vivo.

Forró invade as pistas em NY

  • Willie Davis/The New York Times

    Casal dança no "Miss Favela", que dedica as noites de domingo a apresentações ao vivo de forró. Do Lincoln Center ao Battery Park, o estilo brasileiro altamente dançante tem conquistado os jovens novaiorquinos

  • Willie Davis/The New York Times

    Casal dança ao som da banda "Brazooka" em noite semanal dedicada ao forró no "Cafe Wha?"

  • Willie Davis/The New York Times

    Casal dança no "Miss Favela", em Nova York

“O gênero está explodindo em Nova York agora”, diz Hap Pardo, gerente administrativo e agente de reservas do “Cafe Wha?” em Greenwich Village, que nesta primavera instituiu uma noite de forró às segundas-feiras. “É uma coisa jovem e de sucesso, e queríamos fazer parte disso. Alguns dos meus amigos vêm fazendo capoeira”, uma forma de arte marcial brasileira que mistura dança e artes marciais, “e isso expandiu seus interesses para este novo cenário. Eles veem o forró como uma forma de exercício enquanto se divertem”.

O centenário do nascimento de Luiz Gonzaga, o maior astro do forró, ajuda a explicar parte da explosão do interesse, e o show do Lincoln Center é um tributo a ele. Um artista dinâmico que tocava sanfona e cantava com o sotaque nordestino brasileiro, Gonzaga, que morreu em 1989, também foi o autor de composições como “Asa Branca”, sobre um retirante que deixa sua terra por causa da seca, tão popular no Brasil que às vezes é chamada de hino nacional alternativo do país.

“Luiz Gonzaga foi uma dessas figuras pioneiras, como Elvis Presley”, disse o percussionista Mauro Refosco, fundador da banda novaiorquina Forro in the Dark, que gravou ou tocou várias músicas de Gonzaga. “Ele era completo: letras ótimas e melodias combinadas com uma voz forte e uma fantástica presença no palco, com todo aquele equipamento incrível. Ele era um verdadeiro showman, e sabia disso.”

Mas a pequena explosão do forró em Nova York também parece movida pelo desejo dos jovens consumidores de música por algo que soe novo e exótico e que também possa ser dançado à moda antiga – em pares e bem de perto. Isso se parece com a evolução do gênero no Brasil, onde há cerca de uma década, universitários urbanos e sofisticados adotaram e adaptaram o som antigo e pouco sofisticado, polindo-o num estilo conhecido como “forró universitário”.

“Esta é de fato uma música alegre, divertida e fácil de dançar”, disse Michelle Gelker, 28, visitando o “Cafe Wha?” Pela primeira vez este mês enquanto a banda Forro Forevis tocava uma música estimulante. “Qualquer um pode dançar. Com certeza vou voltar e trazer meus amigos.”

O grupo clássico de forró, no formato que Gonzaga popularizou, é um trio de acordeão, triângulo e um tambor grave chamado zabumba, às vezes aumentado com um tipo de violino chamado rabeca e um tipo de flauta chamada pífano. Bandas de forró mais jovens costumam ter uma guitarra elétrica e bateria, ocasionalmente deixando de fora o acordeão, e isso forma uma das principais divisões entre a velha guarda e a nova onda, ambas representadas na noite de sexta-feira no show do Lincoln Center.

“O forró tem que ter a sanfona, porque sem ela simplesmente não é forró”, disse o cantor tradicionalista Walmir Silva, 63, numa entrevista por telefone na semana passada, e começou a cantar um de seus sucessos: “'Forró sem sanfona, nem me chame porque eu não vou'. É a coisa de verdade, o tipo de música que faz você dançar até os sapatos saírem voando do pé.”

O Quarteto Olinda, que toca alguns instrumentos elétricos e não tem sanfona, se apresentará no Joe's Pub em 22 de julho como parte de sua primeira turnê norte-americana.

“Em nossa região no Brasil, você cresce ouvindo esta música, então está no nosso sangue, no DNA, mesmo que você seja um roqueiro”, diz o líder do grupo, Claudio Rabeca, 37. “Mas não podemos negar que vivemos numa cidade em que entramos em contato com a música moderna do mundo inteiro. Nós ouvimos os Beatles, heavy metal e Afropop, então é impossível fazer uma música que não tenha essas influências.”

Como dança, o forró descende da quadrilha, um estilo francês medieval que mais tarde chegou em Portugal.

“Mas o Brasil sendo o Brasil, deixou a dança mais sensual nos movimentos” depois que chegou aqui, disse Liliana Araújo, cantora de forró e professora de dança que oferece aulas antes de suas apresentações mensais no SOBS.

“As pessoas dançavam mais perto”, explicou. “Ainda eram dois passos para cá e dois para lá, mas muitos outros movimentos e manobras foram acrescentados.”

O forró também tem uma semelhança superficial com a salsa, acrescentou Araújo, uma vez que ambos os gêneros servem para “mexer o corpo, levantar a poeira e deixar você suando e sorrindo.”

Mas Refosco, cuja banda se apresenta regularmente às quartas-feiras no Nublu em East Village sempre que ele não está na estrada tocando percussão para o Red Hot Chili Peppers ou a banda Atoms for Peace de Thom Yorke, enfatizou que o forró é mais inclusivo e informal do que a salsa, e mais fácil de dançar.

“Na salsa, se você não dançar bem, as pessoas vão zombar de você”, diz ele. “Isso não acontece no forró, que não tem essas hierarquias. Às vezes, quando mudamos para um ritmo bem mais rápido, as pessoas até começam a pogar na pista”. Ninguém se importa, muito menos a banda.

“Nós medimos o sucesso do que estamos fazendo vendo se as pessoas estão em pé e dançando. Se estão, isso nos diz que a música está funcionando. E se elas não estão, isso nos diz que não.”

Para o ouvido norte-americano, o forró pode parecer ter algumas afinidades com a música cajun, especialmente o zydeco, em parte porque o acordeão e a rabeca reinam supremos nos dois gêneros. Scott Kettner, um percussionista norte-americano que lidera a banda Nation Beat do Brooklyn, especializada em música do nordeste do Brasil, fala até mesmo numa “fusão do Mississipi e do Capibaribe”, o rio que corre pelo coração de Recife, a cidade que é capital da cena de forró brasileira.

“Quando eu estudava no Recife, comecei a perceber que havia muitas conexões com a música que cresci ouvindo da Louisiana”, diz ele. “Mas não sou só eu que penso assim. Quando toquei num festival em Lafayette há alguns anos, o público estava dançando nosso forró ao estilo cajun. Foi incrível ver como eles aceitaram bem, e como tudo parecia tão familiar, especialmente a sanfona de botões.”