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O efeito Sarah Palin na escolha do vice de Mitt Romney

A ex-governadora do Alasca, Sarah Palin - 6.fev.2010 - Josh Anderson/Reuters
A ex-governadora do Alasca, Sarah Palin Imagem: 6.fev.2010 - Josh Anderson/Reuters

Ross Douthat

02/08/2012 06h00

A ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, pode ter feito maravilhas para a comediante Tina Fey, o índice de audiência da rede MSNBC e o setor de reality shows em geral, mas ela fez também com que ficasse bem mais difícil escolher os candidatos republicanos à vice-presidência neste ano.

O medo da repetição de uma escolha semelhante a Palin, uma aposta que fracassou estrondosamente para ambos os membros da chapa presidencial republicana de 2008, fez com que a lista de possíveis companheiros de chapa de Mitt Romney se tornasse bem mais curta.

Por exemplo, é bastante improvável que o candidato republicano venha a escolher uma das duas mais promissoras figuras políticas do seu partido, Kelly Ayotte, senadora pelo Estado de New Hampshire, e Susana Martinez, a governadora do Novo México, porque ambas possuem menos de dois anos de experiência política em nível estadual e as similaridades em relação à escolha de Palin provavelmente fariam com que isso se transformasse, desde o início, na manchete dominante dos noticiários.

E é também improvável que, devido a questões similares, Romney opte por Marco Rubio, da Flórida, um político muito popular entre a direita norte-americana e os hispânicos. Rubio tem pouca experiência e é relativamente novo no cenário político nacional. E ainda que as várias polêmicas envolvendo o seu passado --relativas a seus gastos com o seu cartão de crédito funcional da Flórida, à forma como o seu website descreveu a fuga dos seus pais de Cuba e à sua amizade com um parlamentar da Flórida que está sendo investigado pelo fisco norte-americano-- provavelmente não passem de falsos escândalos, há uma quantidade suficiente delas para fazer com que o comitê de campanha republicano tema uma repetição das dores de cabeça enfrentadas pela chapa de McCain. 

A lembrança da forma como o estrelismo de Sarah Palin tendeu a eclipsar a imagem de McCain, mesmo quando ela agia de forma mais convencional, provavelmente reduziu o apetite de Romney pela escolha de uma figura temperamental e com jeito de celebridade. Por isso será muito difícil que ele escolha o governador de Nova Jersey, Chris Christie, que em outras circunstâncias teria sido uma opção óbvia, e é ainda mais improvável que Romney opte pelo perpetuamente subestimado (embora não pelos veteranos da campanha de Romney de 2008) Mike Huckabee, o ex-governador de Arkansas, que seria um nome interessante a se cogitar.

Mas todos esses nomes podem ser descartados, assim como o de outros candidatos implausíveis, como a ex-secretária de Estado Condoleezza Rice (cuja escolha provocaria dois meses de discussões e brigas em relação à questão do aborto e à política externa da era Bush). Resta então o senso comum, que faz com que a lista se reduza a apenas quatro nomes: Tim Pawlenty, ex-governador de Minnesota, Rob Portman, senador por Ohio, Bobby Jindal, governador da Luisiana, e Paul Ryan, deputado federal por Wisconsin.

Desses quatro, Pawlenty e Portman são as opções que variam de cautelosas a entediantes, e Ryan e Jindal são as mais jovens, intelectuais e arriscadas. Mas Ryan seria provavelmente uma escolha particularmente arriscada pelo fato de ele encarnar o compromisso do Partido Republicano com as reformas de programas sociais, um compromisso que a campanha de Obama deverá enfatizar durante todo o outono norte-americano.

É claro que há quem diga que valeria a pena correr tal risco, já que Romney será de qualquer maneira atacado devido à sua posição em relação ao programa Medicare, e Ryan é um defensor da posição conservadora que possui um talento singular. Mas tudo o que temos visto até o momento na campanha de Romney indica que os responsáveis por ela estão tomando muito cuidado para que não se diga ou faça alguma coisa que possa fortalecer a argumentação de Obama ou criar complicações para a estratégia quase obsessiva dos republicanos de se concentrar na economia. Portanto, faz sentido acreditar que Ryan não tem muita chance de ser o escolhido.

Se Ryan está demasiadamente vinculado a uma argumentação específica da era Obama para ser o favorito, Pawlenty está provavelmente associado demais à sua outrora promissora campanha presidencial. Este político de Minnesota deveria representar o maior desafio do partido para a candidatura de Romney, mas sua campanha foi estilisticamente fraca e substantivamente anêmica antes mesmo de Pawlenty ter ficado famoso por ter recuado de um confronto público com o próprio Romney.

O ponto positivo em relação a Pawlenty é o fato de que ele seria capaz de inserir um toque de simplicidade e um estilo populista em uma candidatura que atualmente carece de ambos os fatores. Mas essa argumentação foi criticamente abalada pelo desempenho do governador de Minnesota nas primárias do outono passado. Um populista que provoca tão pouco entusiasmo por parte dos eleitores reais e que desiste antes mesmo da primeira votação provavelmente não seria o homem certo para fazer com que aumentasse o número de votos em Romney junto aos operários de Ohio e Michigan. E, sem tal qualificação, a argumentação pela escolha de Pawlenty praticamente se evapora.

Assim, restariam Portman e Jindal. Assim como Ryan, ambos passariam facilmente no teste para determinar se eles poderiam ser presidentes. Os dois contam com currículos notáveis (e, no caso de Jindal, absurdamente notável: aos 24 anos de idade ele já era diretor do Departamento de Saúde e Hospitais do Estado da Luisiana) e uma credibilidade política instantânea. Da mesma forma que Pawlenty, ambos têm experiência em disputar e vencer eleições estaduais em lugares que nem sempre elegem candidatos republicanos.

Mas não há dúvida de que um metodista branco do meio-oeste norte-americano como Portman seria uma opção mais segura --na verdade, tão segura que o nome dele provavelmente desapareceria dos noticiários assim que fosse escolhido. Por outro lado, Jindal daria à imprensa todos os motivos para se fixar na sua pessoa: a sua juventude, a sua etnia, o seu físico franzino, o seu histórico religioso (ele converteu-se do hinduísmo para o catolicismo) e, é claro, as incontáveis e interessantes histórias sobre ele que circulam pelo cenário político da Luisiana.

Em outras palavras, Jindal não é nenhuma Sarah Palin, mas ele é aquele tipo de pessoa que só se escolhe para integrar uma chapa presidencial quando se está disposto a aceitar um pouco mais de risco em troca da possibilidade de um pouco mais de benefício. Como pessoa que acredita que neste momento Romney está agindo de forma excessivamente cautelosa, eu tendo a achar que ele deveria pensar seriamente na dinâmica extra que a escolha de Jindal poderia proporcionar à sua campanha. Mas, como indivíduo que está também convencido de que o comitê de campanha de Romney está plenamente satisfeito em almejar apenas uma maioria mínima de 51% dos votos, eu tendo a acreditar que o republicano usará uma estratégia insanamente segura e optará por Portman.

E, como jornalista que deseja desesperadamente que algo de inesperado ocorra nesta campanha longa e sombria, eu ficaria deleitado se Romney fizesse com que a minha análise soasse como uma tolice e demonstrasse que é capaz de realmente nos surpreender.

(Ross Douthat é colunista do “New York Times”)