Viagens do prefeito de Nova York provocam críticas nos EUA
Um comício na escadaria do Capitólio federal. Discursos para as bases em Iowa e Wisconsin. Viagens políticas pelo interior, pagas por dinheiro privado, e um evento para arrecadação de fundos no Vale do Silício promovido por magnatas de tecnologia, com entradas chegando a US$ 10 mil cada.
Clinton? Rubio? Bush?
Não. De Blasio.
Após 16 meses como prefeito de Nova York, Bill de Blasio parece determinado a escapar dos limites de seu emprego e ajudar a moldar o futuro da política nacional –apesar de ficar exposto às críticas de não estar priorizando os problemas da cidade.
Nesta semana, De Blasio, um democrata, passará dois dias em Washington pressionando os legisladores federais a inclinarem suas políticas à esquerda. Dali ele irá para a Califórnia, onde falará sobre desigualdade econômica e levantará dinheiro para seu esforço nacional em uma recepção privada em San Francisco, tendo o ex-presidente do Facebook, Sean Parker, como coanfitrião.
Quando De Blasio retornar, ele terá viajado fora de Nova York em viagens políticas por pelo menos parte de 10 dos últimos 31 dias. (Some férias em Porto Rico e as visitas à universidades com seu filho, e o prefeito terá passado cerca de um terço de abril e maio na estrada.)
Os assessores do prefeito, que defendem suas viagens, argumentam que seus esforços federais e municipais estão interligados, e apontam os esforços de De Blasio em questões como habitação e educação como sinais de que ele permanece focado na cidade.
Mesmo assim, De Blasio está buscando suas atividades extracurriculares muito cedo como prefeito. E às vezes ele corre o risco de soar como um forasteiro, avaliando seu eleitorado de longe.
"Muita gente fora de Nova York entende o que aconteceu no primeiro ano de Nova York melhor do que a população de Nova York", disse De Blasio em um perfil na revista "Rolling Stone", referindo-se ao primeiro ano de seu mandato. "Mas estou convencido de que algo muito especial aconteceu aqui."
Charge
O comentário gerou uma charge no jornal "The Daily News", onde o prefeito aparece com um balão gigante no lugar da cabeça, flutuando para longe de seu corpo insignificante. "Alerta", diz a legenda. "Não infle demais."
Os assessores de Di Blasio disseram que seu comentário foi mal interpretado, dizendo que o prefeito quis traçar uma distinção entre as preocupações dos tabloides de Nova York e o que ele considera suas maiores realizações, como o início de um programa pré-escolar gratuito para 53 mil alunos, assim como um programa de carteira de identidade municipal.
"Ele está usando todas as ferramentas que dispõe como prefeito de Nova York para combater a questão principal de nosso tempo, que é a desigualdade de renda", disse John Del Cecato, um consultor político que está ajudando a supervisionar as viagens de De Blasio.
"Mas ele sabe que há um limite para o que um prefeito pode fazer por conta própria", acrescentou Del Cecato, notando que as viagens do prefeito visavam ajudar a garantir cooperação federal para as reformas que ele deseja implantar em Nova York. "Ele realmente sente que é uma obrigação para com seus eleitores, para 8,4 milhões de pessoas, ajudar a pressionar o governo federal a fazer sua parte."
Mas em casa, De Blasio mostra sinais de tédio: ao ser obrigado a apresentar um longo orçamento municipal na semana passada, ele brincou com os repórteres que dirigir para Las Vegas era "uma perspectiva atraente à medida que esta coletiva de imprensa vai passando".
Vontade de viajar entre prefeitos não é novidade: os antecessores de De Blasio cogitaram candidaturas presidenciais e campanhas nacionais para causas como controle de armas.
O ex-prefeito Michael R. Bloomberg, um independente político, tentou se projetar nacionalmente, pedindo a outras cidades para adotarem sua proibição ao fumo e liderando uma coalizão para acabar com o tráfico de armas; ele também cogitou concorrer à presidência, apesar dessas atividades terem ocorrido bem depois de seu primeiro mandato. Bloomberg também viajava com frequência às Bermudas.
Rudolph W. Giuliani, um republicano, concorreu ao Senado federal no final de seu mandato como prefeito. John V. Lindsay, um republicano que posteriormente trocou de partido, foi pré-candidato à presidência no final de seu segundo mandato.
"É preciso amarrá-los ao mastro, como Odisseu", disse Gordon J. Davis, um assessor sênior de Lindsay e ex-comissário dos parques municipais. Os prefeitos de Nova York, ele acrescentou, podem considerar a sedução da fama "intoxicante".
Porta-voz nacional
Mas Davis, que serviu como redator de discursos da campanha presidencial de Lindsay, disse acreditar que o trabalho exige apontar um holofote para as questões urbanas.
"É a obrigação do prefeito da cidade de Nova York ser porta-voz em questões nacionais? Absolutamente, faz parte do trabalho", disse Davis. "Podem existir algumas questões de estilo sobre quando fazê-lo, como fazê-lo, mas acho que é perfeitamente apropriado."
De Blasio nega quaisquer ambições presidenciais –pelo menos antes de sua luta pela reeleição em 2017– mas ele está abraçando o papel de porta-voz nacional. O perfil de sete páginas na "Rolling Stone", publicado na semana passada, foi parte de uma turnê promocional que incluiu uma entrevista para a "MSNBC" e um artigo de opinião sobre políticas federais no "The Washington Post", em coautoria com a senadora Elizabeth Warren, democrata de Massachusetts.
Chirlane McCray, a esposa do prefeito, também está cortejando uma plateia nacional, falando na "National Public Radio" e publicando um ensaio sobre o Dia das Mães na revista "Time".
George Arzt, um antigo assessor do ex-prefeito Edward I. Koch, um democrata, lembrou que as ambições presidenciais de Lindsay foram prejudicadas quando um democrata do Brooklyn exigiu que o prefeito encerrasse suas viagens com um comentário muito divulgado: "Melhor voltar para casa Pequena Sabá".
"É extremamente difícil ficar fora da cidade por um número significativo de dias e ao mesmo tempo dizer aos moradores da cidade que você está no comando", disse Arzt. Ele lembrou que Koch, que concorreu ao governo estadual em seu segundo mandato, raramente passava uma noite fora da Mansão Gracie por temer que algum problema pudesse ocorrer.
Koch tinha um ditado, lembrou Arzt: "Se um pardal morrer de enfarte em algum lugar desta cidade, vai ser minha culpa"
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