Topo

Adoráveis, pandas vermelhos são ameaçados por desmatamento e doenças

Rusty, um panda vermelho que escapou de um zoológico de Washington e hoje está no Instituto Smithsoniano de Biologia da Conservação - Drew Angerer/The New York Times
Rusty, um panda vermelho que escapou de um zoológico de Washington e hoje está no Instituto Smithsoniano de Biologia da Conservação Imagem: Drew Angerer/The New York Times

James Gorman

24/08/2015 06h00

Os cinco filhotes de panda vermelho que estão em berços parecidos com caixas no Instituto Smithsoniano de Biologia da Conservação, sonolentos e de pernas bambas, tomam leite na mamadeira. Eles têm máscaras de bandido e uma pelagem grossa e cheia, e fazem barulhos que parecem guinchos suaves e um som chamado de "soprar-grasnar", que soa como... um sopro-grasnido.

Eles são cercados de sorrisos bobos quando são retirados dos berços e alimentados – sorrisos largos, involuntários e irreprimíveis de orelha a orelha. Ninguém – cientista, repórter ou fotógrafo – é imune ao reflexo de sorrir para o bebê panda.

A literatura científica reflete o apelo do panda vermelho. Frédéric Cuvier, que publicou a primeira descrição científica ocidental do animal em 1825, considerou-o "verdadeiramente o mamífero mais bonito que existe". Uma das maiores autoridades modernas, Angela Glatston, em um livro que ela editou sobre a biologia do panda vermelho, descreveu o animal como “extravagantemente coberto de castanho, chocolate e creme", chamando-o de "uma criatura de grande beleza e charme”.

E, no entanto, embora eles inspirem afeto, e marquem presença em alguns filmes (o mestre de "Kung Fu Panda") e na internet (em montes de vídeos e como o avatar de @darth, um perfil popular do Twitter), eles são muito menos conhecidos e compreendidos do que outro panda, o preto e branco gigante.

E eles estão em apuros. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), que avalia o estado das populações selvagens de animais, estima que cerca de 10 mil vivem em estado selvagem, em duas subespécies, todos nas encostas das montanhas de uma estreita faixa que vai do oeste da China ao Nepal. Eles estão ameaçados agora pelo desmatamento e pelas doenças, e em breve pelas mudanças climáticas.

Glatston, que recentemente se aposentou no Rotterdam Zoo, coordena o programa global de gestão de espécie para os pandas vermelhos da Associação Mundial de Zoológicos e Aquários. Ela disse que os zoológicos de todo o mundo, fora da China, têm cerca de 500 pandas vermelhos, que se reproduzem para tentar manter uma população cativa como um paliativo contra as ameaças aos pandas selvagens. Os pandas criados em cativeiro poderiam, segundo a teoria, ser reintroduzidos na natureza se necessário.

E esses são os pandas que os investigadores estudam, em grande parte, porque é muito difícil observá-los na natureza. "Eles são animais reservados", diz Elizabeth Freeman, uma bióloga da conservação da Universidade George Mason e pesquisadora associada do instituto Smithsoniano.

Os pesquisadores esperam que novas descobertas sobre o comportamento, a saúde e a biologia reprodutiva dos pandas vermelhos ajude os programas dos zoológicos e revelem algo sobre os pandas selvagens. "Nós só queremos responder a perguntas muito básicas", disse ela.

Os pandas vermelhos têm cerca de 60 centímetros de altura quando adultos, sem contar sua cauda peluda e listrada. Eles são adaptados ao clima frio; até mesmo a sola de seus pés é coberta de pelos.

Eles estão listados como uma espécie vulnerável pela IUCN, embora alguns cientistas estejam pressionando para classificá-los como ameaçados de extinção, a próxima etapa acima.

Eles vivem em florestas mistas com uma vegetação rasteira de bambu, a uma altitude de 1.400 metros a 4.570 metros, disse Freeman – um nicho ecológico limitado. Como os pandas gigantes, eles se alimentam principalmente de bambu, embora aparentemente complementem a dieta com ovos, pequenos pássaros e insetos.

Panda vermelho é tratado no Instituto Smithsoniano de Biologia da Conservação - Drew Angerer/The New York Times - Drew Angerer/The New York Times
Panda vermelho é tratado no Instituto Smithsoniano
Imagem: Drew Angerer/The New York Times

O Instituto Smithsoniano abriga a maior colônia de pandas vermelhos da América do Norte – 17, incluindo os seis filhotes desta temporada, embora o número oscile à medida que alguns pandas jovens vão para outros zoológicos. Os adultos vivem em jaulas de teto alto e arqueado, com ninhos que podem ser refrigerados durante o tempo quente.

Os pesquisadores estão colaborando em estudos sobre a saúde e o comportamento dos pandas com uma instituição em Chengdu, China, que tem cerca de 100 animais da espécie, e também abriga pandas gigantes.

Um dos problemas para manter as populações é a reprodução em cativeiro. Apenas cerca de metade dos filhotes sobrevivem, e pesquisadores dizem que é provavelmente porque as mães não fornecem leite ou cuidados suficientes para os filhotes. Ninguém sabe se problemas semelhantes existem na natureza, disse Freeman.

Ken Lang, um biólogo supervisor no Smithsoniano, que cuida dos filhotes com Jessica Kordell, um tratador e aluno de pós-graduação de Freeman na George Mason, disse que os filhotes tratados com mamadeira vão bem.

"Eles vão se reproduzir", disse ele. "Levam uma vida bem sucedida." Eles são muito mais lentos do que os cães ou gatos para se desenvolver, disse ele, levando cerca de quatro meses para se virar por conta própria.

Freeman e sua colega Copper Aitken-Palmer, veterinária-chefe do Instituto Smithsoniano de Biologia da Conservação, estão trabalhando na China para fazer um levantamento da saúde dos pandas e estudar seu comportamento.

Aitken-Palmer, que também trabalhou com pandas gigantes, disse que os resultados preliminares mostraram que a doença dentária é um problema, bem como as caudas fraturadas – talvez por causa da agressividade entre os animais – e algumas alterações inexplicáveis nos níveis de vitaminas e minerais.

"É difícil dizer o que é normal", diz ela.

Nesta primavera, Freeman apresentou resultados na reunião da Sociedade de Comportamento Animal em Anchorage, Alaska, que confirmaram que os pandas vermelhos preferem viver sozinhos. Viver socialmente não é necessariamente uma coisa boa, como é para muitos outros animais.

Pandas vermelhos no ambiente selvagem enfrentam ameaças por causa da expansão da população humana, diz Glatston, na forma de perda de habitat e doenças, principalmente a cinomose dos cães domésticos, à qual eles são muito suscetíveis.

Há alguns esforços de conservação na China, mas a organização de conservação ocidental dedicada especificamente ao animal é a Red Panda Network, uma pequena organização sem fins lucrativos com escritórios em Katmandu, Nepal, e em San Francisco, que trabalha para proteger a população dos animais no Nepal. Glatston está no conselho.

Com um total de cerca de 700 membros, uma equipe de seis e um número de zoológicos que doam dinheiro, a rede está trabalhando em várias frentes. Nancy Whelan, diretora de desenvolvimento, disse que o grupo criou um programa de guardas florestais que paga 54 moradores locais para monitorarem as populações de panda vermelho e suas ameaças potenciais.

Eles uniram forças com os comitês dos vilarejos, que são fundamentais para administrar as chamadas florestas comunitárias. Eles estão trabalhando para produzir fogões que usam menos combustível para combater o desmatamento.

E, em conjunto com organizações locais, a rede está a apoiando a criação de uma floresta protegida em um corredor de vida selvagem no leste do Nepal, chamado de Floresta Protegida do Panda Vermelho Panchthar-Ilam-Taplejung.

"Da população panda vermelho do Nepal, 25% se movimenta neste corredor", diz Whelan.

Parte da perda de habitat, no entanto, pode estar fora do controle local.

"Eu acho que mais para frente o que pode realmente acabar com eles é a mudança climática", disse Freeman. "Porque eles estão em um pequeno nicho, no Himalaia, e à medida que a mudança climática aquece essa região e faz com que a população se mude cada vez para altitudes maiores, eles vão perder habitat provavelmente mais rápido do que podem se adaptar às mudanças climáticas.”

Tradução: Eloise De Vylder