Gilmarpalooza e julgamento da maconha causam climão entre ministros do STF
Apesar de ter arrastado a maioria do STF (Supremo Tribunal Federal) para Lisboa, o evento organizado por Gilmar Mendes é alvo de críticas de alguns ministros. Em caráter reservado, integrantes da Corte torcem o nariz para o Gilmarpalooza, como ficou popularmente conhecido o Fórum de Lisboa.
Observação relevante: nos anos anteriores, o evento se chamava Fórum Jurídico de Lisboa. A edição de 2024 conta com tantos protagonistas da política nacional que os organizadores resolveram deixar o título mais abrangente.
Parte do incômodo de uma ala do STF é causado justamente por esse motivo e pela proporção que tomou o fórum, um grande encontro de integrantes dos três Poderes com empresários e advogados representando variados interesses e com uma intensa agenda de almoços e jantares paralelos ao evento principal para tentar atrair autoridades.
Segundo interlocutores do ministro André Mendonça, ele declinou do convite de Mendes porque prefere comparecer a eventos mais restritos ao mundo acadêmico do direito. O ministro é professor na Universidade de Salamanca, uma das mais tradicionais da Espanha e onde ele fez seu doutorado.
A reação mais contundente veio de Edson Fachin. Apesar de não ter mencionado o evento diretamente, o ministro recomendou "parcimônia, comedimento e compostura" aos membros do Judiciário. "Abdicar dos limites é um convite para pular do abismo institucional", disse Fachin em uma audiência realizada na última sexta-feira (28).
A cisão já tinha se instalado na Corte na semana passada, mas por outro motivo: a decisão de descriminalizar o porte de maconha para uso pessoal. Depois de um julgamento que deixou o plenário tenso, seis dos 11 ministros embarcaram rumo a Lisboa.
O evento de Mendes acabou provocando o encerramento antecipado do semestre de trabalho no Supremo, o que também gerou incômodo para alguns ministros. Na sexta-feira (28), o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgou a convocação de sessão extraordinária para segunda-feira (1º), quando boa parte dos ministros do STF e do STJ (Superior Tribunal de Justiça) já estavam em Portugal. O TSE é formado por três ministros do STF, dois do STJ e dois vindos da advocacia.
A presidente do TSE, Cármen Lúcia, que também integra o STF, tem recomendado aos colegas que atuem presencialmente no período preparatório para as eleições municipais de outubro. André Mendonça e Kassio Nunes Marques, que são das duas Cortes, participaram presencialmente da sessão de ontem. Na turma que não quis ir a Lisboa estão Mendonça, Nunes Marques, Fachin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.
Coincidentemente, parte desse grupo colaborou com as discussões acirradas durante o julgamento sobre descriminalização do porte de maconha. Fux e Mendonça foram os que mais externaram incômodo com o fato de o STF regulamentar o uso de drogas —um tema que, em tese, seria atribuição do Congresso Nacional. Mendonça chegou a bater boca com o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, durante o julgamento e afirmou que a Corte estava "passando por cima do legislador".
Fux, por sua vez, afirmou durante a sessão de terça-feira (25) que "o Brasil não tem um governo de juízes" e que, "em um Estado Democrático, a instância maior é o Parlamento", em seu voto durante o julgamento. Ele defendeu a importância da autocontenção do Judiciário.
Diante da reclamação dos colegas sobre a antecipação do fim do semestre, Barroso, que participou do Fórum de Lisboa, convocou sessão extraordinária para ontem. Normalmente, o presidente do STF faz um balanço das atividades do tribunal no semestre. Desta vez, a apresentação do relatório foi feita em ambiente virtual, sem a reunião dos ministros.
Deixe seu comentário