Quem pegou a mão de Lincoln? Roubo de peça surpreende polícia e museu em Illinois
Alguém roubou a mão de Abraham Lincoln.
O crime não teve testemunhas. Não há suspeitos. A polícia nem sequer sabe ao certo quando se deu o desaparecimento.
O que se sabe é que, pelo menos desde o dia 11 de dezembro, uma escultura de gesso da mão do 16º presidente, orgulhosamente exibida por anos pelo Museu do Condado de Kankakee, sumiu de seu pedestal.
Qualquer roubo de arte causaria espanto em Kankakee, uma cidade de classe trabalhadora que fica uma hora de carro ao sul de Chicago, mas por causa de sua ligação com Lincoln, a perda desta escultura foi particularmente desconcertante.
Mais de 150 anos desde que o ex-deputado de Illinois ascendeu à presidência, Lincoln permanece onipresente no Estado. Seu rosto está nas placas dos automóveis. Illinois se autodenomina a “Terra de Lincoln”. E ao longo da rodovia interestadual, perto da saída Kankakee, há uma estátua gigante de Abe no estacionamento de uma empresa de aluguel de equipamentos.
“Para nós, Lincoln é um tesouro local”, disse o chefe de polícia de Kankakee, Larry Regnier, cujo departamento está investigando o roubo. Até agora, segundo Regnier, há poucas pistas promissoras.
Os funcionários do museu achavam que o desfalque era uma brincadeira, e que a escultura em gesso ressurgiria em poucos dias. A polícia esperava que alguém pudesse fornecer informações sobre o roubo depois de divulgá-lo em um post no Facebook, com fotografias do objeto e a descrição: aproximadamente “do tamanho de um presunto 4-5 kg”. O jornal local, “The Daily Journal”, publicou um editorial pedindo que o ladrão se apresentasse.
“Somos abençoados por termos um museu tão bom, com um patrimônio impressionante”, disse o editorial, “mas a coleção não está completa sem as mãos de Lincoln".
A mão foi feita por George Grey Barnard, um escultor que passou parte de sua infância em Kankakee, na época em que Lincoln foi assassinado, e cuja admiração por Lincoln era um tema recorrente em sua arte. A escultura era exibida junto com outras representações de Lincoln em uma ala do museu histórico construída especificamente para mostrar o trabalho de Barnard.
Connie Licon, diretora do museu, disse que a escultura da mão estava em exibição desde pelo menos 1991. Este foi o primeiro roubo de arte do qual se lembra em mais de 20 anos no museu.
“Nós ficamos arrasados. Fomos derrubados”, disse Licon, que foi alertada para o roubo por um zelador que percebeu o lugar vago na prateleira. “Somos um pequeno museu e simplesmente não adquirimos peças como esta.”
A ocorrência da polícia estima seu valor em US$ 5.000 (em torno de R$ 20.000), mas descreve a obra de arte como um objeto de valor “inestimável”.
“Não dá para colocar um valor sobre algo assim, porque não há mercado”, disse Jack Klasey, historiador local que é voluntário do museu há muitos anos.
O roubo ocorreu no início do mês mais movimentado do museu. Em dezembro, grupos de estudantes e outros passaram pelo museu --pelas esculturas de Barnard, homenagens aos heróis desportivos locais e artefatos relacionados a três pessoas nascidas no condado de Kankakee que governaram Illinois-- para admirar as árvores de Natal decoradas por grupos cívicos.
“Eu vi isso no jornal e pensei, ‘Quem iria entrar nesse pequeno museu e sair com aquela mão?’”, disse Trisha Campbell, que visitou o museu com seus colegas de trabalho dias após a descoberta do roubo para ver a Galeria de Árvores.
Além de revoltados, os visitantes do museu ficaram perplexos. “Eu acho que é meio louco”, disse Kelly Lambert, estudante universitário cuja tia trabalha no museu. “Por que alguém iria querer sair com uma mão falsa de Abraham Lincoln?”
Desde o roubo, Licon disse que os curadores retiraram da exposição outras peças pequenas de Barnard, temendo que também pudessem desaparecer. “Agora estamos paranoicos; estamos nos perguntando se essa pessoa vai voltar”, disse ela.
Há um precedente de roubo de itens que fazem referência a Lincoln, disse James Cornelius, curador da Biblioteca Presidencial e Museu Abraham Lincoln em Springfield, Illinois. Nas últimas décadas, houve denúncias de roubos de manuscritos e livros associados a Lincoln, disse Cornelius. E mais dramaticamente, na década de 1870, um bando de criminosos tentou roubar o corpo de Lincoln de seu túmulo em Springfield.
Muitos em Kankakee acreditam que o ladrão seja morador da cidade, e que o crime foi mais um impulso do que um assalto bem planejado.
Licon disse esperar que a mão ressurgisse em breve.
“O que faz as pessoas pensarem que o que é de outra pessoa pertence a elas?”, perguntou. “Simplesmente devolva o objeto discretamente. Basta colocá-lo em um saco e deixá-lo em algum lugar.”
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