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Norte-americana revela estupro no internato e vai à Justiça 18 anos depois

Campus da Emma Willard School, onde Kat Sullivan diz ter sido estuprada em 1998 Imagem: Reprodução

Lisa W. Foderaro

27/07/2016 06h00

Kat Sullivan decidiu vir a público sobre uma terrível noite ocorrida em um colégio particular de elite 18 anos atrás depois que uma colega, por muito tempo perturbada pelo episódio, a contatou.

Sullivan disse que naquela noite em 1998, na Emma Willard School, ela foi amarrada e amordaçada com sua própria calcinha no apartamento de um professor de história com quem ela estava envolvida em um relacionamento, e depois foi estuprada por via anal.

Mas igualmente dolorosa, disse Sullivan, foi a resposta dada na época pela diretoria da Emma Willard, um internato feminino de elite em Troy, Nova York, perto de Albany. Ela disse que quando contou aos diretores da escola, que sabiam do relacionamento, sobre o que acontecera, eles lhe disseram que ela poderia ou retirar-se ou ser expulsa. Eles a colocaram então no dia seguinte em um ônibus para Nova Orleans, onde uma amiga dela vivia.

A diretora da escola na época, Robin Robertson, “me disse que eu tinha duas alternativas porque eu não estava à altura de ser uma garota ou mulher da Emma Willard”, lembra Sullivan, hoje uma enfermeira pediátrica de 37 anos de Orlando, na Flórida, “e que eu era uma desgraça.”

Sullivan disse ter ficado traumatizada e confusa na ocasião do episódio, e não denunciou à polícia. Em abril, ela relatou o caso ao Departamento de Polícia de Troy. Como casos criminais envolvendo estupro no Estado de Nova York não prescrevem, o professor ainda podia ser processado.

As acusações contra o professor e a escola deram origem a um grupo de Facebook com mais de 1.200 membros e a hashtags como #IStandWithKat (“Estou com Kat”) nas mídias sociais. Quase 600 ex-alunas com idades entre 18 e 84 anos assinaram uma carta à administração listando uma dúzia de demandas, inclusive uma de que todos os funcionários deveriam passar por um treinamento obrigatório sobre agressões sexuais e má conduta.

A reportagem tentou contatar o Departamento de Polícia de Troy, bem como Robertson e o professor, mas sem sucesso.

A história de Sullivan é a mais recente de uma série de alegações de abusos sexuais contra internatos particulares. Acusações similares de estupro e molestamentos por ex-alunas contra professores e funcionários abalaram a Horace Mann na Cidade de Nova York, a Phillips Exeter Academy em New Hampshire e a St. George’s School em Rhode Island.

Sullivan, que disse ter ficado sem casa depois de chegar a Nova Orleans, contratou Roderick MacLeish, um advogado de várias das ex-alunas da St.George’s. MacLeish, cujos clientes incluem centenas de vítimas de abuso sexual de padres católicos romanos, também aparece no filme “Spotlight – Segredos Revelados”, que retrata a investigação de 2002 do “Boston Globe” sobre abusos sexuais cometidos pelo clero.

Diferentemente de outras escolas particulares, a Emma Willard, fundada em 1814, foi alvo de uma acusação pública, por parte de Sullivan, ainda que diretores tenham reconhecido “incidentes denunciados” dos anos 1970 e 1990 em cartas a ex-alunas.

Em meio à comoção despertada na internet entre ex-alunas, diretores das escolas disseram estar fazendo esforços para responder com sensibilidade. “Sentimos imensa compaixão e dor por qualquer sobrevivente de ataque sexual”, dizia uma declaração.

Em uma carta enviada para a escola, MacLeish relatou acontecimentos que ocorreram antes e depois do estupro. A carta dizia que logo depois de conhecer Sullivan, o professor começou a “prepará-la” para “favores sexuais”.

“Ela era uma estudante vulnerável em uma escola nova”, escreveu MacLeish, referindo-se à transferência de Sullivan no segundo ano do colegial, “e estava altamente suscetível a investidas predatórias por parte de uma figura de autoridade adulta”.

O professor deu a ela as chaves para sua sala e seu apartamento, e um membro do corpo docente a viu saindo de sua residência, de acordo com MacLeish.

Um grande sinal de alerta veio semanas depois do estupro, escreveu MacLeish. Sullivan havia imprimido e-mails sexualmente explícitos enviados pelo professor para ela, mas eles foram encontrados por estudantes que os entregaram para a diretoria, de acordo com MacLeish. Ele escreveu que simplesmente advertiram a Sullivan, que havia completado 18 anos, a “ter cuidado”.

Apesar da política da escola contra relacionamentos entre estudantes e professores, a única punição recebida pelo professor foi sua remoção como acompanhante de estudantes em uma viagem à Irlanda, segundo MacLeish. Isso enfureceu tanto o professor, disse MacLeish, que ele se tornou ainda mais agressivo sexualmente.

Na manhã após o estupro, escreveu MacLeish, Sullivan recebeu um telefonema enfurecido de uma ex-aluna com quem o professor também tinha um relacionamento. Uma colega de classe de Sullivan aparentemente havia contado à ex-estudante, então Sullivan foi até o quarto da colega de quarto e vandalizou alguns de seus pertences, segundo MacLeish. Logo depois, ainda sangrando por causa do ataque, Sullivan foi chamada por diretores da escola. Foi então que ela lhes contou que havia sido estuprada.

“Em momento algum nenhum dos adultos na sala se ofereceu para prestar assistência médica a essa vítima de estupro ou a encaminhou para um psicólogo ou para a polícia”, escreveu MacLeish na carta para Susan Groesbeck, diretora interina da escola.

Em vez de entregar Sullivan aos cuidados de seus pais na Georgia, os diretores da escola não lhes contaram sobre o episódio, segundo MacLeish, e lhe disseram que ela havia cometido vandalismo e decidiu deixar a escola.

O professor que teria estuprado Sullivan e um segundo professor foram demitidos duas semanas depois da saída de Sullivan. Em uma carta enviada à comunidade escolar, Robertson, diretora da escola na época, escreveu que os professores haviam “ultrapassado os limites cuidadosamente definidos e articulados para a interação entre professores e alunos”.

Sullivan disse que sua decisão de vir a público, depois que a ex-amiga a contatou, foi difícil, mas empoderadora —ainda que ela hesite em usar a palavra.

“’Empoderada’ é um dos slogans da Emma Willard, então não tenho certeza de se posso me identificar com isso”, ela disse. “Mas consegui encontrar minha voz. Há muito disso que é doloroso para mim. Há coisas que me envergonham. Mas estou acima disso, essa história precisa ser contada.”

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AFP

Tradutor: UOL

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