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Duas mulheres dizem que Trump as tocou inapropriadamente

Foto de Jessica Leeds de 1978 NYT - Arquivo pessoal/ Jessica Leeds via The New York Times - Arquivo pessoal/ Jessica Leeds via The New York Times
Foto de Jessica Leeds de 1978
Imagem: Arquivo pessoal/ Jessica Leeds via The New York Times

Megan Twohey e Michael Barbaro*

13/10/2016 11h31

Donald Trump foi enfático no segundo debate presidencial: sim, ele havia se gabado de beijar mulheres sem permissão e tocá-las na região genital. Mas ele nunca fez realmente isso, afirmou.

"Não", declarou Trump ao ser interrogado na noite de domingo (9). "Não fiz."

Naquele momento, sentada em sua casa em Manhattan, Jessica Leeds, 74, sentiu que ele estava mentindo descaradamente. "Tive vontade de quebrar a televisão", disse ela em uma entrevista em seu apartamento.

Jessica Leeds diz ter sido assediada por Donald Trump durante um voo para Nova York na década de 1980 - George Etheredge/The New York Times - George Etheredge/The New York Times
Jessica Leeds diz ter sido assediada por Trump durante um voo na década de 1980
Imagem: George Etheredge/The New York Times

Mais de 30 anos atrás, quando era uma executiva itinerante em uma companhia de papel, disse Leeds, ela sentou-se ao lado de Trump na primeira classe em um voo para Nova York. Eles não se conheciam.

Cerca de 45 minutos após a decolagem, lembrou Leeds, Trump levantou o apoio para o braço e começou a tocá-la. Segundo ela, Trump apertou seus seios e tentou enfiar a mão por baixo de sua saia.

"Parecia um polvo", disse Leeds. "As mãos dele estavam em todo lugar."

Ela fugiu para o fundo do avião. "Foi um ataque", afirmou.

Ela contou a história para pelo menos quatro pessoas próximas, que também falaram com "The New York Times".

A afirmação de Trump de que suas palavras rudes nunca se transformaram em atos causou revolta semelhante em outra mulher que assistia ao debate no domingo em Ohio: Rachel Crooks.

Ela era uma recepcionista de 22 anos no Bayrock Group, uma companhia de investimentos imobiliários sediada na Trump Tower, em Manhattan, quando encontrou Trump diante do elevador no prédio em uma manhã de 2005.

Sabendo que sua empresa tinha negócios com Trump, ela se apresentou. Quando se cumprimentaram, Trump não quis soltar sua mão, disse Crooks. E começou a beijá-la no rosto. Depois ele a beijou "diretamente na boca", segundo ela.

Não pareceu um acidente, afirmou Crooks, e sim uma violação.

"Foi tão inadequado", lembrou em uma entrevista. "Fiquei muito aborrecida por ele ter pensado que eu era tão insignificante que ele podia fazer aquilo."

Abalada, a moça voltou para sua mesa e ligou para sua irmã, Brianne Webb, na pequena cidade de Ohio onde elas cresceram, e lhe contou o que tinha acontecido.

"Ela estava muito chateada com isso", disse Webb, que lembra que pediu detalhes a sua irmã. "Sendo de uma cidade de 1.600 habitantes, e ingênua, eu disse 'Você tem certeza de que ele não quis beijá-la no rosto e errou?' E ela respondeu: 'Não, ele me beijou na boca'. Eu pensei: 'Isso não é normal'."

No período desde que a campanha de Trump foi sacudida por uma gravação de 2005 que o apanhou gabando-se de se impor às mulheres, ele insistiu, assim como seus assessores, que foi simplesmente uma bravata machista. "São apenas palavras", disse ele várias vezes.

E sua esperança de salvar sua candidatura depende fortemente de os eleitores acreditarem ou não nessa afirmação.

Não devem acreditar, segundo Leeds e Crooks, cujas histórias nunca haviam sido divulgadas. E seus relatos repetem os de outras mulheres que já se manifestaram, como Temple Taggart, um ex-Miss Utah, segundo a qual Trump a beijou na boca mais de uma vez quando ela era candidata a miss, aos 21 anos.

Em uma entrevista por telefone na noite de terça-feira (11), Trump, muito agitado, negou as denúncias de todas essas mulheres.

"Nada disso jamais aconteceu", afirmou Trump, que começou a gritar com a repórter do "New York Times" que o questionava. Ele disse que o "Times" estava inventando as denúncias para prejudicá-lo e que ele processaria a empresa se as publicasse.

"Você é um ser humano nojento", disse ele à repórter quando ela o questionou sobre as declarações das mulheres.

Perguntado se alguma vez havia praticado a bolinação ou os beijos que descreveu na gravação, Trump mais uma vez foi insistente: "Eu não faço isso. Não faço isso. Foi conversa de vestiário".

Para as mulheres que contaram suas histórias ao "Times", porém, a gravação foi mais que isso. Embora perturbadora, ofereceu-lhes uma espécie de confirmação, segundo disseram.

Foi o que ocorreu com Taggart. A descrição feita por Trump de como ele beija as mulheres bonitas sem ser convidado combinou exatamente com o que ele lhe havia feito, disse ela.

"Eu simplesmente começo a beijá-las", diz Trump na fita. "É como um ímã. Apenas beijo. Não espero."

Crooks e Leeds nunca denunciaram esses fatos às autoridades, mas ambas contaram o que aconteceu para amigos e parentes. Crooks o fez imediatamente depois; Leeds descreveu o ocorrido a seus próximos mais recentemente, quando Trump se tornou mais visível na política e se candidatou a presidente.

Leeds tinha 38 anos na época e morava em Connecticut. Ela estava sentada na classe turística. Mas uma comissária de bordo a convidou para ocupar um assento vazio na primeira classe, disse ela. A poltrona era vizinha à de Trump, que ainda não possuía um jato particular, segundo os registros. Ele se apresentou e apertou a mão de Leeds. Eles trocaram gentilezas e Trump perguntou se ela era casada. Leeds contou que era divorciada.

Mais tarde, depois que as bandejas do jantar foram retiradas, segundo ela, Trump levantou o apoio para o braço, avançou para ela e começou a apalpá-la. Leeds disse que se encolheu. Rapidamente deixou a primeira classe e voltou à turística, relatou.

"Eu fiquei com raiva e abalada", lembrou ela, sentada no sofá de seu apartamento em Nova York na terça-feira.

Leeds não se queixou aos funcionários da companhia aérea na época, segundo disse, porque esses ataques machistas indesejados aconteceram durante todo o tempo em que ela trabalhou em negócios nos anos 1970 e início dos 1980. "Nós aceitamos isso durante anos", disse ela sobre essa conduta. "Diziam que era nossa culpa."

Ela lembrou que encontrou Trump em um evento beneficente em Nova York cerca de dois anos depois e disse que ele parecia se lembrar dela, insultando-a com um comentário rude.

Leeds havia praticamente esquecido o incidente no avião até o ano passado, quando a campanha presidencial de Trump ficou mais séria. Desde então, ela contou a um círculo cada vez maior de pessoas, inclusive seu filho, um sobrinho e duas amigas, os quais foram contatados pelo "Times".

Eles disseram que ficaram enojados com o que ouviram. "Aquilo me fez tremer", disse Linda Ross, uma vizinha e amiga que falou com Leeds sobre a interação há cerca de seis meses. Como vários amigos, Ross a encorajou a contar sua história à mídia. Leeds tinha resistido até o debate de domingo, a que assistiu ao lado de Ross.

Quando Trump negou ter atacado sexualmente qualquer mulher, em resposta a uma pergunta de Anderson Cooper, da CNN, Ross imediatamente olhou para Leeds, incrédula, segundo a amiga. "Agora nós sabemos que ele mentiu descaradamente", Ross lembra-se de ter dito.

Nos dias após o debate, Leeds narrou sua experiência em um e-mail ao "Times" e em uma série de entrevistas.

"O comportamento dele está profundamente embutido em seu caráter", escreveu Leeds na mensagem. "Aos que votariam nele, gostaria que refletissem sobre isso", acrescentou.

Para Crooks, o encontro com Trump foi ainda mais complicado pelo fato de que ela trabalhava em seu edifício e corria o risco de encontrá-lo de novo.

Algumas horas depois que Trump a beijou, Crooks voltou a seu apartamento no Brooklyn e contou tudo, chorando, ao seu namorado na época, Clint Hackenburg.

"Eu perguntei: 'Como foi o seu dia?'", lembrou Hackenburg. "Ela fez uma pausa de um segundo e começou a chorar histericamente."

Depois que Crooks descreveu sua experiência com Trump, ela e Hackenburg conversaram sobre o que deveriam fazer.

"Eu acho que mais perturbador do que o fato de ele beijá-la era que ela sentia que não podia fazer nada por causa da posição dele", disse Hackenburg. "Rachel tinha 22 anos e era secretária. Era seu primeiro emprego depois da faculdade. Lembro que ela disse: 'Não posso fazer nada com esse cara, porque ele é Donald Trump'."

Dias depois, segundo Crooks, Trump, que havia se casado recentemente com Melania, entrou no escritório da Bayrock e pediu seu número de telefone. Quando ela perguntou por que o queria, Trump lhe disse que pretendia passá-lo a sua agência de modelos. Crooks ficou desconfiada, mas cedeu por causa da influência de Trump em sua empresa. Ela nunca teve notícias da agência de modelos.

Durante o resto do ano em que trabalhou na Bayrock, ela fez questão de se esquivar toda vez que avistava Trump. Quando os funcionários da Bayrock foram convidados para a festa de Natal da Trump Organization, ela declinou, para evitar novos encontros com ele.

Mas o episódio a marcou mesmo depois que voltou para Ohio, onde trabalha hoje para uma universidade. Quando leu em uma reportagem do "Times" em maio sobre como o candidato republicano tratava as mulheres, ela ficou chocada com o relato de Taggart ser beijada na boca por Trump.

"Eu fiquei perturbada porque ele tinha feito o mesmo com outras pessoas, mas também foi um certo alívio saber que eu não era a única com quem havia acontecido", disse Crooks, que procurou o "Times" para contar sua história.

Tanto Leeds como Crooks dizem que apoiam Hillary Clinton para presidente, e Crooks fez contribuições de menos de US$ 200 a Hillary e ao presidente Barack Obama.

Crooks relutou inicialmente a narrar publicamente sua história, mas sentiu-se obrigada a compartilhar sua experiência.

"As pessoas devem saber", disse ela. "Esse comportamento é generalizado e é real", afirmou sobre Trump.

*Kitty Bennett colaborou na pesquisa.